UDIPSS SETÚBAL

Queremos estar perto das instituições

Fernando Sousa é o presidente da União Distrital das IPSS de Setúbal desde o início no ano, uma associada intermédia da CNIS que congrega 130 instituições, um número que, nos últimos tempos, está em claro crescendo. Em Setúbal, as IPSS são cerca de 6% do PIB do distrito e um dos grandes empregadores da região.

SOLIDARIEDADE - Como carateriza o tecido que forma a UDIPSS Setúbal?
FERNANDO SOUSA - Há uma incidência muito grande na Península de Setúbal, onde há uma maior concentração populacional, mas depois temos o Litoral Alentejano, em que também há uma quantidade significativa de instituições e nos últimos tempos tem havido também um aumento significativo de adesões à UDIPSS. Até determinada altura sentiu-se muito a divisão territorial do rio Sado, porque de Almada até Odemira são 200 quilómetros e as pessoas sentiam-se longe e achavam que não valia a pena participarem. Nota-se que a tendência é para aumentar, porque as pessoas têm-nos contactado, consultando-nos e pedindo alguns esclarecimentos, afinal todo aquele trabalho importante de proximidade que para as Uniões é mais fácil, porque conhecem o terreno e as instituições e eles conhecem-nos com mais facilidade do que os dirigentes da CNIS. É óbvio que o presidente da CNIS é conhecido, mas o resto da estrutura não é tão bem conhecida.

Sente que há um despertar das instituições para a necessidade de pertencerem a uma estrutura que lhes dá voz e, no fundo, trabalha para elas?
Sinto que cada vez mais existe uma preocupação das instituições em estar junto das suas estruturas representativas, que tem dado grandes respostas às instituições. As IPSS hoje estão a viver momentos difíceis e estes fazem com que as pessoas queiram continuar e ter possibilidade de responder, mas também de quererem estar mais juntas para que a voz seja una. As instituições demonstram querer ser representadas pela União e acreditam que quando a União parte para uma apresentação de assuntos concretos há uma resposta. O veio mais direto será a União, mas nós temos tido sempre a preocupação de, quando há iniciativas da CNIS, fazer com que as pessoas participem. Quando é longe partilhamos o transporte entre todos, partilhamos as refeições e arranjamos sempre maneira de podermos ir e de os custos não serem muito individualizados. Por outro lado, notamos que, cada vez mais, há necessidade de a União sair mais e ir junto das instituições percorrendo o distrito. Desde que esta Direção assumiu a União já percorremos alguns milhares de quilómetros, visitamos as instituições, vamos lá quando convidados e estamos a praticar a descentralização. Por hábito fazemos uma reunião de Direção na sede e a outra num outro ponto do distrito. E nessas reuniões convidamos todas as instituições da zona para estar na reunião para apresentarem as suas questões e realizações para termos noção das realidades e da nossa representatividade. E já estivemos em Sines, no Barreiro, na Moita, em Alcácer do Sal…

Nesse sentido, como comenta a itinerância do Conselho Geral da CNIS, a que Setúbal aderiu logo no primeiro momento, recebendo inclusive a primeira reunião fora do local habitual, Fátima?
Quando fizemos esta nossa opção logo no arranque do mandato sentimos que era a necessidade e quando no primeiro Conselho Geral em que estivemos presentes e foi proposta pela Direção da CNIS esta descentralização ficámos extramente satisfeitos. Se é o que queremos para o distrito, também o gostaríamos de ter no País. Esta proximidade da CNIS junto dos distritos é visto com muito agrado, porque a CNIS para certas instituições estava ali em Fátima e na sede no Porto, mas com esta saída, e bem-haja quem teve a ideia, faz com que a CNIS tenha mais vida e esteja mais perto dos locais, pese embora tenha conhecimento dos problemas, mas vê e sente a realidade dos distritos. E isto também faz com que as Uniões se conheçam umas às outras e a realidade dos demais distritos e suas populações. Para nós foi uma honra muito grande termos recebido o Conselho Geral.

