Dois meses e meio depois, as crianças do Pré-escolar regressaram à escola e reencontraram os amigos e as amigas, os educadores e os auxiliares e voltaram a todos aqueles cantinhos de um espaço que também é as suas casas e onde são bastante felizes.
Sim, porque é de felicidade que se fala. O SOLIDARIEDADE acompanhou a reabertura do Pré-escolar do Pólo de Guimarães da Obra Social do Sagrado Coração de Maria, mais conhecido por Colégio de Vila Pouca, e era bem visível o ar de felicidade dos petizes ao estarem onde estavam e com quem estavam.
Mas não se pense que esta imensa alegria que as crianças sentiram no regresso os faz esquecer das mais-valias da quarentena, fechados em casa e sem grandes (ou nenhuns) convívios sociais.
“Foi chato e foi bom” é a expressão usada por um deles que resume os sentimentos dos catraios quando questionados como fora o confinamento caseiro.
“Foi chato porque estávamos em casa, mas foi bom estar com a família”, disse um deles, ao que uma menina acrescentou: “Foi bom jantarmos todos juntos”.
No dia da reabertura, 1 de junho, Dia Mundial da Criança, a presidente da Unicef Portugal desafiou o ministro da Educação a ouvir as crianças, não para decidirem, mas para contribuírem com os seus testemunhos para a melhoria dos sistemas de que dispomos.
A maioria confessou que estava muito ansiosa por voltar e a alegria por ali estarem estava bem espelhada no brilhozinho dos seus olhos.
A turma, de crianças com cinco e seis anos, os chamados «finalistas», estava ainda no parque infantil da instituição e preparava-se para finalmente regressar à sala, que desde setembro a acolhe na instituição e que as crianças não viam há dois meses e meio, para um dia pleno de brincadeiras.
Também foi assim, na APAC – Associação Popular de Apoio à Criança, de Póvoa de Santa Íria.
Com a presença de 67 das cerca de 200 crianças que habitualmente frequentam o Pré-escolar na instituição do concelho de Vila Franca de Xira, José Casaleiro, presidente da APAC, referiu a alegria que foi “ouvir novamente as crianças a brincar” na instituição.
Apesar de esperar um número maior de crianças, José Casaleiro mostra-se convicto que com o fim da tele-escola, no dia 26 de junho, mais crianças regressem ao Pré-escolar e às Atividades de Tempos Livres (ATL).
E para que o sentimento de felicidade das crianças neste regresso não seja quebrado, ambas as instituições implementaram todo um conjunto de procedimentos, seguindo as orientações da Direção Geral da Saúde (DGS), separando percursos, colocando muita sinalética e instruindo trabalhadores, pais e, quando possível, as crianças.
“Todos os sectores trabalharam com grande sentido de responsabilidade e criámos mesmo planos de contingência para cada sector. E, seguindo as orientações da DGS, temos os máximos cuidados possíveis”, refere José casaleiro.
Em Guimarães, a irmã Manuela Queirós destaca “a incerteza das medidas em cima da hora”, para além de todo um “reajustamento de rotinas, alteração das metodologias de trabalho e na organização do pessoal”.
Em termos de frequência, se na APAC os números da creche são iguais aos do Pré, na OSSCM na creche cifrou-se por um regresso de 50% dos bebés e abaixo da metade no caso do Pré-escolar.
Ainda assim, a irmã Manuela Queirós realça as qualidades do complexo da instituição, onde os espaços ao ar livre são vários e de excelentes dimensões.
Durante a quarentena, em Guimarães houve pessoal que, durante o mês de abril, esteve em lay off, tendo regressado todo o pessoal em maio. Já na Póvoa de Santa Íria “não foi ninguém para o lay off”, porque, segundo José Casaleiro, “são os trabalhadores que defendem o emblema da APAC, enquanto os pais estão apenas de passagem”.
E apesar da “quebra de receita substancial” que a instituição sofreu, a APAC reduziu a comparticipação familiar em 25%, tendo chegado aos 40% em alguns casos mais complicados.
Também, em Guimarães, a OSSCM acusa redução nos montantes da prestação familiar, lembrando a responsável a despesa não habitual que agora o é com os equipamentos de proteção individual.
Apesar do regresso seguro das crianças, em ambas as instituições espera-se que mais crianças voltem.
“O meu maior receio é que as crianças não venham, porque as crianças precisam disto e as equipas também”, afirma Luís Miguel Pereira, coordenador pedagógico do Colégio de Vila Pouca.
Inicialmente previsto para reabri também no dia 1 de junho estava as ATL. No entanto, o Governo optou por adiar essa reabertura, ficando agendada para dia 15 de junho.
Esta alteração apanhou as instituições de surpresa, porque o anúncio da mesma apenas foi comunicado no dia 29 de maio, a dois dias (fim-de-semana) da data inicialmente prevista.
“Temos tudo pronto para as ATL abrirem. Como não sabíamos de nada antes de sexta-feira, preparámo-nos para a reabertura. Não é trabalho perdido, mas…”, sustenta a irmã Manuela Queirós.
Também José Casaleiro ficou desagradado com o timing do anúncio do adiamento por 15 dias: “A calendarização falhou. Só soubemos às 18h00 de sexta-feira pela comunicação do primeiro-ministro. Andou a equipa a preparar tudo para darmos a melhor resposta e só soubemos em cima da hora. E na segunda-feira ainda apareceram duas crianças para as ATL”.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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