Faz parte da tradição de fim de ano “fazer balanços” sobre tudo e mais alguma coisa! Ninguém (particular ou empresa) resiste à tentação de ostentar os êxitos do seu trabalho, o que, convenhamos, é humano e natural!
Porém (faz parte da dialética comunicacional), sempre que se publicam êxitos e progressos económicos, financeiros e outros, aparece alguém a mostrar o outro lado (o reverso) da leitura dessas boas notícias!
A título de exemplo, aqui fica esta notícia recentemente publicada no JN: “…os Sindicatos dos Trabalhadores Hoteleiros denunciou que os hotéis do Porto estão praticamente esgotados e que promovem um aumento de preço entre 16% e 45% e lamentam que desde 2011 não tenha havido nenhuma revisão salarial. No entanto, têm o cuidado em afirmar que “o Sindicato nada tem contra a atualização dos preços dos hotéis; o que não podem aceitar é que o patronato deixe para trás os trabalhadores”!
Já agora, e ainda em jeito de balanço de 2017, cá vai outra análise: apesar de o valor do salário médio se ter fixado em 861 euros, no terceiro trimestre de 2017, são ainda muitos os trabalhadores (822 mil) que terão de governar as suas famílias com um salário mínimo de 580 euros, só a partir de janeiro de 2018! Que pensar disto?
Sabemos que, em muitas pequenas empresas, não há mesmo grande margem de lucro que lhes permita compensar com mais justiça os seus trabalhadores. Porém, já o mesmo se não dizer de muitas outras, de média e grande dimensão, que produzem riqueza suficiente para amortizar custos, criar uma almofada financeira para novos investimentos, restando ainda margem para repartir, com mais justiça e equidade, os lucros criados, com aqueles e aquelas que, dia-a-dia, ajudam a criar essa riqueza!
Não ingoramos que é muito pesada a carga fiscal sobre as empresas que garantem “trabalho com direitos”, retirando-lhes, por esta via, a possibilidade de pagar com mais justiça os salários que praticam. Aliás, e talvez por isso mesmo, não deixa de ser estranho que o anunciado aumento de rendimentos para 2018 seja feito mais à custa de políticas fiscais e sociais do que por uma prática de melhores salários que compensem o trabalho dos milhares de trabalhadores portugueses que, como é sabido, auferem salários em montantes financeiros aquém do que uma economia saudável deveria poder assegurar!
Agora que Portugal (e bem) começa a ser visto como um país em desenvolvimento económico e financeiro, com especial e destacada importância do crescimento do turismo e das exportações de bens e serviços (sobretudo tecnológicos), não deverão os Parceiros Económicos, Sociais, Financeiros e Políticos fazer um “sério exame de consciência” sobre os “verdadeiros motivos das desigualdades sociais” que continuam a verificar-se no país?
Neste contexto, permito-me transcrever esta pequena passagem de um artigo de opinião recentemente publicado num dos nossos jornais diários ( o jornal Público): “…um novo problema, que 2017 deixou claro, é a forma como o crescimento desmesurado das grandes empresas tecnológicas está a pôr em perigo o equilíbrio global. Os riscos têm-se manifestado essencialmente a três níveis: na acumulação desmesurada de capital sem correspondente investimento em fator humano, criando um excedente financeiro que os esquemas normais da economia não conseguem processar; na destruição de uma cultura que privilegia o método científico e valoriza o mérito…e na criação de desigualdades regionais, reforçadas por práticas monopolistas que engendram mecanismos de dependência que cruzam fronteiras e sustentam uma nova diplomacia…”
Não há inqueritos válidos.