Iniciativa da Universidade de Aveiro, em particular do ISCA (Instituto Superior de Contabilidade e Administração), o «Projeto TFA - TheoFrameAccountability – Quadro teórico para a promoção da accountability (prestação de contas) no sector da economia social: o caso das IPSS» nasceu no seio de um grupo de investigação que já trabalhava junto outras matérias e que se apercebeu da obrigação legal de publicação das contas num website a que as IPSS passaram a estar sujeitas. Tudo começa na criação de um website, se forma simples e intuitiva, mas o propósito do projeto vai muito mais além, como explica, nesta conversa com o SOLIDARIEDADE, o investigador e membro do grupo que está na génese do Projeto TFA, Rui Marques, responsável pela área informática.
SOLIDARIEDADE - Como surgiu o Projeto TFA, na prática o www.somosipss.pt?
RUI MARQUES - Isto é um aparecimento natural, porque vivemos numa era de transformação digital, em que a maior parte dos processos, principalmente os que são mais importantes, estão digitalizados totalmente ou grande parte desmaterializados. Por outro lado, com as obrigações legais que foram impostas às instituições nos últimos anos, este projeto também vem responder a essa obrigatoriedade de ter um website para publicação, pelo menos, das contas do período anterior. Portanto, para além de ser uma evolução natural, vem também dar cumprimento a uma obrigação legal.
Esta ligação da informática com vertente de gestão é algo que desenvolvem há muito, no ISCA, noutros âmbitos também?
Sim, os elementos do ISCA que integram o projeto já têm um historial de trabalho e de investigação em várias áreas e também nesta em particular. Antes do projeto se iniciar, já tínhamos feito um levantamento das necessidades do sector ao nível do cumprimento do decreto-lei que impõe a necessidade de as instituições terem um website para publicação das contas.
E que especiais cuidados houve face a estarem a trabalhar para um sector tão específico como o social solidário, especialmente nas questões da construção do website?
Quando pensamos em construir um website, pensa-se logo que é necessário um técnico para o fazer e, aqui, quando começámos a conceptualizar a plataforma, vimos logo que para a construção do site poderia não haver competências do lado das instituições. Então, a nossa plataforma é um instrumento para que, com alguns passos, algumas etapas de grande usabilidade, intuitivas e simples, e que não requerem quaisquer conhecimentos técnicos, se consiga, através dessas várias etapas, obter o website. Esta é uma plataforma que vai gerar uma quantidade enorme de websites, mas eles acabam por ser individuais para cada instituição. A nossa plataforma surge como um agregador desses websites, a partir do qual o público em geral pode aceder, consultar e pesquisar as instituições do sector que aderiram ao projeto. A plataforma é um instrumento de apoio às instituições, que não precisam de recrutar nenhum técnico, nem de adquirir serviços a qualquer empresa para construir o seu website, e assim facilmente, sem conhecimentos específicos, obter o website.
Neste caso as instituições terão que pagar o domínio na Internet?
Neste caso, estamos a falar de um projeto financiado por fundos europeus e, como tal, totalmente gratuito para as instituições, sem qualquer custo de adesão e manutenção.
Para facilitar o trabalho das instituições, criaram uns tutoriais. Em que consistem?
Todos os requisitos de usabilidade foram pensados para que não requeressem quaisquer conhecimentos, no entanto, para auxiliar os utilizadores pensámos em colocar no Youtube uns tutoriais em forma de vídeo, que hoje em dia toda a gente está habituada a pesquisar na Internet. Neste momento, estão criados cinco tutoriais temáticos para cada componente da plataforma, que explicam qualquer dúvida de qualquer parte das componentes.
E esses tutoriais acompanham o processo desde o momento zero até ao site estar construído?
Exatamente. Vão desde o registo na plataforma para aderirem ao projeto, passando pela parte de criação do website até à parte da gestão do mesmo.
As três primeiras instituições a aderirem ao projeto nem sequer necessitaram dos tutoriais para construírem o site. Isso deixa-vos satisfeitos?
