“Ao longo dos tempos podíamos ter investido em outras respostas sociais e até em outras áreas, mas a preocupação constante de procurar a qualidade e de dar o melhor possível à população idosa achamos que era aí que devíamos investir. Daí termo-nos especializado na área dos idosos”, defende Paula Pimentel, vice-presidente da instituição brigantina, com responsabilidades de presidente.
Nesse sentido, a Direção da instituição decidiu apostar na remodelação e ampliação das instalações, um dos projetos que visa dar melhores condições de envelhecimento aos seus utentes.
“Como, se calhar, não se justifica criar mais lares, a nossa aposta vai no sentido de reconstruir e tem sido apenas por falta de verbas que este projeto muito antigo ainda não está terminado”, lamenta.
Assim, nos últimos anos a Fundação Betânia tem andado “a investir na qualidade e no conforto”, tendo em 2010 entrado “num processo de remodelação interna”.
“O projeto de arquitetura está pensado para uma ERPI como a que temos, mas queremos criar duas zonas distintas: uma para pessoas com algum tipo de demência, porque temos um público distinto em termos de diagnóstico e não há muita aceitação entre todos os utentes; e um outro com quartos mais adaptados a utentes que surjam já com outro tipo de exigências, como computadores, internet, etc”, revela Paula Pimentel, que lembra que, a nível de Centro de Dia, 75% dos utentes tem diagnóstico de Alzheimer.
Esta preocupação com um problema crescente entre a população mais velha ganha força com a realidade: “As famílias não estão em condições de os deixar sozinhos nem de deixar de trabalhar para cuidar deles. E, na verdade, a partir do momento em que entram para o Centro de Dia acabam por estabilizar em termos de evolução da doença”.
Por isso, a instituição quer “criar melhores condições para acolher este tipo de população”.
Mas a criação de uma ala no lar vocacionada para os utentes com demências não é o único projeto em marcha na Fundação. Nesse sentido, surgiu em maio de 2016, com uma sugestiva denominação, o Ginásio do Cérebro Sénior.
“É um espaço físico, constituído por um conjunto de equipamentos de última geração, com o objetivo do treino cognitivo e sensorial”, começa por referir Bruno Santos, o principal responsável pelo projeto, e que explica: “Está direcionado para públicos com e sem quadros de demência e o objetivo é intervir ao nível da prevenção e de quando já existe um quadro de demência reabilitar ou retardar o seu desenvolvimento. Hoje essas doenças ainda não têm cura, mas pelo menos tentamos através de uma terapia não farmacológica intervir e retardar o seu desenvolvimento, treinando a memória, a perceção, o raciocínio, a atenção, a concentração e outras competências cognitivas. Não podemos esquecer que o cérebro também é preguiçoso, pelo que é necessário estimulá-lo”.
O termo ginásio não é inocente. Tal como o corpo também o cérebro precisa de ser estimulado.
“Chamámos-lhe Ginásio porque o envelhecimento ativo implica o exercício físico mas também o mental. Normalmente associamos o termo ginásio à parte mais física, mas, assim, associamo-lo também à parte mental, até para ajudarmos à mudança de paradigma”, explica Bruno Santos, que adianta estar o projeto agora numa primeira fase de avaliação: “Foram aplicadas escalas e agora vamos medir o impacto mais científico neste início de ano. Através de uma observação mais informal, o impacto tem sido muito positivo, logo pela adesão, pois os utentes adoram ir para o ginásio e participar nas atividades. Os ganhos são evidentes”.
Todas as intervenções no edificado e não só têm sido possíveis pelo investimento da instituição, pois até agora os apoios não têm existido.
“Temos procurado fazer uma gestão muito apertada e eficaz, para quando é preciso termos capacidade financeira. Daí que a remodelação tenha sido toda feita a expensas próprias”, afirma Paula Pimentel, lembrando que apenas a reformulação da entrada da instituição contou com uma colaboração da Câmara Municipal.
“Com o tal rigor na gestão temos uma situação financeira estável. E com isto não estou a dizer que temos muito dinheiro, mas temos condições para no caso de, por exemplo, em época de subsídio de Natal ou de férias, não termos que recorrer à banca. Temos sempre um fundo de maneio que nos dá para uma qualquer despesa extraordinária”, sustenta a vice-presidente, que aproveita para sublinhar: “Para mim, isto é uma situação saudável. Não é ter muito dinheiro, porque o que vamos conseguindo vamos investindo na instituição. No fundo, temos uma situação financeira equilibrada e espero que assim continue”.
A Fundação Betânia serve um vasto espectro de população, tendo gente que pouco pode pagar, gente que pode pagar e ainda algumas camas ocupadas pelas vagas da Segurança Social.
Atualmente acolhe 68 idosos em ERPI, apenas 56 contratualizados, e 12 em Centro de Dia, sem qualquer comparticipação estatal, e serve 25 utentes no SAD, com apenas 23 acordos de cooperação. Com um corpo de 43 funcionários, a não total cobertura da capacidade pelo financiamento estatal acaba também por ser um dificuldade acrescida.
