A Amnistia Internacional alertou recentemente para a trágica situação em que vivem algumas populações da Nigéria, vítimas dos repetidos ataques do famigerado grupo radical islâmico Boko Haram. O primeiro líder deste grupo foi Mohamed Yussuf que morreu em combate, dando lugar a Abubakar Shekan, cuja sobrevivência é muito duvidosa nesta altura, mas que se revelou ainda mais fanático e cruel do que o seu antecessor.
Com o rapto de mais de duas centenas de jovens estudantes cristãs destinadas à escravatura, o grupo conseguiu a publicidade necessária para deixar o relativo anonimato jornalístico em que decorria a sua actividade terrorista, não obstante o número de vítimas de que já era responsável. A partir daí, tornou-se notícia frequente nos Meios de Comunicação Social, ou não tivessem os seus ataques provocado, desde o ano de 2009, cerca de 15.000 mortos. Mais chocante ainda é saber que o Boko Haram já organizou, desde então, no vizinho país dos Camarões, o rapto de mais de 1500 crianças de entre os oito e os doze anos, para servirem, entre outros objectivos, de escudos humanos nas suas investidas contra as populações ou contra as forças militares que os combatem.
A utilização das forças militares no combate ao Boko Haram é pois justificada, entre outra razões, para impedir que este grupo se transforme num estado dentro do estado e, sobretudo, para garantir o mínimo de segurança às populações que vivem nas zonas mais afectadas pela sua actividade. Neste cenário, os militares são, à partida, forças de protecção do povo. Só que a mesma Amnistia Internacional, que tem chamado a atenção para os crimes do Boko Haram, alertava também, no seu último comunicado, para os crimes que estarão a ser cometidos por elementos do próprio exército, acusados de comportamentos intoleráveis entre as populações que deviam proteger, e que se vêem assim encurraladas entre duas ameaças: a que vem dos jhiadistas e a que decorre daqueles junto dos quais buscam e deviam ter protecção. E, segundo a acusação da Amnistia Internacional, não estará em causa apenas o comportamento de soldados, mas também de alguns dos seus chefes, mesmo da alta patente. “Divisas nos ombros e sangue nas mãos”, como se podia ler num jornal, que perguntava ainda: quem nos protege dos protectores? Por outras palavras: quem protege as populações da Nigéria dos seus protectores? Quem vigia os vigilantes?
Esta pergunta já foi feita há bastante tempo, a propósito do comportamento das próprias forças destacadas pela ONU para algumas regiões do mundo, nomeadamente a África, com especial relevo para o Congo. A maioria dos soldados que integram essas forças não merecerá essas queixas, mas muito mal vai o mundo, quando os protectores se transformam em agressores.
António José da Silva
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