O Centro de Reabilitação e Bem-Estar é o mais recente equipamento da APPACDM Porto e através do qual a instituição “procura não só a intervenção terapêutica, mas dar algum prazer à pessoa que está a utilizá-lo”, afirma Teresa Guimarães, presidente da instituição, que lembra os efeitos do relaxamento, da estimulação através da cor, do tato e do contacto com a água.
A finalidade deste espaço é criar “momentos de prazer, de relaxamento e, ao mesmo tempo, momentos terapêuticos”, explica, sublinhando: “A grande inovação deste projeto é combinar a água com o snoezelen. O ambiente snoezelen e a água proporcionam momentos de relaxamento fantásticos”.
O novo equipamento nasce no espaço da antiga piscina de 15 metros, “que funcionou durante muitos anos, mas que a dada altura se tornou insustentável, já que os custos de manutenção eram muito elevados”, e teve na sua génese o apoio de um arquiteto irmão de um utente.
“Começou-se, então, a desenhar este novo espaço, ou seja, acabar com a piscina e fazer um tanque mais pequeno”, e após algumas candidaturas para financiamento falhadas, no final de 2015 a Câmara Municipal do Porto aprovou um financiamento de cerca de 40 mil euros para o projeto.
“Este empurrão da autarquia foi muito importante, tendo depois congregado outros apoios, como, por exemplo, do colégio CLIP, ou do nosso padrinho André Villas-Boas, que ofereceu todo o equipamento do ginásio de fisioterapia”, destaca Teresa Guimarães, que revela a segunda fase do projeto: “Através de uma candidatura que apresentámos ao BPI Capacitar, vamos remodelar cinco salas terapêuticas, com o objetivo muito concreto de dar continuidade às terapias da Intervenção Precoce. Temos aqui muitas crianças que chegando aos seis anos saem do SNIPI (Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância) e, então, deixam de ter acesso a terapias que são fundamentais ao seu desenvolvimento. O nosso objetivo é proporcionar-lhes continuar a usufruir dessas terapias, agora fora do SNIPI. Obviamente, nunca será um serviço gratuito, porque não temos capacidade para tal, mas haverá uma comparticipação social mínima”.
A prevista requalificação será feita em salas que já existem, mas que a instituição quer dotar com material inovador e o mais multifuncional possível, porque “a ideia é também ir ao encontro das pessoas que não têm resposta em CAO, as que estão em lista de espera”.
Para além disso, e imbuída de um espírito de partilha, a instituição, porque também não utiliza a cem por centro a infraestrutura, está já a protocolar com outras IPSS a sua utilização.
“O espaço é tão bom que não o podemos guardar só para nós. Com os nossos clientes não o utilizamos totalmente, pelo que o disponibilizamos a outras instituições”, revela a presidente, frisando que há igualmente outra intenção: “Também a pensar na sustentabilidade da estrutura, que consome muita energia, tem elevados custos com o tratamento da água, etc.”.
O Centro de Reabilitação e Bem-Estar agora inaugurado orçou em 84 mil euros e “está totalmente paga”, sem que a instituição tivesse que recorrer a empréstimos, o que lhe garante alguma estabilidade financeira.
“As finanças da instituição estão melhor do que já estiveram e, neste momento, estão estáveis. Uma das principais preocupações da Direção é, precisamente, a sustentabilidade da instituição”, daí não avançar para outros projetos que, para já, estão apenas em mente.
A APPACDM do Porto começou, como todas as demais, por ser uma delegação da estrutura nacional e tinha uma intervenção muito mais alargada, pois cobria os concelhos do Porto, Matosinhos, Gaia, Maia e Trofa.
“Na altura, o gigantismo que assume quase que impôs a separação de todos os centros. Estamos por volta do ano 2000 quando deixa de haver delegações e todas estruturas se autonomizam. Primeiro a do Porto, de Gaia e a de Matosinhos e, mais tarde, a da Maia e a da Trofa”, conta Teresa Guimarães, que se apoia na história da instituição para lançar os olhos ao futuro: “É curiosa a história, porque se inicialmente era a Associação Portuguesa de Pais e Amigos da Criança Diminuída Mental, ou seja, era muito virada para as crianças, era uma unidade de apoio educativo para crianças com necessidades educativas especiais, mais tarde o crescimento das crianças obrigou a que a instituição também se adaptasse a essa nova realidade. Passou a ser o apoio ao cidadão deficiente mental e é, nessa altura, que surgem as estruturas para jovens e adultos com os Centros de Atividades Ocupacionais (CAO)”.
Esta evolução na resposta às necessidades dos utentes tem, segundo Teresa Guimarães, um novo desafio à sua frente.
“Hoje em dia temos uma nova realidade e esse é o grande desafio desta Direção e que é o envelhecimento. Felizmente, estas pessoas vivem cada vez mais tempo, posso dizer-lhe que estão aqui pessoas com Síndrome de Down com mais de 60 anos, que quando nasceram não era essa a esperança de vida delas, mas também os pais vivem cada vez mais tempo. Temos alguns pais de utentes com mais de 80 anos que ainda são os cuidadores dos seus filhos. E o nosso foco a nível da intervenção tem que virar também para lado”, sustenta, identificando o desafio da APPACDM: “Eles como envelhecem também vão perdendo faculdades, como todos nós, e é preciso estarmos preparados para isso. Preocupa-me muito não só o envelhecimento, com a perda de mobilidade e de faculdades, e a necessidade de termos que ir adaptando as nossas terapias e a nossa intervenção a essa realidade, mas também as famílias, que cada vez mais precisam de mais apoio. Os pais chegam a uma altura em que já não conseguem tratar dos seus filhos, pelo que se torna importantíssimo esse apoio”.