Isso significa que os requisitos que estabelecemos para nós, em termos de usabilidade foram atingidos. Nada nos satisfaz mais do que querermos algo intuitivo e fácil e termos a prova disso com aqueles que o testaram. Inicialmente, foram apenas três as instituições que aderiram ao projeto, mas neste momento em que falamos, ou seja, fim de agosto, já estão na plataforma 23 instituições. Atendendo a que agosto é um mês parado, este é um excelente crescimento.
E a apresentação dos sites é igual para todas as instituições ou há a possibilidade de escolher templates, ou seja, terem aparências diferentes?
Sim… Há uma estrutura que é comum, uma espécie de espinha dorsal em que facilmente se reconhece que é pertencente ao projeto, mas depois há uma parte muito costumizada em termos de imagem, especialmente, em termos de cor, inserção de imagens, logótipos. Esta é uma parte muito costumizada. Porém, o tipo de conteúdos que as instituições têm de introduzir são uniformizados, porque fazem parte da estrutura comum. Há alguma liberdade, mas não há uma liberdade total, senão seria difícil criar uma plataforma que agregasse sites completamente distintos.
Ultrapassada a fase de construção do site, vem a segunda fase do projeto. Em que consiste em concreto?
A segunda fase do projeto é tão ou mais importante do que a primeira, a da construção do site e que estivemos até aqui a falar. Esta segunda parte é a da incorporação dos indicadores económicos, financeiros e sociais na plataforma. Esta segunda etapa do projeto vai criar mecanismos para as instituições carregarem informação. Nesta fase vai haver mecanismos de importação automática ou de introdução manual para carregar informação para calcular os indicadores da framework. Isso vai permitir transformar a parte de administração do site, a que só as instituições podem aceder, num instrumento de gestão. É que através desses indicadores as instituições vão ter uma noção de como a sua gestão está a evoluir ao longo do tempo. Com a análise desses indicadores, que são quase 80 e que cobrem as vertentes económica, financeira e social, as instituições conseguem verificar a sua trajetória, em termos de desempenho, e se está a seguir o rumo pretendido nos objetivos estratégicos da instituição. O que está pensado neste momento, e já estamos a trabalhar nisso, é que a plataforma tenha essa parte de administração, ou seja, um dashboard muito intuitivo que mostre esses indicadores e esses rácios de desempenho. Adicionalmente, é uma ferramenta que lhes permite comparar o seu desempenho com o agregado de instituições congéneres ou da mesma área geográfica ou que oferecem as mesmas respostas sociais. Portanto, aqui é que vamos oferecer uma mais-valia às instituições, porque o website por si só ajuda-as a cumprir um requisito legal e a terem um espaço na web de contacto com o público, mas esta é a parte que as ajudará na gestão da sua entidade. Isto é uma ajuda, porque não havendo nada, passa a haver qualquer coisa, com a vantagem de terem esta ferramenta de comparação, o que de forma isolada nunca conseguiriam. Uma coisa é ter a noção de como estamos, outra é a de podermos comparar-nos com os nossos pares.
E essa segunda fase vai requerer mais acompanhamento da vossa parte?
O objetivo é continuar com o mesmo princípio de usabilidade, isto é, que seja algo simples que facilmente as instituições consigam usar. Obviamente, iremos acautelar, tal como agora com os vídeos tutoriais para a construção do website, outros mecanismos de apoio.
Por fim, deixe uma mensagem para as instituições?
Acho que as instituições, mesmo aquelas que já têm website, têm aqui uma oportunidade de entrar num projeto, a nível nacional, que lhes permite desenvolver um espírito de pertença a um sector e angariar, de uma forma totalmente gratuita, uma plataforma que daqui a poucos meses lhes poderá ajudar na gestão da sua entidade. Acho que é uma oportunidade única e basta visitar o site www.somosipss.pt, fazer o registo e, em caso de qualquer dúvida, usar os contactos que lá estão disponíveis.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
Não há inqueritos válidos.