Conta meio século de vida na ação, mas só 38 como instituição social estatutariamente constituída. Pensada em 1940, tomou forma jurídica apenas em 1980, tornando-se IPSS em 1991, mas já desde 1968 que estava no terreno, através do primeiro Lar Adventista Para Pessoas Idosas (LAPI), sito em Pero Negro, Sintra. Inspirado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, a instituição acolhe e apoia cerca de 300 utentes, essencialmente idosos, e emprega mais de 100 pessoas.
A Quinta de Pero Negro, perto de Sintra, foi onde tudo começou em 1968, para florescer, 14 anos mais tarde, a partir de Salvaterra de Magos e hoje ter uma presença no Norte, Centro, Sul e Madeira.
No anterior, no seio da Igreja Adventista do Sétimo Dia, foi deliberado que “fosse constituída uma Comissão Diretiva para a instituição e manutenção de um Lar Adventista para Pessoas Idosas (LAPI)”, nessa fase ainda apenas para senhora.
Assim, em setembro de 1968 a primeira utente deu entrada no lar, sendo que em fevereiro do ano seguinte a estrutura já acolhia uma dezena de senhoras.
O LAPI fundador funcionou em Pero Negro até 1991, ano em que os últimos utentes foram transferidos para lar de Salvaterra de Magos, que entrou em funcionamento em 1982 e ao longo dos anos foi crescendo, com a construção de novas alas.
A decisão de adquirir um terreno e construir um LAPI em Salvaterra de Magos data de 1977, mas ainda antes da inauguração a Igreja avança, finalmente, para a criação da Assistência Social Adventista (ASA), constituída formalmente em 1980, que adquiriu estatuto de IPSS em julho de 1991, altura em que o LAPI passou a ser uma vertente da ASA.
“A ideia de criar a Assistência Social Adventista remonta a 1940. A obra nasceu antes das fundações estatutárias. Tudo começou em Pero Negro, em 1968, e depois, como todas as instituições desta área social, teve que fazer o seu enquadramento legal. Na altura foi feita a integração do LAPI na ASA que era IPSS. A resposta nasceu primeiro do que a instituição, porque, em 2018, o LAPI comemorou 50 anos, enquanto a ASA fez apenas 38”, conta Jorge Silva, diretor de serviços do LAPI Sul, de Salvaterra de Magos.
Atualmente, a ASA detém uma rede de quatro estabelecimentos na área da terceira idade, gerindo ainda o Jardim Infantil Arco-Íris, em Setúbal, onde 11 funcionários acolhem 24 crianças em creche e 50 em pré-escolar.
Em termos de frequência, os estabelecimentos da ASA apresentam os seguintes números: LAPI Sul – 74 utentes em ERPI (Estrutura Residencial Para Idosos), 12 em SAD (Serviço de Apoio Domiciliário) e 62 em Cantina Social, com um quadro de 58 trabalhadores; LAPI Centro (Leiria) – 43 em SAD e seis em Centro de Dia, com uma equipa de 13 funcionários; LAPI Norte (Vila Nova de Gaia) – 40 pessoas em ERPI e uma equipa de 25 colaboradores; LAPI Madeira (Funchal) – 16 idosos em ERPI e 17 em Centro de Dia, com um conjunto de 16 trabalhadores.
“É com a criação da ASA que a instituição ganha impulso. Houve uma organização e a integração de algumas atividades que eram realizadas de forma dispersa, outras ainda foram equacionadas e acabaram e, neste momento, há uma estratégia nacional, que cobre Norte, Centro e Sul do continente e o arquipélago da Madeira. É uma estrutura que trabalha em rede, transversal, organizada e que sofreu um forte impulso nos finais da década de 1990 e no início do novo século”, afirma Jorge Silva.
Com a abertura e desenvolvimento do LAPI Sul, em 1995 a ASA abre o LAPI Centro, mas onde ainda se espera poder abrir a ERPI, dois anos volvidos foi o Funchal que passou a ter uma resposta e, em 2001, inaugurou o LAPI Norte.
Hoje é uma instituição que apoia mais de 300 utentes e emprega pouco mais de uma centena de pessoas.
“Os LAPI funcionam em rede e três dos estabelecimentos têm acordos com a Segurança Social, infelizmente, não na totalidade das respostas, mas temos ainda um outro que não tem qualquer acordo”, começa por referir o diretor de serviços do LAPI Sul, explicando: “Este é um lar que funciona num registo diferente, pois é privado. Esta situação tem permitido, de alguma forma, garantir o equilíbrio financeiro para toda a rede. Temos um lar que tem critérios diferentes e que permite este equilíbrio financeiro e a que os LAPI possam dar continuidade ao papel de apoiarem todas as pessoas. Se não fosse esta situação, teríamos aqui alguns desafios mais complexos”.
Vocação de todas as IPSS, atender aos mais carenciados também guia a ação da ASA, pelo que a condição económica dos idosos é sempre uma situação que as instituições têm que tentar contornar.
“Mais de 70% dos 76 utentes que temos aqui em Salvaterra de Magos têm capacidades económicas muito baixas”, atira Joana Costa, diretora-técnica do LAPI Sul, acrescentando: “Este ano conseguimos um aumento significativo nos acordos com a Segurança Social, pois até junho do ano passado tínhamos apenas acordo para 39 vagas. E isso permitiu ajudar muitos dos clientes, pois os custos deixaram de recair nas famílias e na própria instituição”.