Esta preocupação com o envelhecimento da população utente já levou a APPACDM a tomar algumas medidas como o caso de todos os quatro CAO já terem uma sala de bem-estar, “para aquelas pessoas que já não querem participar nas atividades e pretendem estar mais clamas e tranquilas”, diz a presidente, acrescentando: “Procuramos ir sempre de encontro ao que os utentes querem e às suas expectativas e se a pessoa já não quer participar, tem a oficina de bem-estar, como lhe chamamos, para ficar”.
A instituição, atualmente, serve 165 pessoas em CAO, acolhe 53 em Lar Residencial, apoia cerca de 200 crianças através da Intervenção Precoce, apesar de apenas ter protocolado com a Segurança Social 106, e ainda 13 pessoas no Centro de Atendimento, Acompanhamento e Reabilitação Social para Pessoas com Deficiência (CAARPD).
“Estamos, neste momento, a apresentar um projeto de alargamento à Segurança Social para esta resposta, até porque temos este espaço novo, o que é muito vantajoso para esta resposta e queremos alargar para 25 utentes”, revela Teresa Guimarães, explicando: “Basicamente, é um espaço onde se oferece uma resposta para quem não está em CAO através de algumas terapias de desenvolvimento, mas também pode incluir apoio jurídico, psicológico, serviço social. E também inclui terapias de integração sensorial, psicomotricidade, ocupacional, da fala, etc.”.
Porém, a escassez de vagas em algumas respostas leva a que as listas de espera sejam vastas.
“Temos uma lista de espera grande, mas a maior é para Lar Residencial, apesar de termos uma bastante significativa para CAO. No entanto, muitos dos inscritos nessa lista de espera para Lar não são para agora, ou seja, os pais inscrevem os filhos para quando um dia não puderem cuidar deles terem onde os colocar. Grande percentagem da lista de espera para Lar é para o futuro”, realça, explicando a razão de a instituição acompanhar quase o dobro das crianças que tem protocoladas na Intervenção Precoce: “As crianças que são sinalizadas por uma questão qualquer para a Intervenção Precoce não pode ficar em lista de espera”.
A dispersão territorial da instituição levanta alguns problemas funcionais e de sustentabilidade pelo que a instituição sonha com algo maior e, acima de tudo, melhor para a instituição e para os utentes.
“Neste momento, temos um grande desafio pela frente e que se prende com a distância entre todas as unidades da APPACDM, o que torna a qualidade da nossa resposta muito pesada a vários níveis. O nosso grande desafio para o futuro será tentar concentrar mais as respostas. Como a legislação já permite que os lares residenciais acolham 30 utentes, uma das nossas ideias é de, em vez de termos quatro lares com 53 pessoas, termos apenas dois maiores com 30 pessoas cada. Iríamos conseguir ganhos muito importantes”, argumenta, lamentando, porém, os obstáculos financeiros: “Isto é algo que exige investimento e, apesar de gozarmos uma maior estabilidade financeira, não estamos em condições de avançar com essa intenção”.
Com o Centro de Reabilitação e Bem-Estar inaugurado, as requalificação das cincos salas terapêuticas quase em marcha e a «reunião» dos lares residenciais adiada, a APPACDM Porto tem já em movimento um outro projeto, mas este de valorização dos seus utentes.
“É um outro projeto que teve financiamento aprovado no final de 2016 pela Câmara do Porto e que consiste em, através do ténis e do futebol, fazer dos nossos utentes formadores das AEC nas escolas primárias do concelho. É um projeto que vai ser dispendioso, mas é muito inclusivo e vai nesta linha de os colocarmos na comunidade”.
Se a velhice preocupa os responsáveis pela instituição, a inclusão destas pessoas na sociedade, em especial dos mais jovens, é a prioridade.
“Existem grandes desafios para o futuro, mas que vão nascer com as gerações de agora, não será com as pessoas com deficiência que têm agora 30 ou 40 anos, porque até a mentalidade dos pais é diferente. Os pais antigamente queriam um espaço onde os seus filhos fossem acolhidos e protegidos e o que queriam era o bem-estar deles, não se preocupavam tanto com o resto. Hoje os pais preocupam-se com as atividades que desenvolvemos, mas penso que os pais do futuro serão ainda mais diferentes”, sustenta Teresa Guimarães, concretizando: “Estão agora a nascer crianças que os pais não querem em CAO, querem-nos na comunidade e querem que o apoio das instituições seja para os colocar lá fora na comunidade e não mantê-los dentro das instituições. De qualquer forma, há sempre um trabalho de CAO, não diria profissionalizante, que se pode fazer, mas para prepará-los o mais possível para o mercado de trabalho e dar-lhes aí o acompanhamento. Penso que podemos ir muito por aí, ou seja, preparar as pessoas para pequenas tarefas fora da instituição e acompanhá-las”.
No entanto, a dirigente lembra que “há sempre aquela população mais dependente para as quais é necessário ter sempre a melhor qualidade de resposta”, reafirmando que “os pais do futuro estão mais voltados para que os seus filhos estejam fora da instituição”.
Suspenso desde 2006, o Cridem – Concurso Nacional de Obras de Expressão Plástica de Pessoas com Deficiência Intelectual regressou em 2016. A 14ª edição do Cridem, organização da APPACDM Porto, contou no retorno com a participação de 70 instituições de todo o País, estando a próxima edição prevista para 2018.
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