CASA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, FIGUEIRA DA FOZ

Reativar a formação de jovens e adultos

“Esta casa nasceu para que existisse uma escola para raparigas”, começa por dizer a irmã Pilar Monteiro, presidente da Casa Nossa Senhora do Rosário, lembrando que “as Irmãs Doroteias vieram para a Figueira da Foz para educar as meninas” em 24 de outubro de 1930, instalando-se então num rés-do-chão e 1º andar no Beco da Lomba.
Passados poucos dias iniciaram a sua atividade abrindo uma Escola Primária com 12 alunas, atingindo cerca de 50 em finais de novembro. O ensino ministrado, traduzido na formação nos domínios intelectual, físico, moral e religioso, englobava alguns suplementos nas áreas da economia doméstica, costura, bordados, higiene, procurando atingir o conceito da educação integral da pessoa.
Como se pode ler na história da instituição, «dada a exiguidade do espaço para responder à afluência de crianças matriculadas, em 1931 passaram a ocupar as instalações do antigo Hotel Jardim, contíguo ao Jardim Municipal».
Ainda sob o nome de Patronato de Nossa Senhora do Rosário, a partir de 1938, as «alunas de todas as condições sociais» passaram a frequentar as aulas num edifício no Passeio Infante D. Henrique, recebendo, em 4 de novembro de 1940, autorização de funcionamento seguindo os planos e programas oficiais. É nesta altura que sofre uma mudança de nome, passando a designar-se Escola do Patronato de Nossa Senhora do Rosário.
Cada vez com mais procura, em 1948 e 1949 o estabelecimento sofreu alterações no sentido de tornar as instalações mais amplas.
Juridicamente, em setembro de 1979 passa a Fundação de Solidariedade Social e, por despacho de 18 de junho de 1980, passa a designar-se Escola da Casa de Nossa Senhora do Rosário.
Por fim, em outubro de 1990, perante a degradação do edifício, exiguidade do espaço e às novas exigências educativas, a já Casa de Nossa Senhora do Rosário transfere-se para as instalações onde funciona atualmente, sito na freguesia de Tavarede.
São 86 anos de história, com sucessivas mudanças de estatuto e de nome, mas sempre com um fito, como refere a irmão Pilar Monteiro: “Desde início a filosofia da Congregação era para que as escolas fossem gratuitas e quando não o eram, porque tinha internato, havia a escola para quem pagava e ao lado outra para quem não podia pagar”.
Os tempos que correm não são os mais favoráveis, porque a crise da natalidade tem-se feito sentir. Por isso é que a escola não abriu turma de 1º Ano.
“Na Casa temos uma pequena escola, que está a decrescer, agora com 50 crianças. No jardim-de-infância temos 40 meninos, com salas mistas dos 3 aos 5 anos, e no ATL temos cerca de 50 crianças, mas nas pausas, especialmente no verão, recebemos muitas mais, porque somos das poucas instituições que está aberta todo o ano”, revela a religiosa, que sublinha um aspeto de grande importância para a vida da Casa: “A escola funciona completamente a expensas dos pais e da Congregação, pois não tem qualquer contrato de associação. E temos aqui muitas crianças que não pagam absolutamente nada. O problema está precisamente aí, porque a escola não tem capacidade de subsistência”.
E se a génese da Casa é a educação, primeiro só de meninas e, depois aberta a todos, a resposta à sociedade não se fica por aqui e pela infância.
“Além da escola e do jardim-de-infância, temos ainda um Centro de Formação, que no momento está um pouco em «stand by», mas estamos a tratar de o dinamizar novamente, e ainda duas áreas que são especificamente de intervenção social. Um Centro Comunitário que trabalha toda a ação social da freguesia de Tavarede e ainda apoia 100 famílias, para além contar com uma psicóloga que dá apoio a vítimas de violência doméstica em todo o concelho”, sustenta, acrescentando: “Depois temos uma equipa exclusivamente dedicada ao RSI que gere 140 processos, quando devia ter apenas 100 em mãos. Com estas 140 famílias, a equipa já criou o Centro de Gestão do Stresse, onde os beneficiários desenvolvem diversas atividades, entre as quais teatro. Sistematicamente estão a ser desenvolvidos projetos com esses beneficiários, no sentido de os capacitar e motivar, sendo que depois há sempre a grande dificuldade em encontrarem emprego”.
O trabalho de intervenção social ganha terreno na instituição também devido à zona em que está inserida.
“Na nossa área temos uma grande comunidade de etnia cigana, cujas crianças muitas delas andam aqui na instituição, tanto no infantário como na escola. E, tanto no jardim-de-infância como na escola, temos muitas crianças oriundas de famílias carenciadas e temos algumas parcerias com outras instituições cujos meninos vêm para aqui. Para isto subsistir é necessário que também haja quem possa pagar, mas temos um número muito significativo de crianças que paga um valor simbólico”, conta a irmã Pilar Moreira, sublinhando: “Há muitas famílias que têm graves carências e que têm crianças que precisam de muito apoio e a nossa circunstância permite-nos fazer um acompanhamento muito próximo”.
