Um dos grandes motivos de justificado orgulho invocados pelo nosso país, a nível internacional, é o facto de o cargo de Secretário Geral da ONU ser ocupado por um português, António Guterres. Basta recordar o entusiasmo com que foi recebida e festejada entre nós a notícia da escolha feita nesse sentido pela Assembleia Geral daquele Organização, já lá vão dois anos.
No entanto, foram muitos os avisos de que o prestígio político, pessoal e nacional, inerente a essa escolha tinha como reverso a convicção generalizada de que seria praticamente impossível obter um grande êxito no exercício daquela função, talvez a mais prestigiante e prestigiada no mundo da política internacional. Os desafios que sempre se colocaram à ONU, desde a sua fundação, são demasiados, para que alguém os possa superar a todos. Isto, por maior que seja o prestígio moral e político de Secretário Geral.
Desde a sua criação em 1945, pode dizer-se que a ONU não conseguiu concretizar em plenitude o principal objectivo para que foi criada, e que é a manutenção da Paz no mundo, bem longe disso. Mesmo assim, deve reconhecer-se que, sem a sua influência e os seus esforços, os conflitos ter-se-iam multiplicado e as suas consequências seriam ainda mais nefastas. Este reconhecimento não invalida, no entanto, a acusação de que a Organização da Nações Unidas falhou dramaticamente na prevenção e controlo de algumas tragédias que marcaram indelevelmente a história das relações internacionais do século vinte e mesmo deste século, de modo especial no continente africano, mas não só.
Mas a ONU não falhou apenas nesse objectivo primeiro que é o da prevenção e manutenção da Paz no mundo. Falhou também noutros objectivos fundamentais como são, por exemplo, a defesa dos direitos humanos, a defesa do Ambiente e o desenvolvimento sustentado e justo da economia mundial, e falhou mesmo nas campanhas de ajuda internacional às populações vítimas de grandes tragédias humanitárias. Ainda há pouco tempo, o seu secretário geral reconheceu esse falhanço numa entrevista à RTP, quando visitou Moçambique para se inteirar “in loco” das consequências do ciclone Idai que atingiu aquele país. Não obstante a importância objectiva desse contributo, António Guterres, confessou que esperava muito mais da comunidade internacional.
A multiplicação das tragédias naturais que vão atingindo, mais ou menos ciclicamente, algumas regiões do mundo é suficiente para demonstrar como é, ao mesmo tempo, tão urgente e tão difícil a missão da ONU neste tempo em que vivemos. Falhar nos seus projectos humanitários pode ser profundamente frustrante para os seus responsáveis, como se depreende das afirmações de António Guterres. Mas tão ou mais grave ainda será no falhar no cumprimento do seu grande objectivo que é o de promover e garantir a Paz no Mundo, o maior dos desafios que tem de enfrentar.
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