Após a revolução de 1974, e naquele impulso de cada um querer fazer algo para melhorar a vida de todos, nasceram diversas comissões de moradores. Também na Zona Alta, sem qualquer infraestrutura de apoio à comunidade, nasceu uma comissão de moradores muito dinâmica devido à expansão demográfica.
“Tratadas as prioridades que a população sentia na altura e com a creche e jardim-de-infância a caminho, uma vez que nada havia em Torres Novas, a não ser o jardim-escola João de Deus para quem podia pagar, a comissão de moradores dividiu-se no clube desportivo e na instituição social”, recorda Manuela Neves, presidente e fundadora do CEBSZA”, sublinhando que “ainda hoje há uma excelente relação entre as duas entidades”.
Manuela Neves conta que, apesar dos estatutos já preverem o apoio à terceira idade, “o grande objetivo era construir a creche e o jardim-de-infância”.
“Nesse espaço de tempo em que fomos tentando reunir condições para construir essas valências, dois professores lançaram o desafio para a criação de um COJ - Centro de Ocupação Juvenil, que era uma necessidade premente na altura para manter os miúdos ocupados quando não estavam na escola”, recorda, acrescentando: “No entanto, como precisavam de suporte jurídico, a instituição foi esse suporte, tendo nós contratado uma assistente social e uma educadora social”.
Ganhava logo aí mais uma resposta, que atualmente movimenta 145 jovens.
“O COJ é um ATL sem almoço e dá apoio na educação integral dos jovens, nas horas livres e nas férias, e funciona nas instalações da escola Artur Gonçalves. Também temos o EPA, ou seja, É Pura Animação, que é a mesma coisa que o COJ, só que funciona na instituição e tem almoço. Isto é para crianças a partir dos 10 anos”, explica Manuela Neves, recordando que foi “perante a solicitação dos pais que nasceu o ATL”.
Para presidente da instituição foi sempre assim que o CEBSZA avançou no seu crescimento: “Nunca fizemos inventariação das necessidades porque nunca foi preciso, pois as pessoas é que vinham ter connosco”.
O ATL começou por funcionar em salas alugadas, mas como a instituição tinha “40 mil contos”, deu início à construção do edifício do Centro Comunitário, para onde viria, mais tarde, o ATL e todas as respostas que estavam espalhadas por diversos espaços alugados na zona.
“No entanto, sentimos algumas dificuldades de financiamento e os custos eram muitos, porque tínhamos muitos espaços alugados para as nossas respostas. Foi, por isso, que apressámos a construção do edifício, que demorou muitos anos, mas a primeira fase foi rápida. Construímos a cave, onde passou a funcionar o ATL e depois o resto foi aos poucos”, conta Manuela Neves, que recorda ter a creche sido o primeiro edifício construído, inicialmente apenas um rés-do-chão.
“Quando ficou pronto, em 2005, abrimos o Centro de Dia. A construção demorou muito tempo porque não havia dinheiro e o PIDDAC não avançava. Era um ciclo vicioso e, então, resolvemos contrair um empréstimo de 400 mil euros e acabámos a obra”, sublinha a presidente, lembrando a abertura da instituição à terceira idade.
Em termos financeiros, o Centro de Bem-Estar Social já viveu melhores tempos e a fonte dos problemas está devidamente identificada.
“As finanças desta casa já estiveram melhores”, começa por dizer Manuela Neves, justificando: “Até abrirmos o LIJ as coisas estavam mais ou menos bem. Nunca tivemos muito dinheiro, mas tínhamos sempre algum para fazer qualquer coisa. Hoje para fazermos algum melhoramento já tem que ser algo muito bem ponderado, porque as coisas já não são como antes de 2011. É que o LIJ é uma resposta altamente deficitária que influencia toda a estrutura financeira da instituição”.
Para a presidente do CEBSZA, a resposta Lar de Infância e Juventude (LIJ) tem um problema para o qual ainda não conseguiram solução.
“O nosso LIJ tem 12 rapazes, mas se tivesse 15 o pessoal era o mesmo e tínhamos apoio para mais três o que já nos chegava para equilibrar mais as contas. O apoio para mais três significa cerca de 30 mil euros por ano, o que é significativo. Falta-nos economia de escala na resposta. Só que o LIJ não tem capacidade para esses mais três rapazes”, lamenta, lembrando que a resposta funciona numa casa de habitação que foi adaptada pela Câmara Municipal.
