“É o começo de uma nova história”. Foi esta a expressão utilizada pelo líder norte-coreano, Kim Jong Un, para classificar o seu encontro recente com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae In. A expressão, sem sinal interrogativo, pode ler-se na mensagem que ele deixou no livro de honra que os visitantes ilustres assinam na sua passagem pela chamada Casa Azul ou Casa da Paz. Trata-se de um edifício situado exactamente na linha de fronteira entre dois países que, sendo irmãos, vivem não apenas separados desde 1953, mas ainda oficialmente em estado de guerra, embora ao abrigo de um armistício celebrado nesse ano. Na verdade, se há acontecimentos que se podem chamar de históricos, aquele que aconteceu na manhã do dia 27 de Abril de 2018, e que o mundo pôde testemunhar, merece inteiramente essa classificação.
Apesar dos sinais que foram deixados pelos recentes Jogos Olímpicos de Inverno, ninguém imaginaria que em tão curto espaço de tempo, fosse possível avançar tanto no caminho da reconciliação e da aproximação entre esses dois países, e por via desta aproximação, no caminho da Paz. Avançou-se tanto e tão depressa, pelo menos aparentemente, que ainda hoje há quem se recuse a aceitar que o mundo já deixou de ter motivos para recear o perigo de uma guerra catastrófica com origem na Coreia. Esta reserva de muitos observadores, apesar das suas justificações, não chega, no entanto, para apagar de todo as reacções de esperança que as novidades oriundas da península coreana provocaram em todo o mundo.
Não obstante a rapidez dos acontecimentos, ou talvez por causa disso, vai ser preciso esperar algum tempo para se poder falar de uma reviravolta na política interna e externa de Pyongiang, uma reviravolta suficiente para que o governo de Washington se sinta à vontade para dar os passos indispensáveis neste caminho novo que se abriu há poucos dias. E não estamos a ver que isso venha a ser muito fácil. Ao contrário do exagero que caracteriza habitualmente os seus comentários, sobretudo quando ele pensa que podem beneficiar a sua imagem, o presidente norte-americano foi bastante contido, embora sem deixar de se congratular com a nova política de Kim Jong Un.
A próxima cimeira entre Donald Trump e o líder norte coreano, anunciada para breve, servirá assim para tirar as dúvidas que ainda poderão subsistir depois deste encontro histórico entre os responsáveis políticos das duas Coreias. Só então se verá se o armistício dará lugar a uma verdadeira Paz. De qualquer modo, poderá dizer-se que estamos a assistir ao primeiro capítulo de uma nova história.
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