As demências são um dos grandes desafios que se afiguram às IPSS que trabalham com a população sénior e o Centro Social Vale do Homem está bem ciente disso. Nesse sentido, construiu o que chamou de Casa da Alegria, que, segundo Andreia Costa, diretora-técnica do equipamento, mais não é do que “um lar e um centro de dia especializados para pessoas com alzheimer e outras demências, criado de raiz e arquitetonicamente pensado para essas patologias”.
Tecnologicamente avançado, assemelhando-se a um edifício inteligente, o edifício está pensado, ao mais pequeno pormenor, para acolher pessoas afetadas por demência.
“A Casa da Alegria é dotada de quatros sensoriais e tem um sistema de grande segurança, com prevenção de queda e de fuga em todos os quartos”, refere Andreia Costa.
Trata-se do inovador «Becares», um sistema de controlo com sensores verticais, que controlam a fuga, e horizontais, para controlar as quedas, com alertas para a funcionária mais perto do quarto do utente.
“Para além disto, o equipamento tem várias salas de intervenção e de estimulação, entre elas uma de musicoterapia, uma sala de neuro-reabilitação, uma sala sensorial e uma sala de hidromassagens, que serve para apaziguar os doentes em momentos de maior agitação. E temos ainda o jardim terapêutico e sensorial”, revela a diretora-técnica, referindo-se, de seguida, aos recursos humanos: “Temos uma equipa multidisciplinar, que integra vários técnicos, mas temos a trabalhar connosco também uma neurologista”.
Desde a abertura, a 19 de março, a capacidade do lar está lotada, sendo que a resposta de Centro de Dia ainda não tem utentes, porque a abertura da Casa da Alegria deu-se em plena pandemia e essa valência foi suspensa em todo o país.
“A capacidade do edifício é para 31 utentes em ERPI e 19 em Centro de Dia. Esta é uma resposta 100% privada, porque, de momento, não temos apoio do Estado. Não tivemos apoio na construção, nem a nível de acordos para o funcionamento. Já fizemos a demonstração de interesse para respostas inovadoras, mas ainda não obtivemos resposta”, sustenta Jorge Pereira, presidente do Centro Social Vale do Homem.
A Casa da Alegria entrou em funcionamento no Dia do Pai, ou seja, uma altura em que o país estava confinado, muitas instituições com as respostas sociais fechadas e os lares e Serviços de Apoio Domiciliário sobrecarregados com trabalho e com inundadas de orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Por isso mesmo, a instituição teve que implementar todas as medidas de segurança necessárias para evitar que o vírus entrasse na Casa.
“Os utentes fizeram o teste, estiveram em isolamento 14 dias e, felizmente, até agora não tivemos nenhum caso em nenhum dos três edifícios da instituição. Temos tido sorte, mas também se deve ao rigor dos profissionais, à implementação do plano de contingência e do seguimento de todas as orientações emanadas da DGS para as ERPI”, afirma Jorge Pereira, revelando: “Tivemos todos os cuidados e a obra já estava feita quando procedemos a uma alteração em virtude dessas medidas. Tínhamos aqui umas janelas fixas, cortámo-las e fizemos uma porta. Uma obra que nos custou 1.500 euros por causa da pandemia. Tínhamos criado a sala da família, onde estas podiam visitar os seus familiares internados. No entanto, tinham que entrar no edifício e o que fizemos foi criar uma entrada alternativa para que pudessem haver visitas. Nos outros edifícios também fizemos algumas alterações e em todos eles as visitas, desde que foram autorizadas, as famílias ficam por fora e os utentes por dentro. Não há contacto, há sempre um funcionário presente nas visitas, respeitando, de resto, as normas emanadas pelas autoridades de saúde”.
À exceção dos recursos humanos, em que há uma maior exigência, com um rácio trabalhador por utente maior, tudo o resto funciona como uma ERPI. O equipamento tem 30 funcionários e 31 utentes, de momento.
O edifício tem um design favorável à demência, no qual as cores das portas das casas de banho e das tampas das sanitas e as cores das portas dos quartos servem de orientação aos utentes.
Para já, a Casa da Alegria funciona como uma resposta privada, mas também toda a sua construção não contou com qualquer apoio estatal.
“A instituição, financeiramente, está credibilizada perante a banca e esta emprestou-nos dinheiro. Está aqui um investimento de 2,6 milhões de euros. Conseguimos três candidaturas que nos ajudaram muito, o BPI Sénior e o BPI Rural e ainda a Caixa Social, da CGD, das quais conseguimos pouco mais de 100 mil euros só para equipamentos. Isto foi importante porque os equipamentos para uma resposta como esta acabam por ser caros. Tivemos agora uma candidatura aprovada para o funcionamento do jardim terapêutico e sensorial, que é único na Península Ibérica”, diz o presidente da instituição, que revela onde foram buscar a ideia de fazer algo tão inovador e pioneiro no país: “A nossa inspiração foi muito a Casa do Alecrim – nós somos sócios e parceiros da Alzheimer Portugal, que deu formação ao nosso pessoal –, Salamanca, onde há um instituto ligado ao governo espanhol, que também está ligado à universidade local e que trabalha na investigação de tudo o que são demências, e no La Milagrosa, na Corunha, que também é uma instituição que trabalha e investiga as demências e que também está ligada à universidade da Corunha. No fundo, estes dois institutos espanhóis foram a grande inspiração e que nos forneceram conhecimento para podermos implementarmos algo inovador”.
O Centro Social Vale do Homem começa, também, já a estabelecer ligações com instituições de investigação em Portugal.
“Temos algumas ligações, mas estamos a preparar um protocolo com a Universidade do Minho e também com IPCA, que já foi nosso parceiro numa candidatura que fizemos ao PO ISE para o funcionamento do jardim terapêutico e sensorial”, afirma Jorge Pereira, avançando pormenores: “É um projeto a três anos em que foram aprovados 260 mil euros para pagar a recursos humanos para pôr a funcionar o jardim terapêutico sensorial, não apenas para os nossos utentes, mas também para a comunidade. Vamos abrir, primeiro, aos seniores dos quatro concelhos em que trabalhamos, mas depois abriremos também à comunidade escolar. O objetivo, agora travado por causa da pandemia, é fazer a ligação de escolas com idosos. O jardim terapêutico ajuda a fazer alguns milagres, pois temos aqui alguns utentes que chegaram cá em março acamados e que agora já andam a circular”.
Quanto ao Centro de Dia, ainda não estar a funcionar pelas razões conhecidas de todos, mas a procura é muita.
“Esta é uma resposta que liberta muito as famílias, que assim ficam tranquilas durante o dia”, argumenta Jorge Pereira.
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