Em Setúbal, apesar da não colaboração de S. Pedro, 15 IPSS do distrito, envolvendo perto de 200 pessoas, asseguraram a animação da XII Festa da Solidariedade. Na parte institucional da Festa as intervenções políticas - com destaque para o discurso do ministro Vieira da Silva - deram louvores à Cooperação e sublinharam a vontade do seu aprofundamento, num trabalho conjunto com as organizações do Setor Social Solidário. No próximo ano a XIII Festa da Solidariedade realiza-se em Vila Real.
Por entre os pingos da chuva e as revoadas de vento, os grupos oriundos das instituições, sobretudo do distrito de Setúbal, foram protagonistas no palco do Auditório José Afonso, e, à medida que o dia foi avançando e as condições climatéricas melhorando, o anfiteatro ficou mais composto, cumprindo-se assim mais um ano de celebração da Solidariedade.
E foi em ambiente de festa que a tradicional cerimónia da chegada da Chama da Solidariedade se cumpriu, com o padre Lino Maia a entregar, uma vez mais, o facho solidário ao ministro Vieira da Silva.
Apesar de lhe ter sido sugerido não estar presente, devido às agrestes condições climatéricas, o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social fez questão de estar presente, tendo dito a esse propósito que “nem colocava a questão de alterar” a sua agenda, “porque a palavra associada ao esforço da solidariedade é tão importante para mil pessoas como para uma”. "Estivessem aqui mil pessoas ou apenas o padre Lino Maia eu estaria sempre aqui presente”.
A intervenção do governante acabou por ser uma reafirmação da vontade do Estado na cooperação com o Setor Social Solidário e na aposta “no trabalho em conjunto”. Em resposta a uma questão anteriormente lançada por Fernando Sousa, presidente da UDIPSS Setúbal, Vieira da Silva foi bastante claro. “Foi-me perguntado o que é que o Estado quer das IPSS. Não vou responder a essa questão, porque não penso que a questão seja essa. Nós temos que trabalhar em conjunto para sabermos o que queremos em conjunto e não que o Estado defina o que quer das IPSS ou as IPSS o que querem do Estado. Essa fase já foi ultrapassada. O padre Lino Maia já referiu a assinatura do Pacto de Cooperação há mais de 20 anos, que, também com momentos com mais vento ou mais acalmia, se tem mantido vivo. E lembro uma vez mais que quando fez 20 anos, a cooperação do Estado com as IPSS, na área da segurança social, multiplicou por três vezes. Isto quer dizer que a rede solidária, a rede de respostas sociais que trabalham em cooperação com a Segurança Social, triplicou em 20 anos. Não conheço outra área que tenha esta dimensão de cooperação com o Estado que tenha aumentado tanto”, argumentou o ministro Vieira da Silva, reforçando a vontade de cooperação: “Vejo, por isso, este desafio mais como um desafio conjunto. Uma coisa para mim é clara, e esse compromisso posso exprimi-lo aqui de forma muito afirmativa, é que o Estado entende que as respostas sociais são melhor desenvolvidas pelo setor da economia social e não as pretende substituir. E o Estado entende também que a suas funções devem ser assumidas pelo Estado e não vai pedir às IPSS que as façam. Cada um no seu plano, trabalhando em conjunto, trabalhando naquele sentido em que o todo é maior do que a soma das partes”.
Nesse sentido, Vieira da Silva deixou uma palavra de confiança no futuro de cooperação: “Aquilo que fazemos em conjunto é muito mais do que aquilo poderíamos fazer separadamente. Por isso não tenho muitas angústias acerca deste futuro, será sempre de reforço de cooperação entre o Estado e o Setor Social. É evidente que com grandes desafios, porque a sociedade está a mudar, tem novos desafios, e o isolamento é um dos mais difíceis”.
O governante lembrou ainda a importância do passo dado no âmbito da economia social, com a criação da Confederação Portuguesa de Economia Social (CPES).
“Este é um ano particularmente significativo no domínio da Economia Social, aquele em que as diferentes famílias resolveram unir-se numa confederação, um passo livre e autónoma das instituições, mas que tem um significado muito profundo, pois Portugal passa a ser um dos poucos países que tem uma representação integrada e não unificada do amplo setor da economia social”.
Sobre mais uma edição da Festa e da Chama da Solidariedade – “sempre um momento importante que a CNIS protagoniza há uns anos, sempre num local diferente do nosso país e com este simbolismo de fazer a Chama da Solidariedade percorrer uma zona do nosso país e ao longo dos anos percorrer todo o país” –, o governante destacou o(s) simbolismo(s) da Chama da Solidariedade.
