Inicialmente voltada para as áreas cultural e recreativa, com o desporto em destaque, a Associação Recreativa, Cultural e Social de Silveirinhos (ARCSS) tinha como alvo as faixas mais jovens da população, que, na altura, não tinham respostas na comunidade. Cerca de uma década volvida sobre a sua fundação, a instituição decide abraçar a área social e, mais recentemente, apostar no trabalho com pessoas portadores de deficiência ou de doença mental.
Já com uma nova Direção, presidida por Matilde Monteiro, em 2012, a instituição procedeu a “um redesenho estratégico interno para perceber o que tinha que ser alinhado”.
“O tempo vai passando e as instituições tendem a não parar para pensar que rumo estão a seguir, a missão, os valores, as necessidades e o que necessitam fazer”, defende Matilde Monteiro, acrescentando: “Começámos a fazer a nossa própria investigação. Parámos para perceber quais eram realmente os públicos-alvo a que devíamos dar resposta na freguesia e no concelho. E, na altura, percebemos que a área da deficiência e da doença mental estava a descoberto e que não havia respostas. Pelos estudos que fizemos, concluímos que S. Pedro da Cova tinha grandes necessidades nesta área”.
Esta abordagem valeu-lhe logo o apoio do Instituto Nacional de Reabilitação (INR) e o estabelecimento de uma série de parcerias com muitas instituições e entidades, com destaque para o Centro Hospitalar do Porto (Hospital de Santo António), que se associou de pronto pois tem uma delegação em S. Cosme.
“A nossa resposta não é tipificada, é uma resposta cujo público-alvo são as pessoas com deficiência e com doença mental, em que a metodologia leva a que as coloquemos a trabalhar em conjunto. Fazemos este trabalho de uma forma diferente, porque mais do que uma resposta ocupacional, o nosso objetivo é promover uma verdadeira integração social destes públicos”, sublinha a presidente da instituição, revelando algo que diferencia a ação da instituição: “A nossa grande estratégia é a integração pelas artes, embora façamos uma série de outras coisas. Começámos por criar um grupo de teatro misto, ou seja, com pessoas com e sem deficiência, um grupo de dança misto e uma outra série de atividades, porque temos outros públicos como os jovens em risco”.
Atualmente, a Associação de Silveirinhos integra um projeto europeu que pretende criar um guia de respostas através das artes para estes públicos com deficiência e com doença mental.
“Temos um departamento muito forte de projetos europeus e estamos a desenvolver com uma fundação espanhola um guia de metodologias para trabalhar com estes públicos para uma verdadeira integração social. A nossa área no guia é a música”, explica Matilde Monteiro, salvaguardando: “Nós não temos a receita, porque a fomos criando ao longo do tempo. Não temos respostas fechadas, porque isto não é uma resposta fechada, mas temos tentado soluções e temos tido resultados fantásticos”.
E são de tal maneira que, fruto deste trabalho, “surge também, aos poucos, a questão da empregabilidade”.
Sem receitas fixas pois, para além do apoio da Câmara Municipal de Gondomar, da Junta de Freguesia de S. Pedro da Cova, do IPDJ (Instituto Português do Desporto e da Juventude) e do INR, a Associação não tem qualquer protocolo com a Segurança Social.
“Até agora o que temos feito tem sido conseguido fruto de inúmeras candidaturas a projetos financiados, caso contrário já teríamos fechado as portas, pois não temos outra fonte de financiamento. Esta é a nossa principal fonte de receita. Temos outras atividades que nos dão algum retorno, uma vez que os participantes comparticipam, como seja a dança para adultos, os jogos tradicionais, mas nada mais”.
Por isso, é “uma luta muito grande assegurar a sustentabilidade para continuar a desenvolver o trabalho da Associação”, que foi “a primeira instituição na área da igualdade de género a desenvolver grandes projetos nesta vertente”.
“A saúde financeira está boa, porque não devemos nada a ninguém. Só que o estar bem do ponto de vista de dívidas não quer dizer que seja fácil. Isto é uma luta muito grande, porque não temos apoios fixos, como as outras instituições que têm acordo com a Segurança Social, por exemplo”, sustenta, acrescentando: “É uma preocupação constante e estamos sempre focados na sustentabilidade. Há instituições que cristalizaram no tempo e ainda assim estão sempre a queixar-se. O necessário é arranjar estratégicas para contornar os problemas quando eles surgem, por exemplo, como quando passam de 20 para 15 crianças e olham para isso como um problema enorme”.
Para a presidente da instituição, este contexto estimulou a Associação e fê-la desenvolver competências na angariação de fundos.
“Esta situação fez com que desenvolvêssemos uma dinâmica e uma criatividade muito grandes. Por isso somos reconhecidos como uma instituição muito dinâmica e inovadora. Não é fácil, não temos dívidas, mas com as obras que fizemos aqui na sede, que são de um grande investimento, não é fácil. É que qualquer investimento é difícil. Não temos dívidas, estamos a crescer, o nosso trabalho é reconhecido e isso faz com que as pessoas, quando as coisas não estão tão bem, continuem a acreditar no projeto e não se vão embora”, congratula-se.
