Houve tempos em que a América Latina constituía um tema importante e recorrente no espaço que os Meios de Comunicação dedicavam à vida política internacional. Isso aconteceu quando a União Soviética e os Estados Unidos da América disputavam a hegemonia mundial, a nível político e militar. A América Latina era um dos campos privilegiados dessa guerra que passou à História com o nome de Guerra Fria.
Actualmente, a relação entre as duas únicas superpotências de então mudou significativamente, podendo dizer-se que os Estados Unidos e a agora chamada Federação Russa já não são propriamente inimigos figadais. Hoje, são “apenas” adversários, embora a sua relação seja sempre marcada pela desconfiança mútua e pelas sequelas do tempo em que se defrontavam perigosamente em várias regiões do mundo. Desse tempo de confrontação ficaram ainda relações que foram resistindo às transformações políticas que mudaram, mais ou menos profundamente, o rosto desses países, como aconteceu na América Latina. O exemplo mais emblemático e mais polémico dessa mudança terá sido o Brasil de Jair Bolsonaro.
Para além de Cuba e da Venezuela, que ocupam permanentemente um lugar cimeiro no noticiário internacional, outros países da América Latina estiveram particularmente em foco nas últimas semanas, e começamos por referenciar três: a Bolívia, a Argentina e o Chile. Os dois primeiros, por via da realização de eleições e o terceiro por causa de manifestações populares contra o aumento do preço dos bilhetes do Metro. No caso da Bolívia, e como acontece frequentemente em países onde se confrontam eleitoralmente partidos ou movimentos claramente divididos por ideologias opostas, os problemas tiveram origem numa demorada e polémica contagem de votos que acabaria por dar a vitória ao actual presidente Evo Morales, o primeiro indígena a chegar à presidência do país, oriundo ainda por cima de uma área socialista. Ora acontece que o seu principal apoiante na América Latina era precisamente Nicolas Maduro, e isso seria suficiente só por si, para justificar as muitas acusações de fraude eleitoral invocadas pelos seus opositores, até porque a contagem doa votos conheceu episódios que, pelo menos aparentemente, poderiam justificar essas acusações. Uma coisa parece certa: nos próximos tempos, a Bolívia não irá gozar, muito tampo, de paz social.
O caso da Argentina é bem diferente. Também ali se realizaram eleições e, neste caso, não houve notícias de incidentes, nem se fizeram ouvir acusações de fraude. Foi um exemplo de verdadeira convivência democrática a passagem de testemunho presidencial, é certo. Só que os dramáticos problemas financeiros, económicos e sociais que a Argentina enfrenta não serão resolvidos só pelo regresso do peronismo ao poder.
Finalmente, temos o Chile que, um pouco inesperadamente, conheceu durante alguns dias, a experiência de manifestações que foram reprimidas inicialmente com uma força que terá ultrapassado os limites do razoável, isto num país democrático e apontado como exemplar no contexto da América Latina. Foi um breve período de crise social a que o governo respondeu com uma estratégia de recuos e cedências que, para já, evitaram o pior. Mesmo assim, não falta quem tema pelo futuro próximo da América Latina. Mais uma vez…
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