CENSO - CENTRO SOCIAL, CULTURAL E RECREATIVO DE MESSEGÃES, VALADARES E SÁ, MONÇÃO

Um projeto cinco estrelas

Se há quem duvide da importância essencial das IPSS e do seu caráter e visão de futuro, o exemplo do CENSO, como de muitas outras instituições espalhadas pelo território nacional é bem claro de que estas são entidades que promovem o bem-estar hoje e se preocupam com o futuro.
O Centro Social, Cultural e Recreativo de Messegães, Valadares e Sá (CENSO), concelho de Monção, fica perdido no mapa, longe de tudo, visto dos grandes centros, e a própria sede é de complicada acessibilidade. Porém, isto são apenas pormenores para uma instituição que nasceu da preocupação dos pais de crianças em idade escolar das, então, três freguesias que emprestam o nome à instituição e resolver o problema de transportes que viviam.
Com o propósito de se candidatarem a apoios para comprar uma carrinha para transporte escolar, foi constituído o CENSO, corria o ano de 1992.
Nos primeiros anos, a ação do CENSO limitou-se ao transporte escolar e ainda à realização de atividades mais de índole cultural e recreativo. Contudo tudo iria mudar. Com a criação do próprio emprego por parte da funcionária mais antiga, após sair da escola profissional como animadora, que propôs à associação dinamizar algumas tardes junto das crianças e dos idosos, nasceram quase, em simultâneo, as duas primeiras respostas sociais da instituição: Centro de Convívio e ATL.
Esta faceta de apostar em projetos no sentido de responder às necessidades da comunidade é, segundo Sónia Durães, diretora-técnica do Centro, a marca de água da instituição.
“Uma coisa que nos caracteriza é a inovação. Pode parecer pouco modesto, mas é o que é. Temos apostado em projetos diferentes, enquanto a maioria das instituições apostou primeiro em construir equipamentos. Nós só há cerca de três anos é que temos equipamentos e são todos cedidos”, argumenta, reforçando: “O que sempre nos motivou foi a criação de projetos diferentes e de respostas diferentes. Fomos a primeira instituição a ter terapia ocupacional ao domicílio, a ter a reabilitação física e cognitiva, Centro de Noite, Universidade Sénior… Já os equipamentos que ocupamos são todos antigas escolas primárias adaptadas, pelo que o que nos caracteriza, de facto, é esta aposta em projetos inovadores”.
O mais recente desses inovadores projetos lançados pelo CENSO é o «5 Estrelas», finalista do Prémio Manuel António da Mota e que “é, neste momento, a coqueluche do CENSO”, sustenta Sónia Durães, que recorda como nasceu este serviço à comunidade: “O projeto nasceu de constatarmos que era difícil inserir os beneficiários do RSI no mercado de trabalho e, paralelamente, decorriam aqui formações para desempregados para tentar dar competências a esses grupos. E começou justamente por fazermos com essas pessoas alguns estágios na área da jardinagem, limpeza de viaturas e outras áreas. Entretanto, começaram a chegar-nos alguns pedidos da comunidade para podermos satisfazer necessidades como passar a ferro, limpeza de habitações, etc. Nesse momento, surgiu a ideia de fazermos uma candidatura com alguns dos serviços à Fundação EDP, que foi a entidade que financiou o arranque do projeto, fornecendo uma viatura e alguma formação”.
Era assim lançado, em 2012, o Projeto 5 Estrelas, que alia a resposta a necessidades da comunidade, empregabilidade de populações com grande dificuldade de a conseguir e ainda a sustentabilidade da instituição.
Desde o arranque, o «5 Estrelas» disponibiliza os serviços SOS Bricolage (pequenas reparações ao domicílio), Brilho Automóvel (limpeza manual de viaturas), Marmita Gourmet (refeições saudáveis ao domicílio), Clínica da Roupa (lavandaria e pequenos arranjos de costura) e Fada do Lar (limpeza doméstica). Cada serviço tem um custo, verba que acaba por contribuir para a sustentabilidade da própria instituição.
Mas esse é, provavelmente, o objetivo menos importante do projeto, como refere Sónia Durães: “Estes cinco serviços têm por objetivo satisfazer as necessidades que as pessoas tenham nestas áreas, mas tem também a inserção laboral de desempregados de longa duração e/ou de beneficiários do RSI. Foram feitas duas formações, uma no âmbito do bricolage e jardinagem e outra nos cuidados básicos de higienização, das quais selecionámos as pessoas que colaboram connosco. Assim, quanto maior for o número de clientes, maior o número de inseridos no mercado de trabalho que conseguimos. Depois, é uma fonte de receita para a instituição, que será um terceiro objetivo do projeto”.
E nesta questão de sustentabilidade, a necessidade aguça o engenho: “Verificou-se que a cozinha e a lavandaria estavam a trabalhar abaixo da capacidade e quisemos também otimizar os recursos da instituição”.
E o sucesso do projeto, está a levar os seus responsáveis a repensá-lo, para melhor responder à comunidade, o que passa, desde logo, pelo seu desenvolvimento.
“Neste momento estamos numa nova fase do projeto, que passa por expandi-lo através de um ponto de atendimento na vila de Monção, ou seja, abrir uma loja onde as pessoas se possam dirigir e solicitar os serviços mais facilmente. É neste âmbito que surge a candidatura ao Prémio Manuel António da Mota. Este posto servirá essencialmente para criar uma carteira de clientes, porque depois o serviço pode bem funcionar simplesmente online”, sustenta a diretora-técnica, que acrescenta: “Estamos a ponderar a substituição de algumas estrelas (leia-se, serviços) e até estamos a retardar um pouco a abertura da loja porque estamos a repensar o tipo de serviços que iremos disponibilizar. A sociedade é muito volátil e as necessidades também se alteram”.
Ainda para mais quando se está inserido numa comunidade em que a comunicação é difícil. Sónia Durães confessa que sente o reconhecimento das entidades exteriores à região, mas que a comunicação com as populações mais interiores e rurais não é fácil: “Penso que, fora da região, somos reconhecidos por estarmos numa zona muito rural, mas a realidade aqui é diferente. Os parceiros reconhecem o nosso potencial e o mérito, mas na comunidade, por vezes, é onde sentimos mais dificuldade em comunicar. Por vezes, sentimos grandes dificuldades em comunicar à comunidade quem somos e o que fazemos, em especial com os projetos de intervenção comunitária. Todas as técnicas de marketing nestes meios rurais são poucas para uma eficaz comunicação”.
No entanto, isso não faz esmorecer os dirigentes, técnicos e colaboradores do CENSO e prova disso foi o arranque, no final de 2015, do Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) ao Vale do Gadanho (zona mais interior do concelho de Monção), que será complementado com a abertura de um Centro de Dia, na Portela, com capacidade para 25 utentes, ainda este mês de fevereiro.
Consolidar estes projetos e respostas sociais é o horizonte próximo do CENSO. “O futuro passa por implementar estes projetos que estão numa fase inicial e alterar algumas das estrelas naquilo que perspetivamos, e que algumas já são, as novas necessidades da comunidade”.