Aliás, a valência caiu no colo da instituição… por acaso.
“Inicialmente o LIJ era para ser um CAT (Centro de Acolhimento Temporário), mas a Segurança Social inverteu a situação e disse que já não precisava de CAT e se a instituição quisesse um LIJ que avançasse”, recorda José Rainha, vice-presidente do CEBSZA, continuando: “Estava tudo preparado para ser um CAT, com os berços e tudo, mas na assinatura do protocolo afinal tínhamos um LIJ. Pedimos referências, porque não estávamos preparados e disseram-nos que as referências que tinham eram más e que esperavam que nós fôssemos a boa”.
Momentos houve em que os responsáveis se arrependeram de terem abraçado a valência, mas “graças à equipa que é muito boa” e ao empenho de todos, José Rainha afirma com orgulho que ao fim de seis anos “o LIJ já é uma referência”.
“Nós procuramos ter qualidade em todas as respostas, só que o LIJ é uma valência muito exigente e é muito difícil ter qualidade. Pegar nos jovens que nos chegam e «reconstruí-los» é um trabalho muito exigente e tem que se ter pessoas com qualidade na resposta, apesar de outros apoios de voluntários. Fazer este trabalho numa resposta que, em tão pouco tempo, já é uma referência é muito exigente e requer muito dinheiro”, sustenta o «vice».
Manuela Neves reafirma que “de momento não há possibilidade de aumentar a capacidade do LIJ” e recorda que “no início foi o inferno com a valência, porque os jovens que chegaram tinham muitos e graves problemas”, contando que “o presidente da Câmara chegou a dizer que não queria o LIJ naquele bairro”.
O vice-presidente lembra que os jovens que foram enviados para o LIJ eram bastante problemáticos e a instituição não estava preparada.
“Recebemos ali jovens com doença mental e com problemas com droga e com álcool e o que se estava a fazer era uma inclusão que levava à exclusão”, afirma, ao que Manuela Neves acrescenta: “Aquilo foi, de facto, o inferno no início, mas hoje temos orgulho na casa que temos. No entanto, temos aqui um imbróglio, porque estas coisas aguentam-se dois, três anos, mas não aguentam muito mais”.
Apesar de tudo e pensando nos jovens e no objetivo do LIJ, a instituição já avançou para a criação de uma casa de autonomia, tendo já adquirido um edifício no qual já substituíram o telhado.
“Agora, o que estamos a tentar com esta casa de autonomia é arranjar algum apoio a nível da Segurança Social que ajude a colmatar estes défices que temos. Não sabemos como, mas estamos a tentar. Neste momento já temos qualidade, porque começámos do zero, mas é muito complicado aguentar a resposta assim com défice constante”, alerta Manuela Neves.
Para além de desenvolver este projeto da casa de autonomia para os jovens quando atingem 18 anos, o CEBSZA “tem sempre metas grandes”, afirma a presidente, ressalvando: “E quando não conseguimos lá chegar à primeira não ficamos frustrados e continuamos sempre a tentar”.
Para já, “a ambição é fechar o terraço por cima da piscina, que está aberta aos associados e utentes, para ali instalar uma biblioteca e criar um espaço de convívio para os familiares”, mas os responsáveis têm um sonho maior.
“O nosso grande projeto é a construção de uma residência noturna para os nossos idosos, que gostam muito de aqui estar connosco. Neste momento, não podemos avançar porque não temos dinheiro para o fazer, mas continuamos à procura de um programa de financiamento que nos possibilite fazê-lo”, revela Manuela Neves, adiantando ainda: “Não ambicionamos um lar de idosos, mas uma resposta para os idosos que já acompanhamos nas outras respostas. Ou seja, dar uma resposta de continuidade aos nossos idosos”.
O CEBSZA apoia, com a sua equipa de 97 funcionários, 78 crianças em duas creches, 102 petizes em pré-escolar, 120 em ATL e 145 em COJ/EPA. No LIJ acolhe 12 miúdos, enquanto, na área da terceira idade, acolhe 35 em Centro de Dia, apoia 30 em SAD e pelo Centro de Convívio passam 40 idosos e ainda cerca de 250 pela academia sénior.
E como seria a Zona Alta de Torres Novas sem o CEBSZA? “Era muito mais pobre e muito mais desumano”, atira de pronto Manuela Neves.
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