ANSA – ASSOCIAÇÃO NOSSA SENHORA DOS ANJOS, LOURES

PARES ainda deve 150 mil euros à instituição de Camarate

Setembro de 1969. Nascia, no Bairro de S. Lourenço, em Camarate, o Jardim-de-Infância Nossa Senhora dos Anjos, pela ação de Dª Maria Teresa, que «prometera à Nossa Senhora dos Anjos que, se conseguisse ser mãe, tentaria formar uma instituição para educar crianças oriundas das classes mais desfavorecidas», pode ler-se na história da instituição.
Janeiro de 2012. “A nova Direção decidiu que era importante diversificar as respostas da instituição, ou seja, fazer desta casa uma verdadeira IPSS que servisse a comunidade e, então, lançámos novos projetos”, revela Marco Fernandes, presidente da instituição, enumerando: “Lançámos o Centro de Apoio ao Estudo, que tem sido um êxito, e a Loja Solidária, em parceria com a Câmara de Loures e a Junta de Freguesia de Camarate. Passámos a ser ponto de distribuição do Banco Alimentar e criámos um grupo de dadores de sangue. Com regularidade, quatro vezes por ano, fazemos colheitas de sangue nas nossas instalações. É o nosso contributo na área da saúde. Ou seja, diversificámos as respostas e deixámos de ter apenas a resposta educativa infantil. Auscultámos as necessidades da comunidade e procurámos ir ao seu encontro com soluções”.
De facto, se nos primeiros 43 anos de vida, a instituição de Camarate “dava apenas resposta à infância, com o Pré-escolar e a Creche, nos apartamentos do Bairro de S. Lourenço, ou seja, frações alugadas, primeiro só no rés-do-chão e, mais tarde, também no 1º esquerdo”, a agora denominada Associação Nossa Senhora dos Anjos (ANSA) passou a dar uma resposta mais abrangente, tocando mais gente na comunidade.
Depois de uma vida inteira a viver “em frações habitacionais, adaptadas a jardim-de-infância”, a ANSA decidiu avançar para a construção de um edifício de raiz, onde funciona a creche, que passou de 15 para 84 crianças, utilizando o equipamento como centro nevrálgico em volta do qual funcionam as novas respostas sociais.
“Em parceria com a Junta e a Câmara, conseguimos alugar umas lojas junto a este novo equipamento, onde funcionam a Loja Solidária e o Centro de Apoio ao Estudo”, explica Marco Fernandes, recordando que “o terreno já estava cedido à instituição desde 2005”, tendo a construção arrancado em 2014, com o intuito de “concentrar toda a nossa atividade o mais próximo possível”.
Porém, e apenas quatro anos volvidos sobre a mudança da instituição, o presidente tem um lamento: “Agora temos quase tudo aqui concentrado, apenas o pré-escolar continua ainda nos apartamentos, mas o objetivo é trazê-lo para aqui também. Já pedimos à Câmara que nos cedesse um pouco mais de terreno no lote ao lado deste para ali fazermos o pré-escolar. Desta forma daríamos aos meninos do pré-escolar umas instalações novas, com condições bem melhores do que as atuais”.
Atualmente, a ANSA responde a 40 crianças no pré-escolar e a 84 bebés na creche.
Aliás, a creche ainda está envolta num imbróglio, que no último mês sofreu alguns desenvolvimentos positivos, mas que não deixa de levantar questões difíceis de digerir.
Cronologicamente, o imbróglio começa na dívida que o PARES ainda mantém para com a instituição, “no valor de 150 mil euros”.
A instituição “teve que contrair um empréstimo bancário para fazer face ao cumprimento dos pagamentos ao construtor, para se livrar da ameaça de juros, que são altíssimos”, avança Marco Fernandes, que acusa ainda “a Segurança Social de estar a protelar os pagamentos com desculpas administrativas e técnicas, pois há sempre algo que não está bem e isto já se arrasta há um ano”.
Por outro lado, a nova creche vinha criando um outro problema à instituição porque a Segurança Social demorava em atualizar o acordo de cooperação de 15 para 66 crianças, o que finalmente fez no passado mês de agosto.
“Nós tínhamos 15 crianças em creche e passámos para 84, sendo que só 66 estão abrangidas pelo Acordo, mas já tínhamos assinado o contrato de alargamento do Acordo e até Julho não havíamos recebido um único cêntimo”, conta, acrescentando: “Estivemos a sobreviver apenas com as comparticipações familiares que são muito baixas, pois aplicámos desde início a fórmula como se houvesse alargamento do acordo de cooperação. Não esperávamos estar um ano sem receber nada… Em termos de estratégia, contávamos que em Março deste ano já estivéssemos a receber pelo novo Acordo, mas as coisas não correram assim”.
Do mal, o menos e a restituição devida à ANSA tem retroativos a Março, o que poderá desafogar um pouco mais os cofres da instituição.
No entanto, Marco Fernandes reconhece que a instituição aproximou-se demasiado do precipício, sem que culpa lhe pudesse ser assacada. Contudo, aquele que é tido como “o principal parceiro” foi quem mais a empurrou…
