Para o ano não vai haver aulas em Rabal, concelho de Bragança. O único aluno que frequentava a escola da aldeia vai ser transferido para Bragança e, como não se espera o ingresso de mais crianças, o estabelecimento vai mesmo fechar.
Na despedida, a freguesia recebeu os alunos de Varge, Vale de Lamas, Baçal e França, numa festa que assinalou o encerramento oficial do ano lectivo. Todos juntos, os cinco estabelecimentos não somam mais de 20 alunos, o que reflecte as proporções da desertificação no mundo rural.
Na hora do adeus, Hugo Rodrigues, o último aluno de Rabal, não escondeu a vontade de ingressar numa escola de Bragança. “Prefiro ir, porque aqui não tenho ninguém para brincar. Nos intervalos jogava à bola com o professor, mas prefiro jogar com colegas da minha idade”, afirmou o pequeno estudante de nove anos, que acaba de passar para o quarto ano.
António Preto, o professor do Hugo, reconhece que ensinar um único aluno não é motivador. “Não há aquele desafio de levar uma turma inteira por diante, a aprender bem, mas são as escolas que temos”, lamenta o docente, acrescentando que o agrupamento das escolas “será benéfico para todos”.
Ao longo da carreira, António Preto já leccionou numa escola com dois alunos e, apesar das diferenças serem poucas, garante que a experiência de Rabal é única. “O aluno pede a presença do professor em tudo, seja nos trabalhos, nos jogos de computador ou nos intervalos, onde tinha que ir brincar com ele, porque não havia mais ninguém”, recorda o professor.
Quanto à socialização do pequeno Hugo, Preto assevera que, se não fossem os encontros com outras escolas rurais ao longo do ano, o processo “seria ainda mais difícil”.
É por este motivo que o presidente da Junta de Freguesia de Rabal, Paulo Hermenegildo, elogia a decisão dos pais do Hugo Rodrigues. “Tiveram uma atitude correcta e pedagógica ao decidir transferir o Hugo para Bragança, porque um só aluno e um professor não é uma situação favorável ao rendimento escolar”, defende o autarca.
Sendo assim, Paulo Hermenegildo defende a concentração de escolas para proporcionar aos alunos do meio rural maior qualidade de ensino. “É o único caminho para dotar as escolas de boas condições e actividades lúdicas apropriadas que contribuam para aumentar o rendimento escolar”, sustenta o responsável.
A poucos meses de ficar sem escola, Rabal recebeu cerca de 20 alunos, um número pouco comum nos dias que correm. “Quisemos proporcionar um dia diferente ao Hugo, para lhe dar aquilo que quase não teve durante o ano, promovendo o convívio com crianças das aldeias limítrofes”, explicou Paulo Hermenegildo.
Segundo o autarca, o edifício da escola de Rabal poderá vir a ser cedido à Associação de Caça e Pesca do Coroto, mediante aprovação da Câmara Municipal de Bragança.
Se a edilidade ceder o imóvel, este pode ser o destino duma escola que já teve dezenas de alunos, com duas salas a funcionar. Outros tempos.
Por João Campos
JornalNordeste
Data de introdução: 2005-07-08