PADRE JOSÉ MAIA

Tempo de mudança

Sem desprimor para os comentadores oficiais da nossa praça, atrevo-me a convidar Camões para nos ajudar a interpretar os resultados eleitorais, recordando-nos este pedacinho de um seu poema:

“Continuamente vemos novidades,

 Diferentes em tudo da esperança,

Do mal ficam as mágoas na lembrança

E do bem (se algum houve) as saudades”!

Contados os votos, temos de volta a dura realidade de um país que, apesar das muitas mágoas que lhe ficaram na lembrança, em virtude de empregos perdidos, de cortes duros e às vezes absurdos em reformas e direitos sociais, admitirá, porém, que algumas saudades poderá guardar desta Nação valente e imortal que, contra ventos e marés, ainda tem conseguido preservar a sua Identidade de Nobre Povo!

A avaliar pelos resultados eleitorais, esta expressão de saudade (que alguns comentadores classificaram como uma expressão da nossa cultura judaico-cristã de gostar de sofrer!) merecerá certamente a maior atenção de muitos politólogos.

Parece que, na política como nas relações pessoais, a capacidade de surpreender não deve ser menosprezada como fator de compreensão do que racionalmente não seria imaginável!

Resta-nos aguardar que as “novidades das várias propostas de mudança” que mereceram dos eleitores os respetivos votos, quando se transformarem em programa de governo, não sejam “diferentes em tudo da esperança”!

Neste contexto, e em face da inexistência de uma maioria absoluta por parte da coligação, a pergunta impõe-se: como vai uma coligação com uma prática governativa de austeridade poder corresponder aos sinais de mudança nas políticas económicas e sociais que a maioria dos portugueses (espalhada pelos vários partidos) fez chegar à nossa classe política? Será que, interpretando o desejo de mudança traduzido nas votações em vários partidos, chegou, por fim, a hora de se estabelecerem os “tão falados compromissos” entre a coligação e o PS?

Ao não dar a maioria absoluta à coligação, o Povo criou as condições políticas adequadas para a “negociação de tais compromissos” entre a coligação e o Partido Socialista. Se assim acontecer, cá temos uma mudança com grande relevância para a construção de novas políticas!

Esperemos que o Presidente da República tenha, entre os muitos cenários que preparou para dar posse a um novo governo, algum que preveja uma solução que nos preserve de instabilidades políticas com os inerentes custos sociais que esta situação representaria para todos nós!

Fique-nos na mente, para ir recordando aos 16 partidos que se apresentaram a votos, a mensagem do poeta António Aleixo: “ Vós que lá do vosso império, prometeis um mundo novo! Calai-vos, que pode o Povo querer um mundo novo a sério”!

Pe. José Maia

 

Data de introdução: 2015-10-10



















editorial

VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE, AFETOS E RELAÇÕES DE INTIMIDADE

As questões da sexualidade e das relações de intimidade das pessoas mais velhas nas instituições são complexas, multidimensionais e apresentam desafios para os utentes, para as instituições, para os trabalhadores e para as...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Orçamento Geral do Estado – Alguns pressupostos morais
Na agenda política do nosso país, nas últimas semanas, para além dos problemas com acesso a cuidados urgentes de saúde, muito se tem falado da elaboração do...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

O estatuto de cuidador informal necessita de ser revisto
Os cuidadores informais com estatuto reconhecido eram menos de 15 000 em julho, segundo os dados do Instituto de Segurança Social[1]. Destes, 61% eram considerados cuidadores principais e apenas 58%...