O PESO SÉNIOR

Nascida para responder a uma necessidade na área da infância, a instituição tem hoje um enfoque maior na terceira idade, logo visível no número de respostas e de utentes.
Atualmente, na infância, o ATL funciona com 30 a 35 crianças em período escolar e pausas letivas, e, na área sénior, o Centro de Convívio tem 15 utentes, o Centro de Dia recebe duas dezenas, o SAD apoia de 40 a 45 e o Centro de Noite de Badim, inaugurado em 2015, acolhe 12 idosos. Para além destas respostas, o CENSO faz o acompanhamento de cerca de 114 beneficiários do RSI, nos concelhos de Monção e Melgaço e acolhe ainda a Universidade Sénior, frequentada por 38 pessoas. Para todo este empreendimento, a instituição conta com um corpo de 30 funcionários, o que faz do CENSO o maior empregador das três freguesias, recentemente transformadas em União de Freguesias.
“A instituição não tirou o foco da infância, até porque o ATL, nesta zona, é muito necessário, especialmente nas épocas não letivas, porque não existe mais nenhum”, justifica Sónia Durães a propósito do peso das respostas para os seniores, sublinhando: “Paralelamente, temos um projeto de apoio comunitário que acompanha famílias beneficiárias do RSI e que, em conjunto com o ATL, fazemos campos de férias para crianças e jovens na época balnear. A associação começou mais voltada para a vertente cultural e recreativa, atividades que mantemos incorporadas nas respostas sociais, mas há alguns anos estamos a dirigir-nos mais aos seniores, porque a pirâmide etária da zona do Alto Minho é composta substancialmente por população idosa. No entanto, também olhamos à população em geral, como é o caso do Projeto 5 Estrelas”.
A inovação nas respostas sociais aconteceu também com o Centro de Noite, uma valência muito bem acolhida pela população, pois era algo que ansiava.
“O Centro de Noite foi bem recebido, porque quando as coisas são pensadas com a comunidade têm uma melhor e rápida aceitação. O Centro de Noite era uma solicitação recorrente da comunidade, pelo que assim que ficou pronto, ficou lotado”, recorda Sónia Durães, que vê aqui um futuro desafio à própria instituição nesta sua relação com a comunidade que serve: “O Centro de Noite traz um problema e um desafio, porque as pessoas mais tarde ou mais cedo vão precisar de uma resposta de lar, que não temos. Muitas destas pessoas já passaram por diversas respostas connosco, seja no Apoio Domiciliário, Centro de Dia ou outra, e depois quando estão mais dependentes vão ter que procurar solução noutro local. Este é, de facto, um desafio que se nos coloca”.
Desafio que se coloca a todas as IPSS é o da sustentabilidade.
“Em termos de conta-corrente, a instituição é sustentável, porque temos que fazer com que seja, não dando passos maiores do que a perna. Este tipo de projetos que desenvolvemos permitem-nos criar um pouco mais de sustentabilidade para fazer investimentos futuros e apostar noutras respostas. A Universidade Sénior é autossustentável, o Projeto 5 Estrelas ainda ajuda à sustentabilidade da instituição, temos alguns pequenos donativos e, depois, apostamos em projetos, porque passamos a vida a fazer candidaturas. Se o dia-a-dia está assegurado, o avançar tem que ter uma alavanca extra”, conclui a diretora-técnica.

 

Data de introdução: 2016-02-15



















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