Em atalho de foice, Jorge Silva diz: “As mensalidades estão definidas por preçário, agora, aquilo que as pessoas entregam em termos de comparticipação familiar poderá ser inferior aos valores que estão definidos e, nesse sentido, a instituição continua a realizar um trabalho social, que olha em primeiro lugar às necessidades, tentando, na medida do possível, dar resposta às solicitações, e temos lista de espera… Não colocando a condição financeira como impeditiva, pelo contrário ela é ponderada significativamente, e para isso têm contribuído os acordos de cooperação com a tutela, permite-se que o esforço das famílias seja minimizado e seja possível fazer um enquadramento mais tranquilo, sem que a instituição não seja também prejudicada”.
O diretor de Serviços do LAPI Sul lembra que “a instituição vive destas receitas” e, “na realidade, essa diferença que existe em alguns clientes gera constrangimentos, que têm sido ultrapassados com criatividade e engenharia financeira, sempre com muito rigor e disciplina a todos os níveis”.
E tem sido este trabalho que permite a Jorge Silva afirmar que “a instituição é saudável”, contudo… “Infelizmente, não temos margem para dar continuidade a um projeto que gostaríamos de promover, que é o de abrir mais respostas e estabelecimentos, mas não temos”.
O diretor do LAPI Sul sublinha que “a situação é de equilíbrio, mas sem folga” e lamenta não poder dar resposta a algumas carências.
“Temos uma lista imensa de necessidades ao nível de manutenção que se vão tratando paulatinamente quando surgem situações extraordinárias de algum donativo. Penso que a situação em que nos encontramos é o que se passa com a generalidade das instituições, saudáveis, porque cumprimos as nossas obrigações legais e fiscais, mas não temos folga”, argumenta, alertando: “E desafios maiores vêm aí com as alterações previstas a nível salarial, porque temos que perceber que os nossos utentes não têm capacidade que essas questões sejam refletidas na íntegra nas mensalidades”.
Por outro lado, Jorge Silva sublinha um aspeto determinante e que com o passar do tempo se alterou.
“Em Salvaterra de Magos o LAPI cresceu num terreno doado, algo mais raro nos dias que correm, porque os valores da sociedade alteraram-se. Esse espírito de maior solidariedade foi-se extinguido um pouco, mas mesmo assim há situações ímpares na sociedade portuguesa. Ainda recentemente assistimos a uma campanha de angariação de alimentos a nível nacional que de ano para ano bate recordes”, sustenta, acrescentando: “Há áreas de ação em que se assiste a isso e também, pontualmente, áreas de ação corporativa que vão funcionando, mas não são extensíveis a todas as instituições, incluindo a nossa. No passado foi possível dar seguimento a todo um conjunto de equipamentos pela caridade alheia e hoje não sentimos isso. Os tempos mudam, os conceitos mudam, o próprio conceito de família mudou”.
A estas mudanças juntam-se outras, como o aumento da esperança de vida e todos os desafios e constrangimentos a ela associadas. “Há cada vez mais idosos mais dependentes e menos autónomos. Depois, a sociedade exige-nos que trabalhemos cada vez mais e, por isso, cada vez há menos disponibilidade para cuidar. Os valores também se alteraram, porque dantes o idoso fazia parte integrante da família, mas hoje já não se pensa assim. O idoso ficava em casa até à última, porque, no fundo, os filhos sentiam a obrigação de cuidar dos pais, mas hoje é diferente. De alguma forma, os lares acabam por ser uma resposta para a debilidade e a perda cada vez maior que os idosos têm”, defende Joana Costa, lembrando que a média de idade no LAPI Sul é de 92 anos.
“Estou aqui há 14 anos e nota-se uma diferença no tipo de clientes que temos hoje e o que tínhamos há uns seis anos. Nessa altura recebíamos pessoas autónomas, que queriam aqui estar para estar acompanhados e ter companhia e até para libertar as famílias. Hoje as pessoas quando entram já é num grande estado de dependência e de debilidade. Cada vez mais temos utentes totalmente dependentes a entrar e isso não acontecia há uns anos”, afirma, lembrando que “os cuidados de saúde com os utentes hoje são mais exigentes, não só ao nível de doenças terminais, mas também a nível das demências, que são cada vez mais”.
Mesmo assim, e “curiosamente, temos pessoas mais velhas mais saudáveis do que as mais novas, mas isto tem muito que ver com a saúde que temos hoje”, conclui.
“Tem também que ver com o estilo de vida que se procura proporcionar aqui na instituição, ao nível do exercício, da visitação, da alimentação ou do apoio médico, que permite que as pessoas se sintam bem. Dito isto, a existência da nossa instituição é uma resposta que a sociedade exige. Tomara nós que a instituição não existisse. Porém, as pessoas quando para cá vêm já chegam numa fase em que já nem as famílias conseguem dar resposta. Dantes era uma opção ingressar no lar, hoje já não é assim, é por necessidade absoluta”, corrobora Jorge Silva.
Segundo os seus responsáveis, a ASA, através dos LAPI, “procura fazer a diferença no dia a dia pelo estilo de vida que promove na instituição, seguindo uma opção de qualidade, procurando um tratamento individualizado e proporcionando serviços de qualidade, numa abordagem transversal a várias áreas, como a espiritual, a médica, a saúde e outras”.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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