“Até 2012 tínhamos o máximo da capacidade que era de 60 idosos, mas com a alteração da Portaria e com as obras de remodelação conseguimos ampliar a capacidade para 79. O que acontece é que quando tínhamos os 60 tínhamos metade dos quartos individuais e a outra metade duplos e os utentes dos quartos individuais ainda cá permanecem, pelo que ainda não conseguimos aumentar a capacidade efetivamente”, refere Paula Pimentel, que recorda: “No ano passado tivemos mais procura no SAD e menos na ERPI, porque os familiares por questões de rendimento do agregado procuram serviços muito completos mas por pouco dinheiro”.
O Centro de Dia é a resposta mais recente na instituição de Bragança e a sua criação obedeceu a um critério a que os responsáveis são muito sensíveis: “Acaba por servir de transição para o lar, porque as pessoas ainda têm muita reserva em virem para o lar, mas depois de experimentarem o Centro de Dia são elas próprias a pedir uma vaga no lar”.
Porém, as vagas em ERPI, na esmagadora maioria das situações, surge apenas por morte de utentes.
“O maior problema com que me deparo é o ter que dizer que não há vaga e as pessoas muitas vezes não entenderem. Felizmente, os que cá estão estão bem e duram muito tempo e, infelizmente, as vagas só surgem pela morte dos utentes”, sustenta Paula Pimentel, que está ciente da necessidade destas respostas à população.
“Em primeira linha, o grande problema os idosos é a falta de retaguarda familiar, não porque não tenham família ou suporte, mas porque a família não tem condições para cuidar. É uma tarefa muito exigente, pelo que têm encontrar um local onde deixar o seu familiar em segurança”, afirma a vice-presidente, ao que Bruno Santos acrescenta: “E também porque as habitações não estão preparadas para eles lá permanecerem”.
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Outra das apostas da instituição tem sido na implementação da qualidade.
Tudo começou em 2007, mas, apesar de haver procedimentos implementados, a certificação ainda não existe.
“Antes do selo, o que queremos é a organização interna e que todos os setores funcionem adequadamente. Há uma componente burocrática muito forte no sistema de implementação da qualidade e isso tem-nos inibido de avançar com a própria certificação. Por esse motivo, e dando sempre prioridade ao utente, acabamos por ir sempre adiando esse passo final”, justifica, lembrando os custos: “Depois, há os custos que isso acarreta, porque não é só conseguir a certificação, são também os custos da sua manutenção. E o que nos preocupa é a organização interna e a qualidade dos serviços, mais do que a certificação em si”.
Mesmo assim, como defende Bruno Santos, “o sistema está implementado e a funcionar, mas sem o selo”, que acrescenta: “Em termos objetivos a qualidade existe, seja nos procedimentos ou em outras situações da vida da instituição, para além de que a equipa da qualidade todas as semanas reúne e faz o ponto da situação. A comunicação existe e flui entre todos, o que ajuda a manter a organização e a boa imagem para o exterior”.
Para Paula Pimentel, “na comunicação entre as pessoas e os diferentes setores há ganhos significativos, tal como a própria intervenção no edifício que surge na sequência de avaliações que são feitas, e ainda no envolvimento de toda a família Betânia, que são os funcionários, os utentes, os familiares, os fornecedores”.
Em jeito de desabafo, a vice-presidente atira: “O que nos dava jeito para a certificação era haver um FAS 4”.
De olhos postos no futuro, e no sentido de homenagear o fundador, o cónego Aníbal Folgado, a instituição tem um projeto para a aldeia do Picote, onde ele nasceu: “Temos já o projeto de arquitetura para a criação da Casa Cultural Cónego Folgado. A ideia é criar um espaço cultural na casa de família do cónego Folgado. São um conjunto de casas pequenas que pretendemos constituir em uma só, junto à Barragem de Picote, e que queremos que sirva para exposições, encontros, residências artísticas, etc. Seria muito mau perder aquilo onde tudo começou. E assim podemos homenagear quem doou tudo à comunidade”.
Foi em 1984 que foi lançada a primeira pedra do que em 1996 viria a ser a Fundação Betânia. O cónego Folgado, juntamente com dois sobrinhos – um dos quais (Adelino Pais) lhe sucede atualmente na presidência da instituição –, decidiu constituir a Fundação Betânia e doar todo o património à diocese.
Começou por adquirir a Quinta do Seixo com ajuda de pessoas da zona e, à medida das possibilidades, foi investindo no espaço e criando a estrutura. “Chegou a hipotecar a própria residência para conseguir empréstimo para construir esta casa”, conta Paula Pimentel, com visível admiração.
Em 1996, a instituição abriu portas com três respostas: Lar, SAD e um Centro de Acolhimento Temporário para menores em risco, que dois anos depois foi transferido para Mirandela.
Hoje acresce o Centro de Dia e mais de uma centena de utentes.
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