ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA

No centenário do armistício da primeira guerra mundial

Passaram recentemente cem anos sobre a assinatura do Tratado que pôs fim ao conflito bélico que passou à História com o nome de Primeira Guerra Mundial, ou simplesmente como a Grande Guerra. Primeira Guerra Mundial, porque se estendeu pelos cinco continentes. Grande Guerra, devido às vítimas que provocou: mais de dezasseis milhões de mortos e mais de vinte milhões de feridos e mutilados. Isto sem contar os milhões de vítimas provocadas pela fome de pelas doenças que originou.

Foi uma hecatombe inimaginável que, aparentemente, nenhum dos grandes responsáveis políticos dessa altura, alguns deles familiares, foi capaz de prever e de ter em conta, aquando das reacções em cadeia ao atentado que vitimou o príncipe Francisco Fernando, herdeiro do império austro-húngaro. Não admira pois que os actuais líderes políticos da Europa e de grande parte do mundo tenham querido recordar com a maior solenidade possível a celebração de um armistício que veio interromper a continuação de uma chacina que durou de 1914 a 1918. Foi uma armistício que, além de acabar com a guerra, mudou drasticamente o mapa político da Europa e não só, a começar pelo fim dos seus grandes impérios: o império alemão, o império austro-húngaro, o império otomano ou turco e o império russo.

Tratou-se de um documento que, não obstante o regozijo e a esperança que trouxe ao mundo, - basta recordar a criação da Sociedade das Nações - não passou de um armistício que a História provou ter o carácter temporário próprio de um armistício. Quem recorda hoje resse texto sabe que alguns dos seus artigos não eliminaram os germes de futuras crises que, mais tarde ou mais cedo, poderiam conduzir a novos conflitos, ou mesmo a uma nova guerra de igual ou maior dimensão, como veio a acontecer em 1939. Mesmo assim, a evocação do armistício de 1918 deveria constituir um dever para todos os cidadãos do mundo e, sobretudo para os cidadãos da Europa, neste tempo em que o crescimento do nacionalismo xenófobo ameaça destruir os alicerces dessa nova Europa de Paz, sonhada por homens como Jean Monet, Adenauer, De Gasperi, Schuman e Churchil, entre outros.

O tratado de Roma de 1957 foi o primeiro grande passo na construção desse sonho europeu, um sonho de longa e difícil concretização, mas cujos obstáculos foram sendo superados, com maior ou menor dificuldade, até hoje. Só que agora esse sonho europeu confronta-se com novos desafios: falamos particularmente do chamado Brexit e das Migrações. O primeiro, que significou o adeus do Reino Unido à União Europeia, resultou de um referendo que se afigura agora claramente precipitado. O segundo permanece como expressão e factor de uma divisão profunda entre os europeus e não só. Infelizmente, a justificada celebração do centenário do armistício ficou ensombrada por estes desafios.

 

Data de introdução: 2018-12-13



















editorial

VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE, AFETOS E RELAÇÕES DE INTIMIDADE (O caso das pessoas com deficiência apoiadas pelas IPSS)

Como todas as outras, a pessoa com deficiência deve poder aceder, querendo, a uma expressão e vivência da sexualidade que contribua para a sua saúde física e psicológica e para o seu sentido de realização pessoal. A CNIS...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Que as IPSS celebrem a sério o Natal
Já as avenidas e ruas das nossas cidades, vilas e aldeias se adornaram com lâmpadas de várias cores que desenham figuras alusivas à época natalícia, tornando as...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Adolf Ratzka, a poliomielite e a vida independente
Os mais novos não conhecerão, e por isso não temerão, a poliomelite, mas os da minha geração conhecem-na. Tivemos vizinhos, conhecidos e amigos que viveram toda a...