“No ano passado tivemos a continuidade em risco, porque os pagamentos do PARES eram tardios e, em agosto de 2015, deixámos de receber os reembolsos”, acusa, recordando: “Quando me dirigi ao senhor ministro disse-lhe que a Direção considerava que tinha sido sentenciada de morte pela Segurança Social, o principal parceiro. Estávamos praticamente a terminar a obra e a Segurança Social interrompe os quatro últimos pagamentos. Tínhamos o construtor e os restantes fornecedores a querer receber e nós entre a espada e a parede. As coisas complicaram-se bastante, porque poderia ter acontecido o pior, o que felizmente conseguimos evitar. No entanto, o pior cenário poderia ocorrer, ou seja, o colapso da instituição e por culpa do nosso principal parceiro”.
Com tantos espartilhos, a Direção reuniu com os trabalhadores, colocando-os a par de “toda a situação”: “Dissemos-lhes que não conseguíamos dar os aumentos, porque não podemos aumentar a despesa com massa salarial, nem qualquer outra. A palavra de ordem é contenção”.
Para o presidente da instituição, “todos os funcionários acolheram a proposta”, considerando que “existe um clima de profunda confiança com esta Direção” e apontando “a disponibilidade mútua” como “o segredo para que o barco chegasse a bom porto, para que a construção não tivesse sido interrompida, para que, apesar de um ano sem acordo de cooperação conseguisse funcionar sem acumular dívidas”.
Apesar de tudo, a nova e jovem Direção da ANSA tem conseguido resultados, fruto de “uma gestão muito meticulosa, em que as compras são feitas com muito cuidado, pois não fosse assim não teria sido possível assumir os compromissos que assumimos, apenas contando com as comparticipações familiares”, sublinha Marco Fernandes, que lembra: “As coisas têm corrido bem, não temos dívidas, para além dos encargos com a Banca. Com muita astúcia e muita imaginação temos estado a sobreviver, mas os dirigentes das IPSS são pródigos nisso. Temos compromissos com a Banca para a construção e um outro para cobrir o que o Estado não nos entregou”.
A construção de um equipamento era ambição antiga, alimentada “há mais de 30 anos que as sucessivas Direções”, pelo que é com orgulho que o atual presidente fala na “felicidade e responsabilidade” de ter sido a sua equipa “a dar forma ao sonho de uma freguesia”.
Para tal foi necessário a instituição abrir-se à comunidade, fazendo “uma aposta forte no marketing social e na comunicação”.
Como resultado, a instituição passou de seis para 38 funcionários no espaço de oito anos e passou a ter mais respostas, mais crianças e mais funcionários… “com a mesma receita”, nota.
Por isso, é que Marco Fernandes afirma: “Neste momento estamos em fase de adaptação, porque deixámos de conduzir um Mini e passámos a guiar um Mercedes”.
E a prova de que o crescimento da ANSA é um facto indesmentível são os números registados em 2015: a Freguesia Mais Solidária (loja solidária - vestuário, calçado, alimentação, livros escolares, apoio para compra de medicamentos) apoiou 952 agregados familiares, ou seja, 2.419 indivíduos, de forma totalmente gratuita, em 6.006 atendimentos; foram entregues 28 toneladas de alimentos, provenientes de donativos da comunidade e dos acordos com superfícies comerciais; e doados 9.345 peças de vestuário, essencialmente proveniente da comunidade de Camarate, e 3.566 brinquedos.
A construção de um edifício para instalar o Pré-escolar “é o grande projeto” da instituição, que ambiciona “ter todas as crianças em instalações condignas”, mantendo o fito, igualmente, na “consolidação da resposta de creche”.
Por outro lado, e atuando hoje em Camarate, Unhos e Apelação, os responsáveis pela ANSA pensam em, “com calma, procurar outros territórios, ou seja, alargar a nossa área de influência”.
E como seria Camarate sem a ANSA? “Seria mais triste e não seria tão colorida. Julgo que conseguimos tornar visível o quão generosos são os camaratenses, porque de um momento para o outro conseguimos mobilizar muitos habitantes de Camarate na doação de bens e até dinheiro. Camarate está mais solidária”, defende Marco Fernandes, que lembra os 203 doadores de sangue que a instituição congrega, como outra das respostas que as IPSS tão bem podem e sabem fazer.

 

Data de introdução: 2016-09-08



















editorial

VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE, AFETOS E RELAÇÕES DE INTIMIDADE (O caso das pessoas com deficiência apoiadas pelas IPSS)

Como todas as outras, a pessoa com deficiência deve poder aceder, querendo, a uma expressão e vivência da sexualidade que contribua para a sua saúde física e psicológica e para o seu sentido de realização pessoal. A CNIS...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Que as IPSS celebrem a sério o Natal
Já as avenidas e ruas das nossas cidades, vilas e aldeias se adornaram com lâmpadas de várias cores que desenham figuras alusivas à época natalícia, tornando as...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Adolf Ratzka, a poliomielite e a vida independente
Os mais novos não conhecerão, e por isso não temerão, a poliomelite, mas os da minha geração conhecem-na. Tivemos vizinhos, conhecidos e amigos que viveram toda a...