HORÁCIO SANTIAGO, PRESIDENTE DA UIPSSD COIMBRA

Cuidados Continuados são aposta de futuro

Horácio Santiago termina no fim do ano o segundo mandato como presidente da União das IPSS do Distrito de Coimbra (UIPSSDC) e deseja que “apareça gente nova, com novas ideias e mais dinamismo” para lhe suceder. A razão também é simples: “Quando nos mantemos muito tempo num cargo perdemos o entusiasmo, as pessoas cansam-se de nós e a tendência é para deixar estagnar as coisas estagnarem”.
Nesse sentido, haverá renovação nos órgãos sociais da UIPSSDC, que congrega, atualmente, 180 IPSS, não sem antes acolherem a Festa da Solidariedade, que este ano decorrerá em Coimbra.

SOLIDARIEDADE - Como tem sido o trabalho da UIPSSDC?
HORÁCIO SANTIAGO
- O principal papel é de acompanhamento e, ao mesmo tempo, de congregação de esforços. O papel de acompanhamento, na minha opinião, temo-lo conseguido fazer razoavelmente, mas se pensarmos que a União tem uma colaboradora a meio tempo isto diz muito de até onde é possível ir neste acompanhamento. O papel de congregação, da forma como as coisas decorrem atualmente é ainda, de certa forma, mais complicado. A União não está propriamente no meio entre as instituições e a CNIS. Digamos que fazemos um triângulo e não uma linha reta com alguém que está no meio. O próprio dinamismo da CNIS e os meios que tem, com os quais a União nem se aproxima, faz com que esta ligação coloque de lado as Uniões Distritais (UD). Penso que não é só a de Coimbra, mas a generalidade das UD. Este papel já foi mais importante noutros tempos em que a base forte eram as UD e a CNIS estava no topo, mas esta linha reta tem vindo a alterar-se.

E porque pensa que não se consegue essa congregação que gostaria?
Nós gostaríamos de ter Assembleias Gerais (AG) mais concorridas, se calhar mais polémicas, com discussão daquilo que nos afeta, mas, por norma, são pouco concorridas. As pessoas sentem pouca necessidade de participar, mas isto não acontece apenas na União. Nas AG da CNIS também não são muitos os que lá estão… Daí, o papel de congregação não se alcançar como gostaríamos. No entanto, vamos promovendo algumas iniciativas, como ações de formação, sessões de informação, colóquios, seminários ou reuniões de trabalho.

E as IPSS aderem melhor a essas iniciativas?
Normalmente aderem e temos as nossas expectativas satisfeitas ou até superadas em termos de participação. Mas muitas vezes depende do assunto que se está a tratar. Se faz doer o osso é casa cheia, agora se não faz doer o osso a participação já é menor. Quando apresentámos em Coimbra, juntamente com a CNIS, o Compromisso de Cooperação, a renovação dos Estatutos e algo mais ainda, em que vieram cá a dra. Filomena Bordalo e o dr. Henrique Rodrigues, a casa foi curta para tanta gente que quis participar. Foi casa mesmo muito cheia. Agora se o tema for como desenvolver a resposta de Centro de Dia ou de Apoio Domiciliário já é mais complicado.

Mas há pouco interesse…
Infelizmente, a maior parte das pessoas que estão à frente das instituições são voluntários, ou têm a sua atividade profissional ou são pessoas já com uma certa idade e reformadas, com algumas dificuldades. E os que ainda estão na vida ativa também não têm a disponibilidade necessária para acompanhar estas situações todas. Depois, em vez dos diretores, quem vem às reuniões são os técnicos, mas estas são dificuldades próprias deste Setor Social.

A União tem 180 filiadas, mas como tem sido a evolução do número de associadas?
Houve uma fase em que se afastaram as Santas Casas, que até se compreende pois têm uma associação própria, de resto não temos tido afastamentos. É um facto que não temos aumentado muito o número de associadas, mas também têm sido poucas as que nasceram nestes últimos sete, oito anos. Estamos, sobretudo, a fazer um trabalho para recuperar as que já eram associadas. Ou seja, umas porque já não desenvolvem bem o papel para que foram criadas, outras por dificuldades financeiras e outras até por algum alheamento não cumprem na plenitude o seu papel de associadas. Para desenvolvermos determinado trabalho temos que ter a colaboração das instituições. E temos muitas instituições com mais de 10 anos de quotas em atraso. Temos vindo a contactá-las e a promover acordos para que sejam reintegradas. Não tem havido perdão de quotas, pois seria injusto para as que têm pago, mas temos feito acordos de pagamento da dívida, tendo em conta o valor da dívida e a situação financeira da instituição. Também não queremos que este seja mais um problema financeiro para a instituição.

E qual é a maior necessidade em termos de resposta social no distrito?
É difícil dar uma resposta concreta. Aqui na sede de concelho temos mais carência de lares de idosos, seremos até um dos concelhos com percentagem mais baixa nessa resposta, mas no Interior do distrito as preocupações andam mais pela área da infância, apesar de haver menos crianças. A questão que se coloca é que, como há poucas crianças, deixamos de ter resposta para essas poucas. Como as coisas têm corrido nos últimos anos, penso que a aposta nos Cuidados Continuados Integrados (CCI) tem futuro e é, cada vez mais, necessária, porque os lares resolvem muita coisa, o Apoio Domiciliário e o Centro de Dia ajudam e facilitam à permanência das pessoas no seu meio natural, mas há aquela fase mais terminal em que as pessoas necessitam de grande apoio e cada vez vive-se mais. Pelo que os CCI são uma forte aposta de futuro e que as IPSS também irão procurar desenvolver. Agora, não sei se o Estado vai continuar a abrir algumas fontes de financiamento para as instituições avançarem.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2016-09-20



















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