Como vê o papel do Poder Local no distrito de Setúbal em relação às IPSS?
Apesar de este não ser o momento ideal para as autarquias acolherem as competências que o Governo pretende endossar-lhes, a verdade é que existe, e tem existido, da parte das autarquias do distrito, dentro da sua capacidade e cada uma à sua dimensão, uma grande participação e colaboração com as instituições.

E como é a relação do CDSS com a União Distrital e, em última instância, com as IPSS?
Houve um desenvolvimento grande do número de equipamentos no distrito, porque também houve muitos programas como o PARES I e II, o POPH e outros e o Centro Distrital na altura desenvolveu tudo muito bem e trabalhou connosco. A diretora, a doutora Fátima Lopes, era uma pessoa muito irreverente, mas também muito exigente. No entanto, tinha alguma dificuldade de relacionamento, o que levou a que algumas situações não fossem tão bem encaradas. Com a mudança governamental, vem a doutora Ana Clara Birrento, que é muito curial e prestável, sempre disponível para conversar, mas com alguma dificuldade na relação com as instituições, porque há algumas coisas que, provavelmente serão ordens superiores, se vivem hoje nas instituições e que podem pô-las em causa. O relacionamento é curial, mas depois a prática é que não é, as ações dos serviços, muitas vezes, acabam por deixar as instituições desagradadas com o Centro Distrital. Por exemplo, não contestamos que há um desencontro de verbas relativas aos acordos de cooperação de 2006 a 2008, mas a questão é que para nós essa situação está prescrita. No entanto, e apesar de o senhor secretário de Estado já me ter dito que essa situação está ultrapassada e que as instituições nada têm que pagar, na realidade as instituições, ao contrário do que acontece com as Misericórdias e as Mutualidades, estão a receber os planos prestacionais de pagamento por exigência do Centro Distrital. E mais grave ainda é que quando colocámos esta situação à senhora diretora dissemos-lhe que queríamos ter um tratamento igual a todas as outras instituições e que, tudo aquilo a que se concluísse que as instituições tinham que pagar, nunca fosse feito através de uma dedução direta às comparticipações mensais, porque isso ia criar problemas às instituições. Nem isso sequer foi aceite… e vem do Porto, nem sequer é daqui de Setúbal. Isto está a criar um desconforto e dificuldades muito grandes às instituições.

Há uns anos a Península de Setúbal foi notícia pelas enormes e profundas dificuldades sociais que viveu. Qual é a situação hoje e qual o papel das IPSS?
O distrito de Setúbal, que já há uns anos teve uma crise muito grande, mais uma vez tem uma crise muito complicada. Temos um índice de desemprego extremamente elevado. Muitas das famílias que aqui se instalaram e que viviam do seu trabalho viram-se privados dessa compensação por via do desemprego. Acontece, e ainda bem, que as autarquias tiveram a preocupação de terem, ao longo dos anos, vindo a criar alguns equipamentos. E ainda bem porque foi a forma de se poder dar algum apoio a essas pessoas. As instituições têm tido um papel que devia ser mais considerado pelo Poder Central, porque foram e são elas que conseguem matar a fome a muita gente. Quando apareceu todo este projeto das Cantinas Sociais, sentimos que seria voltar aos tempos da Sopa dos Pobres e toda essa parte que pensávamos estava ultrapassada… Chegar outra vez a uma situação destas foi difícil para a grande maior parte dos dirigentes das instituições, mais das instituições laicas, que voltássemos a esta situação. Houve um trabalho muito importante das comunidades e das autarquias e que as instituições olhassem para as necessidades das pessoas e esquecessem tudo o resto. As instituições abriram as suas portas, criaram respostas para as necessidades das pessoas e não se restringiram aos números emitidos pela Segurança Social de quem era necessitado. É preciso dizer que quando se fala nas instituições, não podemos esquecer os trabalhadores, porque há muito trabalho, por exemplo, a nível das Cantinas Sociais que não há dinheiro que pague.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2015-07-13



















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