ANA MARIA BANDEIRA, VICE-PRESIDENTE DO ISCAP

Adesão à plataforma «SomosIPSS» é mais-valia para avaliar e melhorar a gestão

O Projeto TFA tem como grande objetivo promover a accountability (prestação de contas) no sector da economia social, em particular nas IPSS. Para tal, o projeto propõe-se a concetualizar uma framework de indicadores que permita, a cada instituição e aos seus stakeholders, fazer a avaliação da accountability nas dimensões social, ambiental, financeira e económica das suas atividades. Ana Maria Bandeira, vice-presidente do ISCAP, instituto que integra a equipa que tem desenvolvido o projeto, revela alguns pormenores do projeto, sublinhando as vantagens que as IPSS podem retirar da integração na nova plataforma «SomosIPSS».
O «Projeto TFA - TheoFrameAccountability – Quadro teórico para a promoção da accountability (prestação de contas) no sector da economia social: o caso das IPSS» tem como grandes objetivos: desenvolver uma plataforma tecnológica que permita às IPSS que não disponham de website a divulgação online da prestação de contas a que são obrigadas e de outra informação voluntária que cubra os aspetos sociais e económicos da sua atividade (www.somosipss.pt); desenvolver uma estrutura de indicadores que permita à própria instituição, aos stakeholders e ao sector da economia social fazer uma avaliação da atividade das IPSS nas suas dimensões social, ambiental, financeira e económica; e dar início à elaboração de um anuário financeiro que permita fazer a avaliação do desempenho das IPSS.
Para melhor se perceber as potencialidades da plataforma e as mais-valias que as IPSS podem obter a partir da adesão à mesma, o SOLIDARIEDADE conversou com Ana Maria Bandeira, docente e vice-presidente do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto (ISCAP).
O organismo do Politécnico do Porto, em parceria com o ISCA Aveiro e o ISCA Coimbra, juntamente com a CNIS desenvolveram o Projeto TFA, que está no terreno através da plataforma www.somosipss.pt.
Após a adesão e a criação de um website para a instituição, segue-se a inserção de dados sobre uma grande variedade de indicadores que permitirão às IPSS avaliar o seu desempenho, mas também comparar-se com os seus pares.

SOLIDARIEDADE - A estrutura de indicadores já se encontra definida?
ANA MARIA BANDEIRA
- Sim, esse trabalho foi desenvolvido na fase inicial do projeto.

E como é que foi desenvolvida?
Baseámo-nos numa extensa revisão de literatura que contempla as vertentes social e ambiental, para além da económica, e ainda na perspetiva da engenharia organizacional sobre o processo produtivo, para traçar as dimensões, subdimensões e indicadores propriamente ditos. Em paralelo e no terreno, visitámos uma amostra significativa de IPSS, por forma a conhecermos melhor a sua realidade e preocupações e melhor podermos ir ao encontro das suas necessidades. Nesse sentido, chegámos a seis dimensões: 1.  Purpose (Objetivo estratégico/Perfil organizacional/Governação/Transparência); 2. Partners (Utentes/Prestadores de atividade/Voluntariado/Fornecedores); 3. Performance Económico-Financeira  (Rácios de atividade/económicos/Financeiros); 4. Proximity (Comunidade/Investimento Social/Mecenato); 5. Planet (Eficiência energética e emissões/Resíduos/Ecologia); 6. Progress (Infraestrutura TIC/Literacia digital/Cultura).

Houve alguma validação que demonstre a adequabilidade à realidade das IPSS?
Realizámos um Focus Group onde apresentámos a framework e os indicadores, de modo a obtermos uma validação da sua adequabilidade por um grupo representativo e heterogéneo. Foram convidados para o efeito representantes de IPSS, de municípios e da Rede Social, bem como académicos ligados ao estudo do sector da economia social. Através dos inputs recebidos fizemos ainda reformulações possíveis nos indicadores, aproximando-os das necessidades sentidas.

