CASA DO POVO DE S. BARTOLOMEU DE MESSINES, SILVES

Prioridade à sustentabilidade financeira

“O maior projeto da instituição é a sustentabilidade financeira”, afirma José Carlos Araújo, presidente da Casa do Povo de S. Bartolomeu de Messines, que explica ser esse “o projeto diário” de quem dirige uma instituição que “corre contra o tempo”.
“A nossa preocupação constante é conseguirmos um bom equilíbrio entre a receita e o custo da instituição, pois a saúde financeira da instituição não é apenas má, é muito má”, sustenta, ressalvando: “Obviamente, temos sempre um pensamento positivo e a sensação de que vamos resolvendo os nossos problemas, a questão é que cada vez vamos tendo menos margem de manobra para resolver os problemas. Todos os dias enfrentamos diversos problemas, sejam laborais ou outros, mas o financeiro é sempre o maior”.
Desde que José Carlos Araújo é presidente a instituição do concelho de Silves já viu serem-lhe injetadas duas verbas significativas, o que tem ajudado a resolver a difícil situação financeira.
“Ao longo destes seis anos e meio, em termos financeiros, houve dois momentos marcantes. Um foi em 7 de dezembro de 2011, quando recebemos uma verba de 300 mil euros para reequilíbrio financeiro. Foi muito bom, porque quando chegámos em 2009 havia muitos problemas na instituição. Outro momento foi em 2014 com a atribuição de 112 mil euros do Fundo de Reestruturação do Setor Solidário. Uma verba igualmente importante para o nosso reequilíbrio financeiro”, justifica, aproveitando para enquadrar a situação da instituição: “Esta IPSS, como as outras, tem tido muitos problemas nos últimos quatro anos, uma vez que tem havido uma diminuição de receita e os custos mantêm-se iguais ou têm crescido. O Governo tem que olhar com cuidado para preservar estas instituições e nós caminhamos por um caminho em que é preciso ter muito cuidado, porque não é fácil gerir uma instituição social. Esta é uma instituição onde trabalham dezenas de pessoas e que todos os dias enfrenta problemas. Financeiramente, e em termos de tesouraria, esta, como as outras instituições, está diariamente numa corrida contra o tempo”.
Para José Carlos Araújo as contas são fáceis de fazer: “Se temos um custo mensal de 70 mil euros e uma receita de 60 mil, temos por mês um prejuízo de 10 mil euros, o que ao fim do ano são 120 mil! Isto é o que acontece nas instituições, porque não podemos ter uma economia lucrativa, ou não devemos ter”, lamenta, recordando já ter a instituição sido penalizada por tentar arranjar receitas: “Aliás, já fomos multados pelas Finanças por termos atividades lucrativas, como aconteceu com alguns eventos que promovemos para colmatar as dificuldades financeiras. Isto foi manifestamente prejudicial para nós, pois conseguimos cerca de 90 mil euros de lucro com eventos, todos feitos por voluntários e sempre com o objetivo de angariar receitas para a instituição, mas depois vieram as Finanças e levaram tudo. Só aí foram 12 mil euros à vida. Por vezes o voluntarismo e o amadorismo tem destas coisas”.
Por outro lado, o presidente da Casa do Povo de Messines identifica o Estado como um dos grandes culpados na situação das instituições: “Não se consegue fazer omeletes sem ovos e não conseguimos proporcionar melhor qualidade de serviços e estabilidade financeira se não tivermos recursos. Se recebemos 21.700 euros de comparticipações estatais, mas mandamos, por via da TSU, 15 mil euros todos os meses para a Segurança Social, algo não está bem”.
