CENTRO DE ALCOÓLICOS RECUPERADOS DO DISTRITO DE AVEIRO

Alcoolismo: causa de sofrimento para todos

 

 

O alcoolismo é uma doença que atinge centenas de milhares de pessoas no nosso País, causando sofrimento a todos: ao alcoólico e seus familiares, aos amigos e colegas de trabalho. Toda a sociedade, em geral, também é afectada por este drama que muitos consideram mais grave do que outras toxicodependências. No Distrito de Aveiro, há 120 mil alcoólicos, 80 mil dos quais a necessitarem de ajuda imediata. Quem nos garantiu estes dados foi o presidente da direcção do CARDA - Centro de Alcoólicos Recuperados do Distrito de Aveiro, Mário Soares, que criou esta IPSS em 1999, fundamentalmente para apoiar quem sofre por causa do vinho, directa ou indirectamente.
Mário Soares é um alcoólico recuperado e o principal dinamizador desta instituição, que já atendeu cerca de 500 doentes, estimando-se a taxa de sucesso em 65 por cento. Os alcoólicos são doentes e nunca deixam de o ser. Podem, no entanto, levar uma vida absolutamente normal, se se tornarem abstémios e se forem permanentemente ajudados por familiares e amigos. No dia em que tocarem na bebida, é certo e sabido que a doença regressa em força, garantiu-nos o presidente do CARDA. 

O Centro de Alcoólicos Recuperados, conhecedor desta verdade indesmentível, está preparado para ajudar os doentes que o procuram ou para ali são encaminhados pelas famílias ou amigos, Serviço Nacional de Saúde ou Segurança Social. Porém, presta este apoio apenas na medida das suas possibilidades, estando consciente de que o acompanhamento tem de ser feito antes, durante e depois do tratamento. 

Numa primeira fase, o atendimento e o tratamento psicológico são feitos na sede da instituição, com a preciosa colaboração do Médico de Família e dos familiares, que são, sem dúvida, um suporte indispensável em todas as fases. Em muitos casos, os alcoólicos são encaminhados para o Centro Regional de Alcoologia de Coimbra, sempre acompanhados pelo CARDA, onde são submetidos a exames e a cuidados médicos adequados. 

Depois, porque a doença não se cura, o apoio continua, passando posteriormente alguns doentes à situação de apoiantes dos que andam nas fases anteriores, através de encontros e em perfeita sintonia com as profissionais da instituição: uma Técnica do Serviço Social e uma Psicóloga.
O CARDA, apesar de receber comparticipações mensais da Segurança Social, de algumas autarquias e de sócios, necessita urgentemente de mais contributos económicos, do Governo e de outras entidades, para vencer o défice de 1000 euros que todos os meses inquieta a direcção. Ainda sonha com novo espaço, mais amplo e com outras comodidades, para oferecer melhores serviços aos muitos alcoólicos e seus familiares que procuram a instituição com bastante frequência, adiantou ao SOLIDARIEDADE Mário Soares, um alcoólico recuperado que não se cansa de lutar pela sua causa, que é a causa de dezenas de milhares de pessoas que um dia caíram nas malhas da bebida, necessitando, por isso, da atenção empenhada de toda a sociedade. 

O presidente do CARDA, sempre que pode, recomenda aos não alcoólicos o uso moderado do vinho na alimentação diária, enquanto condena o consumo de bebidas no intervalo das refeições ou em jejum, por toda a gente e em especial pelas mulheres grávidas ou em fase de amamentação. Ainda condena a oferta de vinhos a alcoólicos tratados. 
Recorda que a bebida em excesso provoca cirrose hepática, tuberculose pulmonar, cancro, acidentes de viação e no trabalho, suicídio e homicídio. Diz, por fim, que o álcool, mesmo em pequenas doses, altera a visão, reduz a capacidade reflexiva, perturba a atenção e o sentido crítico, e provoca o envelhecimento precoce. 

TESTEMUNHO 

Mário SoaresMário Soares quer ser feliz fazendo os outros felizes
Mário Soares é um "cagaréu" de 51 anos. Tornou-se alcoólico durante o período da guerra colonial, tendo feito a sua recuperação em 1994. Presentemente, além de operário fabril, é o presidente do CARDA. No livro que publicou, "RETRATOS da vida de um alcoólico", assume todo um passado que quase o ia destruindo. É um alcoólico recuperado que não se cansa de agradecer a quem o ajudou. "A minha grande homenagem vai para minha esposa e para a minha filha, pelo carinho com que sempre me trataram apesar dos maus tratos que sempre lhes dei. O homem que sou hoje a elas devo e fico eternamente grato", sublinhou. 

Reconhece que o serviço militar em Angola lhe alterou a sua personalidade e o levou a viver em permanente stresse, que procurou "afogar" com bebidas alcoólicas. Depois, bateu no "fundo", descarregando a sua ira, física e psicológica, na esposa e na filha. 

Com a bebida, acentuou-se a sua agressividade. Um dia, destruiu todo o recheio da casa, depois foi prejudicial no emprego, incompatibilizou-se com toda a gente, teve acidentes de viação e, cansado de tanto sofrimento, decidiu, em momentos de alguma lucidez, aceitar consultar um médico. Foi internado, tratado e acarinhado pela família.
No regresso a casa, encheu-se de coragem e foi visitar os lugares onde costumava beber. Resistiu e só bebeu café. Fez ainda terapia de grupo e sentiu então que queria ser feliz, fazendo também felizes os outros. 

Hoje, é o dinâmico presidente do CARDA e não tem complexos de falar do seu passado de alcoólico violento, que foi capaz de se tornar útil à sociedade. Afinal, o seu testemunho tem servido de exemplo para muitos que já seguem os seus conselhos.

Visite Pela Positiva, o blog de Fernando Martins, autor desta reportagem

 

 

Data de introdução: 2005-06-23



















editorial

NOVO CICLO E SECTOR SOCIAL SOLIDÁRIO

Pode não ser perfeito, mas nunca se encontrou nem certamente se encontrará melhor sistema do que aquele que dá a todas as cidadãs e a todos os cidadãos a oportunidade de se pronunciarem sobre o que querem para o seu próprio país e...

Não há inqueritos válidos.

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Em que estamos a falhar?
Evito fazer análise política nesta coluna, que entendo ser um espaço desenhado para a discussão de políticas públicas. Mas não há como contornar o...

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Criação de trabalho digno: um grande desafio à próxima legislatura
Enquanto escrevo este texto, está a decorrer o ato eleitoral. Como é óbvio, não sei qual o partido vencedor, nem quem assumirá o governo da nação e os...