“Estamos a preparar as coisas para que entre o final deste ano e os primeiros meses do próximo a obra esteja no terreno. Estamos a ver o que é preciso, porque o projeto está a ser reavaliado”, revela Horácio Santiago, presidente da instituição, sublinhando: “Fundamental, para nós, é que o próximo objetivo é construir o lar de idosos. Temos que trabalhar para ele, de uma forma ou de outra. Não avançou antes porque a instituição não estava preparada financeiramente para isso. Também não estará agora, mas tem condições para avançar, até porque tem know-how que nessa altura não tinha”.
O presidente da Celium considera que os ventos correm de feição à valência Estrutura Residencial Para Idosos (ERPI) e é uma aposta de futuro: “O que sabemos é que os lares que abriram na altura em que estivemos para avançar encheram independentemente de terem acordo com a Segurança Social e isto vai continuar por mais 20 anos, pelo menos, porque os idosos a necessitar desta resposta são cada vez mais. Podemos fazer uma aposta porque sabemos que aquilo que se consegue em termos de economia em todas as valências da instituição dar para cobrir até um eventual empréstimo que seja necessário contrair. Apesar de, neste momento, não haver qualquer tipo de financiamento público, penso irá surgir”.
Curiosamente foi a recusa de financiamento público que levou a instituição a frear o seu primeiro ímpeto para construir a ERPI, até porque já estava a avançar com a creche.
“Houve receio que financeiramente pudesse levantar-nos alguns problemas, pois já estávamos com o investimento na creche. A instituição chegou a ter um financiamento aprovado pelo POPH, mas com a entrada de Passos Coelho para o Governo o projeto foi recusado”, sustenta Horácio Santiago, deixando uma crítica: “Fiquei com a sensação que, se calhar, foi-nos tirado a nós para dar a outros…”.
Mas além da nega governamental, outras questões entraram na equação e levaram àquela tomada de decisão.
“Dada a forma como as coisas eram apresentadas, ou seja, que não havia Acordos de Cooperação para o pós-construção e com o financiamento, inicialmente, de 60%, tudo ficou mais difícil”, assevera o presidente, destacando uma situação: “Sobretudo o que se passou foi que tínhamos um projeto inicial para 1,2 milhões de euros, mas o arquiteto que o fez saiu, porque emigrou, e deixou-nos pendurados. O que tínhamos era um anteprojeto com que fizemos a candidatura e o que foi aprovado foi um apoio na perspetiva de um investimento de pouco mais de um milhão de euros. Na altura tínhamos acabado a creche e não havia muito capital. Quando mudámos de arquiteto o projeto foi todo refeito, porque segundo ele não estava em condições, e em vez de 30 passava para 50 camas. Quando questionei os custos, foi-me dito que teria um acréscimo de mais ou menos 200 mil euros. A perspetiva era muito boa e decidimos avançar, só que no final o orçamentado eram cerca de dois milhões de euros. E, nessa altura, a gente tremeu e decidiu não avançar”.
O temor que a situação financeira da instituição ficasse debilitada, levou os seus dirigentes a travar o processo, sem nunca deixarem cair o objetivo, que aliás é bem anterior ao da construção da creche, em funcionamento, desde 2010. Isto, apesar de já ter adquirido um terreno para implantar o lar e onde a Celium pretende construir o equipamento, apesar de umas nuvens pairarem sobre o mesmo.
“É que o famigerado projeto do Metro de superfície, além de passar relativamente perto do terreno onde crescerá o lar, de repente vimos que a garagem e as oficinas também estão lá mesmo ao nosso lado. Isso já será mais perturbador do ambiente que pretendemos e também isso nos retraiu. No entanto, talvez não seja preciso mudar de localização, porque, infelizmente, já não acreditamos no projeto do Metro”.
Todo este processo acabou adiado pelo surgimento da creche, que também era um objetivo, mas não prioritário. Até porque a principal vocação da instituição era, até aí, a área da terceira idade, com o Centro de Dia e o Serviço de Apoio Domiciliário (SAD). Porém, a conjugação de uma série de circunstâncias fez a instituição avançar, como conta o seu presidente.
“A creche surgiu naquela altura e tínhamos que aproveitar, só que surgiu tudo ao mesmo tempo e o lar teve que ser adiado”, começa por dizer, recordando: “A Câmara Municipal de Coimbra já tinha pensado em transferir o jardim-de-infância da freguesia para esta zona onde temos o Centro Social Integrar e que funcionava em instalações que eram temporárias há muitos anos. Quando a Câmara avançou com essa intenção, nós contactámos a autarquia e outras pessoas e entidades no sentido de integrar, no mesmo espaço, o jardim-de-infância e a creche da instituição. E isso foi conseguido satisfatoriamente”.