Por isso, e apelando a um maior empenho da CNIS, o líder da Casa do Povo lamenta “a falta de alguma proteção às instituições”. “Há que fazer um alerta, nomeadamente à nossa Confederação, para que as instituições sejam olhadas de outra forma, porque senão, maisano menos anos, vai tornar-se insustentável. Em termos financeiros, a situação das instituições não está nada fácil e é tempo de meditarmos seriamente sobre isto”, alerta, afirmando não ter dúvida que “as IPSS têm pela frente um caminho muito difícil, porque desta forma é muito complicado”.
Abrangendo um vasto conjunto de valências, a Casa do Povo de Messines trabalha, essencialmente, a área da infância, apoiando ainda algumas famílias a nível alimentar e dando os primeiros passos na área da deficiência, especialmente, através do Desporto Adaptado.
Atualmente, a instituição acolhe 46 crianças em creche, 75 em pré-escolar, 113 em ATL e 18 em CAF (Componente de Apoio à Família). É responsável pelas AEC (Atividades Extra Curriculares) de 1.600 alunos dos concelhos de Silves e Albufeira e ministra ainda aulas de Português a cerca de 20 estrangeiros. Depois, faz ainda acompanhamento familiar junto de 90 famílias, às quais distribui também alimentos, via FEAC e Banco Alimentar Contra a Fome. A fechar o leque de respostas, uma Cantina Social que serve 100 refeições/dia. O corpo de funcionários é de 54, a que se juntam 70 prestadores de serviços.
Para além desta variedade de respostas sociais, a Casa do Povo desenvolve ainda uma série de atividades de âmbito desportivo, cultural e de lazer, o que no passado tinha primazia na ação da instituição.
Nascida em 1934, a Casa do Povo de Messines sofreu um grande impulso 40 anos depois, com a construção do pavilhão, onde toda a freguesia, escolas incluídas, até há bem pouco tempo desenvolviam as suas atividades desportivas, por falta de outro equipamento do género. Já em meados da década de 1990, e depois com a transformação em IPSS, a vertente social ganhou terreno, sendo hoje o principal motor da instituição.
“A Casa do Povo já tinha atividades comunitárias que tiveram seguimento quando passou a Associação e, depois em 1998, passou a IPSS, como o rancho folclórico, o teatro, as atividades desportivas. Já havia um grande envolvimento associativo na comunidade”, explica Patrícia Francisco, técnica de Ação Social da instituição.
Aquando da transformação em Associação deu-se o início de um trabalho mais social, com o ATL a surgir logo em 1994 e depois a prosseguir com o jardim-de-infância.
“A área social é, sem dúvida, a que tem mais peso na instituição. As outras áreas são a resposta às necessidades da população”, explica José Carlos Araújo, ao que Patrícia Francisco acrescenta: “Somos uma referência, porque para além de nós só há futebol. É a Casa do Povo que fomenta outras atividades, como o Desporto Adaptado”.
O Desporto Adaptado surgiu há dois anos e está a ganhar importância no seio da instituição.
“Queremos potenciar esta vertente do Desporto Adaptado, porque no Algarve, como nas outras regiões do País, há uma grande necessidade de equipamentos e de entidades que promovam esse desporto. É um projeto muito aliciante ver jovens que por fatalidades várias perdem a mobilidade e, depois, se refugiam em casa e ver como o desporto os transforma profundamente”, garante o presidente, acrescentando: “Esta é uma área que tem um custo financeiro bastante elevado, mas simultaneamente também é mais fácil angariar fundos e, neste momento, com o Andebol Adaptado abrangemos o Algarve todo”.
Para além do Desporto Adaptado, a Casa do Povo promove outras modalidades como a Ginástica, “com mais de 100 atletas”, a natação, a capoeira e o Muay Thai, entre outras modalidades.
“Apesar de ser desporto não deixa de ser também uma resposta social, porque o nosso papel é proporcionar à comunidade as respostas sociais, mas também a prática do desporto, da cultura e de tudo o que a população necessite”, sustenta José Carlos Araújo.
Fundamental para o crescimento da Casa do Povo e da oferta da instituição à comunidade foi a ampliação das instalações.
