FUNDRAISING

Seminário lança ideias e cria entusiasmo

A crise económica que o País vem vivendo nos últimos anos agudizou ainda mais a situação de muitas instituições que sentem grandes dificuldades em angariar fundos que permitam prosseguir e/ou alargar a sua missão. Em especial as entidades não lucrativas, como as IPSS, as universidades, as coletividades de recreio e desporto e outras cuja atividade não visa o simples lucro comercial.
Lisboa acolheu no início de março a oitava edição do Seminário Fundraising Call To Action, o maior evento do género realizado em Portugal, que contou, com uma forte adesão de público ávido de ver e ouvir os diversos oradores, oriundos do Reino Unido, Estados Unidos, Noruega e Portugal.
Através do próprio exemplo, muitos dos oradores convidados explanaram como têm conseguido angariar doadores e fidelizá-los por forma a conseguirem desenvolver as suas atividades de forma consistente.
Mas não só, houve autênticas aulas de como motivar os potenciais doadores, como conquistá-los e, muito importante, como fidelizá-los a uma causa.
Neste particular, Adrian Sargeant, da Plymouth Business School, dos Estados Unidos, foi um poço de ideias e conselhos, fruto de uma apresentação dinâmica e de grande envolvência, abordando temas interessantes e lançando várias ideias e incentivos para trilhar novos caminhos no fundraising.
Utilizando exemplos de variadas entidades que recorreram ao fundraising para sustentar a sua atividade ou para lançar novos projetos, o professor, que dirige o Centro para a Filantropia Sustentável, aproveitou para demonstrar o que se deve e o que não se deve fazer quando se pretende conquistar um doador.
Na sua alocução intitulada «Storytelling: a influência nas motivações e emoções dos doadores», Adrian Sargeant passou uma ideia fulcral: “O resultado é que motiva as pessoas no fundraising, pelo que, mais importante do que pedir dinheiro, explicando o que se vai fazer, é importante explicar o que aquele dinheiro permite fazer e os ganhos que se tem com isso”.
Por isso, segundo o norte-americano, é fundamental “não pensar apenas em ganhar campanhas, mas em ganhar as pessoas, através do coração, e o seu comprometimento com a causa”.
Outra nota essencial é a de que “após uma doação tem que haver um bom feedback por parte dos angariadores”, alertou o professor de fundraising, frisando que “os doadores gostam de saber como termina a história”.
Para uma angariação bem-sucedida, Adrian Sargeant considera fundamental “transmitir não o que se faz mas o que se consegue e centrar todo o sucesso da iniciativa na contribuição do doador e isso deve ser-lhe mostrado”.
“É fundamental que haja a postura de colocar o doador no centro do processo e como o grande contribuidor para o resultado”, sustentou o professor de Plymouth.
No arranque da tarde, a maestrina Joana Carneiro, da Orquestra Sinfónica Portuguesa, Matthew Pepler, do Museu de Londres, e Mariana Carreira, da Make-A-Wish Portugal, relataram as suas experiências na captação de grandes doadores, num painel intitulado «O que precisa saber para desenvolver o fundraising junto de grandes doadores: empresas, individuais, fundações».
O estímulo transmitido à plateia por estes oradores prosseguiu quando se falou de novos doadores. Da Noruega veio a dupla responsável pela angariação de novos doadores para a NABP, uma associação de cegos e amblíopes norueguesa. Eva Eggesvik e Leif Wein explicaram como desenvolveram uma campanha de fundraising no sentido de conquistar novos mecenas e a torná-los doadores regulares.
Ainda da parte da manhã Matthew Pepler, do Museu de Londres, e Cristina Garcia, da Esclerosis Multiple España, apresentaram os seus projetos de sucesso, respetivamente, «We are London» (juntar tudo numa estratégia de fundraising completa) e «M1 Project» (uma experiência no online & lowcost fundraising).
Seguiu-se um painel em que se abordou que impacto a realidade virtual pode ter nos resultados do fundraising, com a participação de Madalena da Cunha, da Call to Action, e Margarida Ramirez Cordeiro, da UNICEF Portugal.
A meio da tarde de trabalho um momento diferente, com os participantes a escolherem uma das duas sessões paralelas agendadas.
«Pode o envolvimento de pessoas das empresas ter impacto no fundraising?» e «Como os eventos, programa de mentores e/ou apoio a carreiras contribuem para um bom plano de fundraising» foram os temas tratados. Fátima Borges, da Águas de Portugal/IES, Nicole Azevedo, da Sonae e presidente da Operação Nariz Vermelho, e Rui Diniz, do Grupo José de Mello e Novamente, abordaram o primeiro tema, enquanto Nicole Gilham, da Architectural Association School of Architecture, de Londres, se debruçou sobre o segundo.
O norte-americano Adrian Sargeant ainda voltaria ao palco no auditório da Fundação Calouste Gulbenkian para, na derradeira preleção do dia, abordar o Fundraising Massivo, tentando elucidar os presentes “como duplicar, triplicar ou quadruplicar as receitas de fundraising” ou “que campanhas e comunicação geram mais resposta e como a partilha de histórias é fundamental”.
No final os rostos espelhavam, essencialmente, entusiasmo. O dia ali passado foi uma espécie de grande caldeirão, do qual emanaram diversas ideias e perspetivas para o futuro.
Entre os comentários finais, os elogios foram uma constante. “É o terceiro ano que participo e o Seminário está cada vez melhor! Sempre com conteúdos atuais e comunicações muito interessantes! A organização é excelente e o cumprimento dos horários exemplar”, referiu Mafalda Lourenço, da Fundação Nossa Senhora do Bom Sucesso, ao passo que para Margarida Azevedo Alves, da Comunidade Vida e Paz, “foi um dia muito produtivo ao nível da aprendizagem e da prática dos conteúdos, o que será muito útil no futuro”.
Também a organização ficou bastante satisfeita, como referiu ao SOLIDARIEDADE, Mariana Rebelo de Andrade, da Call to Action.
“Foi mais um sucesso, as pessoas saem daqui muito inspiradas com as ideias muito concretas que os oradores apresentaram. Andámos um bocadinho dentro das várias áreas do fundraising, desde os grandes doadores aos doadores regulares, tivemos uma sessão dedicada às empresas, tivemos ainda outras matérias mais atuais, como o storytelling ou a realidade virtual, que embora seja uma técnica muito tecnológica traz-nos para a necessidade de tocarmos o coração das pessoas e de como envolver as pessoas. Pessoas envolvidas por impulso dão e colaboram com as causas. E tivemos ainda outras experiências, como as de pessoas que vieram das empresas e estão a trabalhar nas organizações, o que é que elas trazem do mundo empresarial para o setor não lucrativo e o que levam de volta”, destacou, concluindo: “O seminário foi muito útil e acho que foi um bom dia, acima de tudo, muito inspirador e muito importante para as organizações que cá estiveram”.
Essencial para quem tem fontes de receita limitadas e insuficientes, o fundraising é um caminho que as instituições não lucrativas, em especial as IPSS espalhadas pelo País, têm que investir e trilhar determinadamente.

P.V.O. (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2016-03-24



















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