“A Chama é um símbolo com imensas leituras. Acompanha a humanidade desde os seus primórdios, dando-nos calor, luz, ajudando-nos a construir a nossa autonomia como seres humanos e é também uma prova de, como dizia o padre Lino Maia, resiliência e insistência”, começou por referir, sublinhando um segundo aspeto: “A Chama, neste formato muito associado ao espírito olímpico, tem ainda outro significado, que julgo que a CNIS representa com especial qualidade. Há uma dimensão em que a CNIS é mais intensa e que a Chama também representa essa qualidade, que é na aceitação da diferença e da diversidade. É uma grande casa onde coexistem pequenas e grandes instituições, com diferentes inspirações, mas todas unidas no sentido da promoção do bem comum. Esse valor simbólico da Chama como valorização da diferença e da diversidade, associa-se bem à CNIS, internamente, mas também à capacidade que tem de ser um parceiro fundamental no diálogo com as outras famílias da economia social”.
Falando antes do ministro, o vereador da Câmara de Setúbal, Pedro Pina, citara José Afonso, a propósito de o local onde se desenrolou a Festa da Solidariedade ter o nome do autor e músico, dizendo: “Setúbal nas palavras de José Afonso é «uma cidade sem muros nem ameias, gente igual por dentro, gente igual por fora», que é uma mensagem que tem muito a ver com a mensagem da Chama da Solidariedade, gente igual por dentro, gente igual por fora, numa sociedade mais justa e mais fraterna, no acesso e na participação da vida humana”.
A terminar também Vieira da Silva recordou José Afonso para, desde já, se associar à próxima edição da Festa da Solidariedade, que será em Vila Real.
“O senhor vereador lembrou palavras de José Afonso e poderíamos estar aqui um dia inteiro a lembrar palavras de José Afonso, muitas delas bem apropriadas para quando se fala de solidariedade, dos que mais sofrem, dos que têm alguma diferença, dos isolados ou dos esquecidos. Mas no espírito desta Festa iria lembrar uma das mais conhecidas frases que deu origem a uma das mais conhecidas canções de José Afonso, referindo-me ao trabalho que temos pela frente e particularmente ao nosso novo encontro em Vila Real, diria apenas: Traz outro amigo também!”.
O momento institucional da Festa da Solidariedade serviu para os habituais e devidos agradecimentos a quem tudo fez para que, mais um ano, a Chama e a Festa fossem realidade, envolvendo tudo e todos aqueles que tem espírito solidário.
“Quero deixar uma palavra de grande amizade e gratidão pelo sucesso, pela envolvência, pela cidadania, pela solidariedade ao senhor Fernando Sousa, presidente da UDIPSS, e a todos os demais dirigentes e a todos os que acolheram a Chama da Solidariedade”, afirmou o padre Lino Maia, deixando uma palavra ainda ao Poder Local.
“Muitas vezes se fala que as autarquias não são propriamente entidades vocacionadas para respostas sociais e para a cooperação neste setor. Todos sabemos que são de proximidade, de presença e de solução de problemas. E no distrito de Setúbal os autarcas veem-se como companheiros de jornada nesta vontade de criar melhores condições para as pessoas. Um obrigado aos autarcas e nós nas IPSS e na CNIS estamos muito interessados em fazer boas parcerias e em aprofundar a cooperação com as autarquias. Aqui encontrámos exemplos muito bons de parcerias e comunhão de esforços para resolução dos problemas”, sustentou o presidente da CNIS, lembrando: “Temos vindo a pensar com o Governo que, de facto, há competências que podem passar para as autarquias. Há competências que estão muito bem entregues às IPSS, mas há algumas que podem passar para as autarquias. Não estamos contra isso, pelo contrário, reconhecemos que esse pode ser um bom caminho, uma boa opção”.
Por fim, dirigindo-se ao ministro Vieira da Silva, o padre Lino Maia disse que a CNIS compreende “que o Estado tem mais competências do que recursos e, por isso, nem sempre é fácil a cooperação”, ressalvando, porém, que com Vieira da Silva “o diálogo tem sido sempre muito bom e frutuoso”.
De seguida, o líder da CNIS reconheceu que “há aprofundamento na cooperação”.
“Sabemos que tem interesse nisso mesmo, sabemos que há caminho a percorrer e contamos consigo. E era bom que caminhando para os 25 anos do Pacto de Cooperação que puséssemos no terreno algumas das orientações desse documento. Contamos consigo, como contamos com todo este povo, estes dirigentes e estas instituições. A todos bem-haja, resiliência, o caminho é para a frente, ninguém pode ficar para trás”, finalizou.
Antes, Fernando Sousa, presidente da UDIPSS Setúbal, lembrou os “nove meses de percurso, nove meses de grande emoção e grande alegria e também de grande afirmação do que são as IPSS”, acrescentando: “Apesar de todas as dificuldades, continuamos a dizer, nós somos solidários. Não queremos substituir ninguém, queremos participar porque somos parceiros, mas há necessidade de dizer que as instituições precisam de saber o que querem de nós. Estamos dispostos a aceitar uma parceria efetiva”.
Por seu turno, o vereador Pedro Pina sublinhou que “é inevitável encontrar os melhores caminhos da cooperação, afirmando ainda: “É um prazer fazer esta caminhada com as IPSS e que os autarcas do distrito têm feito de forma convicta. Esta relação estreita com o terceiro setor é um quadro que se impõe para conseguir dar resposta aos complexos problemas que continuamos a enfrentar, como a exclusão e a pobreza.
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