S. Miguel de Acha é uma freguesia do concelho de Idanha-a-Nova e que sofre como muitas pequenas aldeias de Portugal de um acentuado envelhecimento e ausência de respostas sociais à população.
Por isso é que em 1991, o padre Luís, pároco local, decidiu avançar com a criação de um Centro Social Paroquial, que durante 12 anos funcionou no salão paroquial, base de apoio da única resposta social que a instituição promovia, o Serviço de Apoio Domiciliário (SAD).
“Havia diversas pessoas muito vulneráveis, por falta de retaguarda familiar ou por incapacidade de realizar as atividades diárias da vida”, conta Cristina Geraldes, diretora-técnica da instituição.
Só em 2003, com a mudança para as novas instalações, onde ainda hoje funciona, a instituição abriu o Centro de Dia, que, tal como o SAD, arrancou com 10 utentes.
“De início houve muita renitência e desconfiança das pessoas, que esperavam que o vizinho viesse primeiro e depois lhes dissesse como era. Havia duas colaboradoras e num espaço de tempo muito curto houve necessidade de aumentar os recursos humanos, porque as duas funcionárias não chegavam”, conta a diretora-técnica, que recorda a razão da demora em ter instalações e em alargar as respostas dadas: “O padre Luís queria um terreno na freguesia que tivesse uma boa envolvente verde e no coração da aldeia. Não foi fácil encontrar o espaço, até que esta quinta foi posta à venda, mas os proprietários tinham-no doado à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Na altura, a instituição não tinha fundo de maneio para o adquirir e pediu à Câmara Municipal para tratar do processo, até que o presidente da autarquia viu e gostou do projeto e, então, começou a ajudar a instituição”.
Aliás, todo o equipamento, edifícios e terreno, é propriedade da autarquia, existindo um protocolo para a instituição gerir o mesmo.
Nove anos volvidos, a instituição sofre novo desenvolvimento com a abertura das primeiras quatro residências, a única resposta que não tem acordo de cooperação com a Segurança Social.
“Para já chega para as necessidades, mas temos vários pedidos para as residências. Se tivéssemos oito, provavelmente estariam cheias com pessoas daqui de S. Miguel de Acha”, sustenta Alberto Gonçalves, vice-presidente da instituição, explicando as razões dos pedidos: “Há muitas pessoas que têm perdido alguma autonomia, principalmente porque as suas habitações começam a colocar-lhes obstáculos, como as escadas ou, por vezes, três simples degraus”.
Cristina Geraldes acrescenta ainda que o Centro tem também “solicitações de outras freguesias do concelho”.
Com 20 utentes em Centro de Dia, outros 20 em SAD e cinco em quatro residências, o Centro Social Paroquial de S. Miguel de Acha “vive essencialmente das comparticipações dos utentes/familiares e do que a Segurança Social dá por utente do SAD e do Centro de Dia”, argumenta Alberto Gonçalves, acrescentando: “No entanto, as comparticipações ainda são abaixo da capacidade instalada. Depois, temos a ajuda camarária, uma vez que sendo tudo isto propriedade da autarquia não temos encargos com o equipamento. O apoio da Câmara é também fundamental para o equilíbrio financeiro da instituição. Para além disto, é essencial que a instituição tenha uma gestão equilibrada e que conduza à solvência”.
Nesse sentido, o «vice» afirma que a situação financeira é “solvente e sem problemas”, fruto de uma gestão que tem objetivos concretos: “Tentamos fazer uma gestão que nos permita ser solvente e, simultaneamente, criar valor acrescentado através da otimização de recursos, em termos de formação profissional, da melhoria da vertente administrativa, com a informatização, e das instalações para conforto aos utentes e da criação de condições para fazer formação interna, integrarmos um nutricionista, um médico e ainda alguém na vertente cognitiva, etc.”.
Uma forte aposta da instituição é na promoção de atividades que mantenham os idosos ativos e apoiados. Daí a contratação de consultas de neurologia, “algo bastante relevante, porque o estímulo cognitivo é essencial para estas pessoas e é uma ajuda para sinalizar demências”, argumenta o «vice» Alberto Gonçalves.
Já Cristina Geraldes afirma que “o envelhecimento ativo é um dos grandes objetivos da instituição”, apontando as sessões de ginástica “é um dos primeiros passos dados com o objetivo de serem alargados, dinamizando outras atividades sócio-culturais”.
A caminho do 26º aniversário, a instituição ganhou o seu espaço e a sua importância, algo que o atual presidente, o padre Martinho Mendonça, confirma.
“Quando cheguei tive a noção que esta casa era de referência no concelho. Passado pouco tempo apercebi-me da grande importância que isto tem na vida das pessoas e na vida da comunidade. Sou presidente da Direção, mas a minha preocupação é acarinhar, continuar e ajudar a crescer a instituição. Tenho uma presença discreta, porque confio nas pessoas que cá estão e sei que a nossa casa é acarinhada e é de referência a nível distrital. Sei que as coisas funcionam e só tenho que estar atento. A casa não é de ninguém, mas é de todos e sei que a casa está bem entregue”, começa por dizer, acrescentando: “O futuro não vai ser fácil, porque, por vezes, deparamo-nos com dificuldades onde menos pensávamos, como, por exemplo, nos nossos trabalhadores! Estas casas são autênticos milagres, fazendo omeletes com muito poucos ovos, mas com ovos de qualidade e muita dedicação. Por vezes, damo-nos conta que o Poder Central não tem o carinho que devia ter por estas casas, porque fazem demasiadas exigências não olhando às realidades. Neste caso, a instituição é solvente, mas sei de outras em que é muito difícil, porque basta que haja um atropelo à norma para que as coisas se compliquem. Isto é uma rede notável e gratuita, com muita carolice. O Estado devia beijar o chão que esta gente voluntária e solidária pisa”.
Quanto ao futuro e a projetos, para além de mais algumas residências, pois o PDM inscreve 12 habitações, os responsáveis pela instituição pretendem, essencialmente, consolidar e melhorar o que há.
“Garantir e aperfeiçoar o que temos, daí os grandes investimentos que fizemos na área da informática. Por outro lado, queremos criar condições para podermos, mesmo com algum investimento inicial, estabilizar para prosseguir o rumo. Adquirir uma carrinha para transporte de cadeiras de rodas, o que alivia a carga da única viatura que temos. Somos poucos mas há muito que fazer”, afirma Alberto Gonçalves, que sublinha o facto de a instituição ser o segundo empregador da aldeia, com oito funcionários, “logo atrás da padaria que tem mais dois”.
No entanto, esta não é a principal mais-valia da instituição, segundo o padre Mendonça: “A riqueza da instituição é o apoio que dá à comunidade, a dimensão cristã da caridade. O Centro de Dia é a nova família da maior parte dos utentes, porque em casa estão sozinhos e na idade que mais precisam não têm a sua família perto. Daí, que lhes foi dada uma nova família”.
“Isto é gente do campo e isto é o melhor que podem ter, porque a cidade nada lhes diz. Nós substituímos a família”, reforça o «vice», ao que Cristina Geraldes acrescenta: “Os nossos utentes não se identificam com o lar. A vida deles tem que ser nos domicílios. Temos três utentes que já estiveram em lares e quiseram regressar a casa, apesar das limitações. Apesar de termos as residências, nenhum dos utentes dependentes optou por vir para cá, quiseram todos ficar no domicílio apoiados por nós”.
Para o pároco e presidente da instituição, a explicação é simples: “Sair de casa e ir para uma instituição é fechar uma porta e ninguém quer fechar essa porta”.
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