Para a religiosa, a grande vantagem da Casa é a sua dimensão, que permite um acompanhamento fino das situações.
“O acompanhamento não se fica pela criança, porque temos também a equipa do RSI que entra logo em ação no sentido de avaliar a situação e intervir. Esta resposta global à família dá-se melhor se a criança estiver na escola debaixo do nosso olhar. O trabalho de intervenção social ganha peso se estivermos a acompanhar a criança”, argumenta, lembrando que “a Casa tem um conjunto de recursos que ajuda a fazer um trabalho de intervenção social muito mais completo”.
Por outro lado, “a escola também sai enriquecida pela diversidade de crianças e famílias que a frequentam”.
Porém, a falta de crianças que a irmã Pilar Moreira pensa estar a passar, e a condição económica da comunidade que serve levanta problemas complicados.
“A Casa está no fio da navalha em termos financeiros, mas neste momento não devemos nada a ninguém, claro que com o apoio da Província Portuguesa da Congregação”, anota, reforçando: “A grande dificuldade é a dimensão económica, mas penso que as coisas poderão a melhorar, porque as outras turmas até têm bastantes crianças”.
As coisas estão a melhorar mas com os atuais acordos de cooperação, a responsável pela Casa não perspetiva que o jardim-de-infância consiga alimentar a escola com alunos.
“Tínhamos acordo para 72 crianças, mas com a abertura do centro escolar aqui ao lado houve uma diminuição da frequência e o acordo passou para 50 e com apenas 50 crianças em pré-escolar não dá para alimentar a escola… E nem todas as crianças transitam para a nossa escola, mas mesmo que transitassem não chegava para suportar os custos de uma turma”.
É no sentido de olhar a sustentabilidade, mas sobretudo a intervenção social global, que a Casa pretende reativar a área da formação.
“O Centro de Formação existiu sempre, só que estamos a aguardar pelas verbas do Portugal 2020, pois de momento não há equipa. Temos instalações, mas necessitamos de pedir novamente a certificação e para tal temos que admitir uma pessoa para a coordenação do Centro e não tem sido fácil”, lamenta a religiosa, destacando as virtudes, no seu entender, da aposta: “A formação de jovens e adultos vem completar a dimensão de intervenção social de que falava. Nas famílias beneficiárias do RSI há sempre desempregados, então a formação é um complemento extraordinário no sentido de preparar essas pessoas para a vida ativa e também de as valorizar e isso é algo fundamental para que a sociedade evolua. A formação é extremamente importante e, para além do currículo, damos-lhes desafios, como o teatro, a escola de mãe, etc”.
E este não é o único olhar que a instituição figueirense está a lançar ao futuro.
“Neste momento temos em embrião um outro projeto pois há muitos idosos isolados. A Junta de Freguesia quis fazer um projeto e nós comprometemo-nos com uma zona da freguesia onde temos feito o acompanhamento como podemos. Temos uma lista de 400 idosos, que vamos visitando aos poucos, mas queríamos robustecer o projeto”, revela a irmã Pilar Moreira, identificando os primeiros degraus a subir: “Para tal precisamos de colocar umas portas corta-fogo – parece que não tem nada a ver, mas tem – para podermos continuar a fazer propostas à Segurança Social e esperar que esta adira ao projeto”.
Ora, as dúvidas da presidente da Casa prendem-se com o facto de o projeto ser inovador e poder haver a confusão com outras resposats sociais típicas.
“A nossa ideia é que as pessoas venham até aqui quando lhes apetecer, sem com isto as estarmos a retirar de casa e a institucionalizar. No fundo, é um projeto de desenvolvimento comunitário a partir da intergeracionalidade, porque queremos que estas pessoas se cruzem com as nossas crianças”, defende, acusando: “Fala-se muito da intergeracionalidade mas é preciso dar-lhe consistência. Fala-se muito do envelhecimento ativo, mas das 17h00 até ao outro dia de manhã os idosos ficam sozinhos à espera das equipas do SAD. Ora, nós propomo-nos a dar esse apoio, que ninguém pode dar, com pessoas de muita confiança e que estejam com os idosos nesses momentos”.
Cereja em cima do bolo neste ano de 2016 foi a vitória da Casa Nossa Senhora do Rosário do 1º Prémio Ciência na Escola, da Fundação Ilídio Pinho, no valor de 10 mil euros, com o projeto «Um papel com ciência», no âmbito do projeto Ciência Divertida.
“O projeto consistiu no estudo de uma alga invasora em que os alunos concluíram que apanhada e tratada, para além de papel, poderiam fazer fertilizante. Testaram-no em hortas e tem sido uma maravilha. E foi assim que nasceu o projeto vencedor”.

 

Data de introdução: 2016-12-01



















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