ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA

A América Central de novo em foco

Há uns anos atrás, alguns países da América Central motivaram um grande interesse da opinião pública internacional. Tudo porque ali se travava uma guerra, embora indirecta, entre as duas superpotências que então dominavam o mundo: os Estados Unidos e a União Soviética.

Entre as batalhas de cariz ideológico e militar que deram rosto a essa guerra, algumas mereceram uma atenção muito particular, como foi o caso das que se travaram na Nicarágua e na República de El Salvador, mas esse interesse começou a diminuir desde o fim da chamada “guerra fria”. O início de um novo capítulo nas relações entre Washington e Moscovo acabou por se traduzir na redução dos conflitos que agitavam os países que eram apoiados pelas duas potências que disputavam a hegemonia mundial. A partir dessa altura, a América Central foi perdendo parte do interesse que, durante alguns anos, tinha merecido à Comunicação Social.

Ora acontece que, nos últimos tempos, a América Central voltou a renovar esse interesse por causa dos problemas que vêm agitando alguns países daquela região. Referimo-nos particularmente, à Nicarágua, onde a agitação social se tem traduzido em violentos protestos de rua a que o governo tem respondido com a utilização de uma força que já provocou dezenas de mortos e feridos, entre os quais muitos estudantes. As consequências desta reacção governamental obrigou mesmo a intervenções públicas da hierarquia da Igreja Católica. Na origem dos protestos esteve o anúncio de que o presidente e antigo revolucionário sandinista Daniel Ortega, se preparava para introduzir algumas alterações de fundo na política social do seu governo.

A Nicarágua foi, ao lado de El Salvador, o país da América Central, em que de tornou mais visível e intenso o confronto ideológico e político entre os movimentos ou partidos geralmente catalogados como de direita ou de extrema direita, e os partidos ou movimentos ditos de esquerda ou de extrema esquerda. Os primeiros, reunidos à volta da família do antigo ditador Samoza, eram apoiados pelos Estados Unidos; os segundos, encabeçados pelo movimento sandinista, tinham o apoio da União Soviética, de Cuba e da Venezuela.

No início deste século, o sandinismo já tinha perdido uma parte do seu radicalismo original e o presidente Daniel Ortega, um dos “heróis” da política latino americana para a opinião pública ocidental, até já tinha suavizado a sua própria imagem de revolucionário radical. Mesmo assim, é hoje contestado violentamente na rua, até por antigos companheiros de revolução, desencantados com a situação social a que a Nicarágua chegou. É mais um caso a provar que a política é um terreno fértil para o nascimento e para a morte de heróis.

 

Data de introdução: 2018-06-15



















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