“A candidatura para a construção deste edifício em 1998 foi para um Centro Comunitário e tudo o que temos feito é dentro dessa visão. Ou seja, desenvolvemos um conjunto de atividades que vão ao encontro da comunidade e, ao longo dos anos, as atividades vão variando conforme a solicitação da comunidade. Daí, o desporto existir sempre e se manter, até porque de certa forma é complementar às respostas sociais e reforça o sentido comunitário”, sublinha Patrícia Francisco
Para o presidente da instituição este olhar global, este trabalhar holisticamente as pessoas é o caminho a seguir.
“A necessidade que temos de estar presentes para comunidade num todo e para a pessoa toda é o que nos faz mover diariamente. Não podemos ter apenas olhos para a pessoa que hoje precisa de uma sopa, mas temos que ter olhos para a família que precisa de uma creche, de um ATL, de atividades desportivas para os filhos. Tudo isto são necessidades das comunidades e é para isto que considero que as IPSS estão melhor habilitadas a dar resposta. Termos a capacidade de responder às necessidades da comunidade é uma responsabilidade diária de todos os que aqui trabalham”.
E se a sustentabilidade financeira da instituição é o “grande projeto”, os responsáveis da instituição revelam que o futuro passa “também pela área da deficiência”.
“Já o iniciámos com o Desporto Adaptado, mas queremos estendê-lo a uma resposta social a curto prazo”, revela José Carlos Araújo, que lembra o facto de o concelho de Silves ter cerca de 40 mil habitantes e não ter nenhuma resposta na área da deficiência.
“Inicialmente será no âmbito do Centro Comunitário, mas queremos chegar a um CAO. Queremos fazer um ano piloto, identificar as necessidades e, então depois, avançarmos para, possivelmente, um CAO”, diz Patrícia Francisco, destacando: “Esta é uma necessidade do concelho e da freguesia, pelo que nos vieram bater à porta. A instituição tem crescido porque nos vêm bater à porta e a instituição vai criando as respostas… Esta é mais uma”.
Neste sentido, o presidente lembra que “a Casa do Povo está completamente aberta” e justifica: “Só conseguimos vencer neste mundo se não vivermos numa ilha, se formos de facto parceiros. Não somos nós que inventamos as respostas, são as necessidades da comunidade que nos fazem andar para a frente”.
Neste caminho de abertura à comunidade, a instituição criou a Messines TV, com transmissão no MEO, através da qual dá a conhecer a instituição e as atividades que desenvolve.
“Viver em comunidade é fundamental, porque não vivemos numa ilha e, por isso, a instituição partilha muito com outras instituições. Entendo que devemos comunicar o que temos e o que fazemos para que as pessoas também saibam o que podem encontrar. Isto facilita o nosso crescimento, porque, através da TV online, apresentamo-nos a mais pessoas, a mais entidades e de uma melhor maneira”, sustenta o presidente, que confia que o próximo ano será de viragem: “Temos muitas dificuldades para alcançar o ambiente certo para que possamos criar algo sem que seja sempre em sobressalto. O grande problema é que a gestão financeira sem dinheiro provoca muitos sobressaltos e até alguns ódios… Na Casa do Povo de Messines corremos o risco de num curto prazo de tempo não conseguirmos melhorar. Acredito que o ano de 2016 será um ano de melhoria para a Casa do Povo, porque estes últimos três anos, devido a investimentos que não surtiram efeito, como o sorteio de três automóveis, têm sido muito difíceis. Penso que 2016 pode ser o princípio de uma nova vida. Não podemos é pensar que tudo está bem, porque não está. Há muito défice financeiro nestas instituições e, por vezes, não vemos como resolver este problema. O futuro não vai ser fácil, mas com o nosso querer, a nossa vontade e o nosso espírito de equipa podemos atingir mais facilmente o nosso objetivo”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2015-12-21



















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