OUTUBRO 2017

Pela erradicação da pobreza

1. Outubro está associado à "Erradicação da Pobreza". Pela primeira vez em 1992, a data (dia 17) foi comemorada oficialmente com o objetivo de alertar a população para a necessidade de defender um direito básico do ser humano.
Antes, a 17 de outubro de 1987, Joseph Wresinski, o fundador do Movimento Internacional ATD Quarto Mundo, convidou as pessoas a reunirem-se em honra das vítimas da fome e da pobreza em Paris, no local onde tinha sido assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ao seu apelo responderam cem mil pessoas.
A erradicação da pobreza e da fome é um dos oito objetivos de desenvolvimento do milénio, definidos no ano de 2000 por 193 países membros das Nações Unidas e por várias organizações internacionais. É também uma causa há muito abraçada pelas Instituições de Solidariedade.
Naquele dia dá-se voz aos pobres e unem-se esforços para acabar com a pobreza.

2. Dados revelados pelas UNESCO indicam que 842 milhões de pessoas continuaram a sofrer de fome crónica entre 2011 e 2013.
O Banco Mundial – que é uma instituição financeira criada a partir das Conferências de Bretton Woods, em 1945, bem como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) – tem por prática realizar pesquisas sobre a pobreza no mundo. Como a sua principal função é a de realizar empréstimos aos países pobres, impondo a eles regras muitas vezes leoninas, ao que parece gosta de colocar no papel o resultado daquilo que provoca. A pesquisa revela que os pobres do mundo são predominantemente do meio rural (80%), jovens (44% tem até 14 anos), de baixa escolaridade (39% não têm escolaridade formal), a maioria empregados no setor agrícola (64%),  e vivendo em famílias que têm mais de dois filhos.  Do total de 766 milhões de pessoas nessas condições de pobreza, 385 milhões são crianças e mais de um quinto deles são menores de cinco anos.  A África subsaariana tem o maior número de crianças nessa condição, quase 50%. Em segundo lugar vem o sul da Ásia com 36% e a Índia, com 30%. Afetadas pela fome e pela miséria muitas delas morrem antes de atingir a idade adulta, e, se conseguem sobreviver, têm o seu desenvolvimento físico e mental bastante prejudicado. 
Esse "mundo" dos "pobres deste mundo" é o de inúmeros "rostos marcados pelo sofrimento, pela marginalização, pela opressão, pela violência, pelas torturas e prisão, pela guerra, pela privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e pelo analfabetismo, pela emergência sanitária e pela falta de trabalho, pelo tráfico de pessoas e pela escravidão, pelo exílio, pela miséria e pela migração forçada".
De acordo com o INE, no ano passado, em Portugal, 2,595 milhões de residentes estavam em risco de pobreza ou exclusão social, o que representa 25,1% do total. Ou seja, trata-se de uma redução de 1,5 pontos percentuais face a 2015.
O Instituto acrescenta que, do total de pessoas em pobreza ou exclusão social, 18,8% (cerca de 487 mil) eram menores de 18 anos e 18,0% (cerca de 468 mil) eram pessoas com 65 ou mais anos.
"As condições habitacionais adversas, como sejam o número de divisões habitáveis, a existência de instalações sanitárias e as condições físicas e de luminosidade do alojamento afetam mais frequentemente as pessoas em risco de pobreza e as famílias com crianças", diz o INE, acrescentando que "a sobrecarga das despesas em habitação afetou quase 30% da população com menores rendimentos em 2016".
O inquérito realizado pelo INE mostra ainda que em 2016 "10,3% das pessoas viviam com insuficiência de espaço habitacional, valor idêntico ao registado nos dois anos anteriores", sendo que "Portugal regista uma taxa de sobrelotação da habitação inferior à média da União Europeia".

3. O Papa Francisco propôs que o dia 19 de Novembro deste ano seja o "Dia mundial dos Pobres". "Dia da erradicação da pobreza" e "Dia dos pobres" podem ser relacionados entre si.
Na sua mensagem de sensibilização para a celebração do "Dia dos Pobres", o Papa refere: "Infelizmente, nos nossos dias, enquanto sobressai cada vez mais a riqueza descarada que se acumula nas mãos de poucos privilegiados, frequentemente acompanhada pela ilegalidade e pela exploração ofensiva da dignidade humana, causa escândalo a extensão da pobreza a grandes sectores da sociedade no mundo inteiro. Perante este cenário, não se pode permanecer inerte e, menos ainda, resignado. A pobreza tem o rosto de mulheres, homens e crianças explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro. Como é impiedoso e nunca completo o elenco que se é constrangido a elaborar à vista da pobreza, fruto da injustiça social, da miséria moral, da avidez de poucos e da indiferença generalizada!"
À pobreza que inibe o espírito de iniciativa de tantos jovens, impedindo-os de encontrar um trabalho, à pobreza que anestesia o sentido de responsabilidade, induzindo a preferir a abdicação e a busca de favoritismos, à pobreza que envenena os poços da participação e restringe os espaços do profissionalismo, humilhando assim o mérito de quem trabalha e produz: "a tudo isso é preciso responder com uma nova visão da vida e da sociedade".
O Papa acentua, depois, que não se deve pensar nos pobres "apenas como destinatários duma boa obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana, ou, menos ainda, de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência em paz". Embora válidas e úteis a fim de sensibilizar para as necessidades de tantos irmãos e para as injustiças que frequentemente são a sua causa, estas experiências "deveriam abrir a um verdadeiro encontro com os pobres e dar lugar a uma partilha que se torne estilo de vida". Desafia, depois, a que se estenda "a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão. A sua mão estendida para nós é também um convite a sairmos das nossas certezas e comodidades". E conclui: "se desejamos dar o nosso contributo eficaz para a mudança da história, gerando verdadeiro desenvolvimento, é necessário escutar o grito dos pobres e comprometermo-nos a erguê-los do seu estado de marginalização".
A pobreza é sempre injusta e manifestação de outras injustiças. As muitas Instituições de Solidariedade sabem-no e combatem-na com as significativas envolvências das comunidades, com as suas múltiplas iniciativas, as suas inovadoras organizações, os seus voluntários dirigentes, os seus muitos e dedicados trabalhadores. Privilegiando os mais carenciados, promovendo a inclusão pela ação social direta, pela educação, pela promoção da saúde e pelo desenvolvimento local.
"Deus criou o céu e a terra para todos; foram os homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão".

Lino Maia

 

Data de introdução: 2017-10-06



















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