Quando a creche surgiu em 2010, a Celium já dava resposta à infância através de um Centro de Atividades de Tempos Livres (CATL), que «herdou» da Cáritas Diocesana de Coimbra nos primeiros anos do novo Milénio.
“A entrada da Celium na área da infância dá-se primeiro com o CATL, que já existia pela mão da Cáritas”, conta Horácio Santiago.
Atualmente frequentam o CATL da Celium 35 crianças, enquanto a creche acolhe 30 bebés, sendo que a instituição na área da infância ainda faz o transporte escolar na freguesia, em parceria com a autarquia de Coimbra.
Quando muito se fala da falta de bebés, o líder da instituição revela que é algo que não tem afetado a Celium: “Por estranho que pareça nunca sentimos a diminuição de crianças, a não ser este ano, mas não digo que seja por falta de bebés. O que aconteceu este ano foi que, por qualquer motivo, as crianças para o berçário, as mais pequeninas, estão a começar a aparecer só agora em Setembro. Ou seja, os do berçário estão a surgir mais tarde para preencher as oito vagas que temos. É aqui que a situação está mais complicada. Depois, nos mais velhos temos uma diferença de uma ou duas vagas, porque estive a reservar o lugar para os meninos que ainda não tinham três anos, mas que fazem até dezembro, e que já eram nossos clientes, digamos assim, porque a perspetiva era que não teriam vaga no pré-escolar, como tem acontecido em outros anos. Mas isto é pontual e não estou muito preocupado”.
A confiança de Horácio Santiago ancora-se no facto de Ceira estar num ponto de passagem para quem trabalha em Coimbra e no conhecimento que as pessoas de freguesias e concelhos vizinhos têm da instituição: “A freguesia de Ceira está aqui num ponto de encontro e, apesar de a maioria das crianças serem da freguesia, há muitas de localidades aqui em volta, sobretudo de Miranda do Corvo. Por exemplo, Torres de Mondego, Castelo Viegas e até Almalaguês têm creches, mas têm lugares que ficam mais próximo da nossa do que das creches dessas freguesias”.
Com as valências atuais a navegarem em velocidade cruzeiro, as contas da instituição apresentam-se saudáveis, apesar dos compromissos financeiros que foi necessário assumir para a construção da creche.
“Recorremos à banca mas não foi porque tivéssemos necessidade”, adverte o presidente da Celium, justificando: “Nessa altura estávamos já a preparar o projeto do lar de idosos e a ideia foi que poderíamos ter que avançar para a sua construção. E como ainda estávamos numa fase pós-construção da creche, financeiramente poderíamos ficar um pouco desamparados. Na altura, não por necessidade, pedimos 50 mil euros, que já estão pagos, e como o lar não avançou tão depressa quanto pensávamos, esse dinheiro nem seria necessário”.
Neste cenário, Horácio Santiago mostra-se satisfeito com a situação financeira da instituição: “Está boa e recomenda-se, porque a gestão é criteriosa e feita com muito apoio e sacrifício de todos, trabalhadores e diretores. A instituição não tem dificuldades de gestão para a sua atividade corrente, agora, se pensarmos que queremos fazer um lar, que precisamos de dois milhões de euros e que a instituição terá cerca de 25% e faltam os restantes 75%, as coisas já são diferentes”.
No entanto, isto não trava o sonho dos dirigentes da Celium, que querem continuar a fazer crescer a instituição que nasceu em 1995, pela mão de um grupo de pessoas ligado à Junta de Freguesia de Ceira. Demorou cinco anos a entrar em funcionamento, com o SAD e o Centro de Dia, que hoje apoiam, respetivamente, 36 e 25 utentes, quando foi construído o Centro Social Integrar, tendo vindo a crescer à medida das necessidades da freguesia e não só.
Daí ter sido criado um Fórum Sócio Ocupacional, atualmente com oito utentes, e a instituição assegurar ainda as Atividades Extra Curriculares nas duas escolas da freguesia.
Por isso, como seria Ceira sem a Celium? A resposta sai pronta e espirituosa: “Como diria um amigo meu, a respeito de outra instituição, nunca seríamos os mesmos se não contássemos com a Celium. E isto porque a instituição desenvolve um papel na freguesia que não se vê que possa vir a ser desenvolvido por outra instituição e que é absolutamente fundamental e necessário”.
A fechar, dizer que Celium era o nome de Ceira no tempo do Império Romano.
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