Disponível desde a primeira hora para ser instituição-anfitriã do projeto PAR (Plataforma de Apoio aos Refugiados), o Centro Social de Ermesinde viu o seu desígnio concretizado em Maio do corrente ano. Uma família síria, um casal com uma filha bebé, foi acolhida na instituição.
Porém, no pouco tempo que passou, os técnicos que, de forma completamente voluntária, estão responsáveis pelo acolhimento e integração dos refugiados verificaram alguns “constrangimentos superiores ao esperado, ao nível da aprendizagem da língua e cultura portuguesa, particularmente nos adultos”.
Como refere Albertina Alves, do Centro Social de Ermesinde, “o domínio da língua faz toda a diferença na inserção social e profissional”, pelo que as grandes dificuldades que surgiram nesse capítulo tenham levado os responsáveis da instituição a pensar em soluções e a elaborar um projeto abrangente e dinâmico.
No caso do Centro Social de Ermesinde, nenhum dos elementos do casal fala outra língua que não o árabe, com a agravante de o homem, taxista no seu país, não ter escolaridade, o que levanta ainda mais obstáculos.
E se numa primeira fase a mudança de professor, alguém que fala Português e Árabe, ajudou a começar a ultrapassar o problema de comunicação, os técnicos da instituição de Ermesinde sentem a necessidade de ir mais longe, pois esta é uma situação que conduz a um certo isolamento.
A ausência de resposta a este problema comunicacional tem efeito direto na (falta de) autonomia dos adultos na utilização do Português e na interação social, dificultando a integração laboral, para além de potenciar o aparecimento ou agravamento de problemas do foro da saúde mental, como depressões ou, entre outros. Estas situações podem ainda levar a um aumento dos custos sociais, tais como o desemprego, a iliteracia, os comportamentos desviantes e a criminalidade.
Nesse sentido, o projeto «Uma ca(u)sa contra a guerra», sem prejuízo de concordar com o modelo da PAR de dispersão territorial das famílias refugiadas a fim de evitar a criação de guetos, pretende apostar no “desenvolvimento de laços e de contactos, a uma escala reduzida, entre algumas das famílias acolhidas em localidades próximas umas das outras, potenciando a integração social dessas famílias e diminuindo a síndrome de insegurança e de isolamento naturais em famílias com o passado das que têm sido acolhidas”.
Este projeto, a ser já experimentado pelo Centro Social de Ermesinde, tem por objetivos: Melhorar a qualidade e o ritmo do processo de integração social das famílias acolhidas no âmbito do programa PAR Famílias; Capacitar e, se possível, certificar as competências dos beneficiários ao nível da utilização independente da língua portuguesa; Possibilitar a inscrição como candidatos a emprego nos Centros de Emprego; Melhorar a qualidade de vida e o nível de bem-estar.
Apercebendo-se que a interação com outras famílias na mesma situação tem sido positivo para combater esse isolamento a que se votam e ficam votados, essencialmente por dificuldades de comunicação, mas também por questões culturais, o projeto da instituição de Ermesinde inscreve também a promoção de atividades de partilha cultural entre famílias refugiadas e outras da comunidade autóctone.
A intenção é criar situações de intercâmbio, com as famílias portuguesas a participarem em eventos da cultura síria e vice-versa. A isto não é alheia a vontade de levar a comunidade a promover a integração destas pessoas, para quem tudo é novo e… onde sentem grandes dificuldades em comunicar e relacionar-se.
“O que mais os aflige é não terem nada que fazer”, frisa Albertina Alves, acrescentando: “Já se voluntariaram para quase tudo… Eles querem interagir com as pessoas de cá, mas sentem que com os seus pares têm mais apoio. Mesmo assim, têm uma grande vontade de aprender e de se integrar”.
Em concreto, «Uma ca(u)sa contra a guerra» – nome adaptado do projeto «Uma casa contra a guerra», que uma escola desenvolveu para angariar mobiliário para a habitação deste casal sírio – pretende dinamizar um conjunto de atividades, designadamente: a constituição de pequenos grupos que possibilitem a criação de turmas com um número reduzido de elementos; visitas de estudo a locais e espaços de interesse sobre a cultura portuguesa; promover encontros, passeios, momentos de convívio entre famílias, dinamizados pelas instituições anfitriãs; promover a celebração de datas festivas significativas para o grupo-alvo e para a comunidade local; organizar workshops para apresentar tradições e culturas no sentido de quebrar barreiras culturais e favorecer a aprendizagem informal da língua; fomentar ações de voluntariado.
O projeto do Centro Social de Ermesinde estende-se ao concelho de Valongo e à restante Área Metropolitana do Porto.
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