“Apesar de não termos uma resposta tipificada pela Segurança Social, há muitas instituições que nos procuram em busca de uma resposta para os seus utentes. Por exemplo, vamos iniciar com o Centro Hospitalar do Porto mais dois projetos em que a Associação vai trabalhar, no centro do município, com dois grupos ao nível da intervenção na área da doença mental. O nosso município é um parceiro muito importante, entre muitas outras instituições, e muito em especial as escolas”, acrescenta Matilde Monteiro.
Depois de ocupar uma escola cujas dimensões não permitiam o seu crescimento, a Associação de Silveirinhos mudou para uma escola primária maior e igualmente desativada, por cedência da Câmara.
No entanto, “quando aqui chegámos isto estava praticamente em ruínas, pelo que tivemos que fazer um grande investimento para recuperar o espaço. Agora, estamos a candidatar-nos junto da Segurança Social para termos um CAO para pessoas com deficiência”, revela a presidente, confessando uma derrapagem financeira nas obras, “porque o estado do edifício era pior do que se pensou inicialmente”.
Tirando partido das potencialidades do novo espaço, a Associação apostou forte na recuperação do que fora o pavilhão desportivo do antigo estabelecimento de ensino, e na criação do projeto Rumos, “porque a ideia é criar projetos de vida, ou seja, dar rumos às pessoas”.
“A ideia é muito interessante. Sabíamos que ia ser um investimento muito grande, até do esforço da instituição, mas sabíamos também que era uma ideia diferente e apostámos”, começa por dizer Matilde Monteiro, acrescentando: “No nosso trabalho procuramos sempre o equilíbrio entre as necessidades e as respostas e percebemos que aqui na freguesia não havia um espaço para que as pessoas pudessem fazer algumas iniciativas que pretendiam, como jantares de Natal ou outros encontros e convívios. A escola tinha um pavilhão que estava em ruína e vimos ali algum potencial quando olhámos às necessidades, ao que poderíamos fazer e à nossa missão. É do encontro destas três situações que nasce o projeto Rumos”.
No fundo, o Rumos “é um projeto social, pensado como um negócio para dar algum retorno financeiro”, assegura a presidente, sublinhando: “Os financiamentos acabam e, se não pensarmos em projetos que tenham sustentabilidade para além desse financiamento, o projeto acaba. Não há interesse em fazer projetos que morram. Ou se redesenham ou não há interesse. E há muitas instituições que cristalizam porque não percebem isto”.
Para a Associação de Silveirinhos a “premissa é encontrar soluções sustentáveis”.
É assim que nasce o negócio social Rumos, “que se baseia em uma cozinha e um salão e na possibilidade de proporcionar às pessoas da freguesia um espaço, mas não só”, afirma a presidente, explicando: “Isto pode ser apenas um espaço para alugar a fim da realização ede uma iniciativa; mas também o aluguer do espaço e fornecimento de catering; e pode ainda ser aluguer de espaço, catering e animação, pois a nossa essência está na inclusão pelas artes”.
Para além de ser um negócio social, o Rumos permite à instituição passar a ter “condições para dar formação a estes grupos de pessoas, que vão adquirir competências, dentro dos seus ritmos e dos seus tempos, para a empregabilidade e não só”.
“Com este projeto pretendemos combater o estigma que estas pessoas ainda têm, misturando-as com a comunidade. Integrar não é mostrar, integrar é misturar e é isso que pretendemos fazer sempre”.
Nesse sentido, e devido à forte implantação que as marchas populares têm no concelho de Gondomar, a Associação de Silveirinhos há quatro anos que participa no desfile, com a denominada Marcha Inclusiva. Por outro lado, o trabalho rumo à integração social passa ainda pela marca criada pela Associação, a «Coisas d’Anjo», que tem duas vertentes de produtos: os alimentares (bolachas, compotas, chocolates) e a bijuteria (colares e outros).
Fundamental para a implementação do projeto Rumos são os três prémios ganhos pela instituição, em concreto da EDP Solidária, do BPI Capacitar e da Fundação Inatel, alicerces para o lançamento do mesmo.
“O espaço do Rumos tem muito potencial de crescimento, até porque o Portugal 2020 está a apostar na formação destes públicos e já estamos a preparar candidaturas. O espaço permite fazer formação na área da cozinha, mesa e bar para estes públicos”, destaca Matilde Monteiro, até porque, acrescenta: “Começámos pela integração social pelas artes, mas, com o passar do tempo e a recolha de dados junto da população-alvo, fomos percebendo que não só nos procuravam por causa da empregabilidade, mas também para a aquisição de competências com vista ao mercado de trabalho. A estratégia é perceber que cada pessoa é uma pessoa só, até onde pode ir e criar respostas criativas a essa medida, pois é assim que elas se vão desenvolvendo”.
Normalmente, a instituição tem um universo de 50 utentes, mas nunca em simultâneo. Há um grupo entre 12 e 15 utentes que está todos os dias na Associação, há depois um outro grupo, para mais pequenos, em que é trabalhada a área do teatro e da dança, há o grupo de dança, com cerca de oito pessoas, e ainda um outro grupo de pessoas que vem para atividades mais específicas.
A terminar, Matilde Monteiro defende que o que diferencia a instituição de outras “é a forma de trabalhar, porque são elaborados planos muito ajustados a cada pessoa na busca do seu potencial”.
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