Mil doentes com Alzheimer e com baixos recursos económicos vão poder comprar os medicamentos para esta patologia por cerca de metade do preço que pagariam, no âmbito de uma campanha apresentada em Lisboa. "Ajudar é cuidar" é o nome desta iniciativa da Associação Portuguesa de Familiares e Amigos do Doente de Alzheimer (APFADA) e de um laboratório que comercializa medicamentos para a doença.
A acção tem por base o facto do "elevado grau de pobreza existente na população idosa, a polimedicação e o baixo nível de comparticipação dos medicamentos" para a doença de Alzheimer impedirem muitas vezes o acesso aos tratamentos para esta forma degenerativa de demência.
A doença de Alzheimer atinge particularmente os mais idosos e é responsável por 50 por cento do total das demências primárias. Esta doença surge frequentemente associada a um elevado número de outras doenças crónicas, características do envelhecimento (doenças vasculares, reumáticas e outras).
No âmbito do "Ajudar é cuidar", os doentes contarão com uma comparticipação adicional até 40 por cento do custo da medicação (consoante o seu sub-sistema de saúde). A APFADA será a única responsável pela avaliação das candidaturas, dando prioridade aos cidadãos com graves dificuldades financeiras.
A aquisição dos medicamentos a custos reduzidos (apenas cinco a 20 por cento dos seu preço) irá decorrer durante o actual mês de Setembro. A apresentação desta iniciativa acontece uma semana antes do Dia Mundial do Doente com Alzheimer, que se assinala a 21 de Setembro.
Segundo o inquérito "Enfrentar a Demência" - inserido no Projecto Internacional liderado pela ADI (Alzheimer’s Disease International) - "a maioria das pessoas não é capaz de reconhecer os sinais precoces da doença".
Caracterizada por problemas cognitivos de memória, linguagem, orientação e de mobilidade, a doença leva à perda gradual das mais básicas capacidades.
Frequentemente surgem alterações comportamentais que podem incluir depressão, agitação, delírio, agressividade e apatia. Porém, como uma doença crónica e progressiva, é indispensável a sua identificação correcta e precoce, o que trás benefícios para o doente, permitindo um prolongamento da sua autonomia.
Os próprios médicos reconhecem as barreiras ao diagnóstico, devido a factores como a difusão entre o reconhecimento da doença de Alzheimer e o normal envelhecimento da pessoa, o medo de falar sobre a doença aliado a uma negação pelo doente e a dificuldade em abordar o assunto da patologia com o paciente.
O primeiro Inquérito Europeu "Enfrentar a Demência" revela que, em Portugal, a totalidade dos que lidam com estes doentes (cuidadores) e 92 por cento dos médicos referem que a maioria das pessoas não reconheceria os sinais precoces da doença de Alzheimer.
Mais de metade (58 por cento) dos médicos portugueses concordam que os clínicos gerais e os médicos de família têm dificuldade em detectar a doença em fase precoce.
Em relação ao diagnóstico, o inquérito indicou que, em Portugal, 44 por cento dos cuidadores e 37 por cento dos médicos consideraram que o receio da doença de Alzheimer impede os doentes de consultar um especialista.
Dos cuidadores portugueses que adiaram a decisão de consultar um médico, 87 por cento fizeram-no por não aceitarem que um ente querido tivesse a doença e 31 por cento por desconhecer que os sintomas apresentados eram sinais de doença de Alzheimer.
Em Portugal, decorrem, em média, mais de 18 meses desde o reconhecimento dos sintomas até ao diagnóstico da doença, revelou o inquérito.
A esmagadora maioria dos inquiridos considerou que o Governo não investe o suficiente no tratamento da doença de Alzheimer, enquanto 94 por cento dos cuidadores, 77 por cento dos médicos e 64 por cento da população portuguesa acham que, em matéria de política de saúde, deveria haver maior preocupação com esta doença.
O estudo inquiriu 2.800 pessoas (doentes de Alzheimer, cuidadores, médicos e a população em geral) nos seguintes países: Portugal, França, Alemanha, Itália, Polónia, Espanha e Reino Unido.
13.09.2005
Data de introdução: 2005-09-23