E de que tipo de indicadores é que estamos a falar, pode exemplificar?
Sem querer ser exaustiva, poderei referenciar, por exemplo, na dimensão Purpose, o índice de transparência pelo qual se avalia se a entidade relata mais do que é minimamente exigido. Já na dimensão Partners, temos indicadores que avaliam o relacionamento com os utentes, com os trabalhadores, com a comunidade, por exemplo, indo desde a caracterização de cada um desses universos até à sensibilização para a avaliação da satisfação, da criação de emprego, do recurso ao emprego inclusivo. Quanto à Perfornance Económico-Financeira são exemplos o Volume de negócio em termos de atividade, a Rentabilidade Operacional a nível económico ou a Liquidez geral a nível financeiro. Em Proximity, os indicadores pretendem evidenciar, por exemplo, a realização de programas de formação/informação que são postos ao dispor da comunidade. No que respeita à dimensão Planet, propomos a avaliação da sensibilidade da entidade para as questões ambientais, com reflexo ou não na parte económica. Relativamente à dimensão Progress, tentamos avaliar a capacidade de adaptação às novas tecnologias pelo impacto que tal poderá gerar na atividade da instituição. São amostras dos diversos indicadores possíveis de encontrar na framework desenvolvida.

Trata-se, em primeira instância, de uma autoavaliação por parte das instituições?
Sem dúvida. Ao avaliarem quaisquer dos parâmetros indicados, as instituições estão em primeira fase a olhar para a sua envolvente interna, sobre a qual ponderam e refletem.

Habitualmente, o desempenho das IPSS é medido, sobretudo, pela avaliação da situação económica e financeira. Porquê incluir as componentes social e ambiental e o que é que estas vão avaliar?
O facto de apenas se considerar a dimensão económico-financeira na avaliação destas entidades é redutor, mais ainda se considerarmos que a sua missão é de cariz eminentemente social. Este lapso, nestas instituições em particular, tem de ser ultrapassado, pelo que a criação de indicadores específicos para a sua avaliação faz todo o sentido. Pretende-se avaliar com diferentes metodologias a performance social e ambiental e/ou, pelo menos, a sensibilidade que a instituição tem nestas dimensões.

Será possível efetuar uma comparabilidade entre as IPSS, ou melhor, cada uma avaliar o seu posicionamento face ao desempenho de outras IPSS?
É nosso propósito facilitar esse tipo de comparação. Quem aderir ao projeto poderá, mediante a avaliação obtida pelos indicadores criados, estabelecer o respetivo relacionamento com outras instituições, podendo filtrar o tipo de instituição, o seu âmbito territorial, etc., embora os dados sejam mantidos de forma confidencial.

Em que medida esta autoavaliação permitirá às instituições melhorar o seu desempenho?
É uma questão de análise de reptos e oportunidades, fraquezas e defeitos. Ao refletirem sobre aspetos positivos e negativos da sua atuação, podem melhorá-los e automaticamente interferir positivamente sobre o seu desempenho. Consiste num processo de benchmarking em que mimetizar o que de melhor se faz apenas se pode traduzir em melhores resultados.

Como é que esta componente se interliga com a plataforma www.somosipss.pt, apresentada na edição anterior do Solidariedade?
Efetivamente, para podermos facultar esta possibilidade de autoavaliação por parte das IPSS, elas terão de aderir ao projeto e registar-se na plataforma «SomosIPSS». Depois de fazer o registo têm a possibilidade de responder a um questionário que contempla as questões necessárias à recolha dos dados para o cálculo dos indicadores. Depois de respondido o questionário, a instituição terá acesso aos seus resultados (aos seus indicadores individualmente) e aos indicadores globais (resultados de todas as respostas). Isto permite a cada instituição aderente fazer uma avaliação do seu desempenho, podendo fazer a já referida autoavaliação, podendo comunicar esses resultados aos diferentes interessados e, como também já referimos, poder comparar-se com os pares.

Em que medida esta componente do projeto contribui para a melhoria do conhecimento que as partes interessadas (stakeholders) têm da instituição?
Esta componente do projeto só contribui para a melhoria do conhecimento que as partes interessadas (stakeholders) têm da instituição, se a instituição adotar práticas de divulgação de informação e dos resultados dos indicadores, melhorando a accountability e a transparência. Este também é um objetivo do projeto – sensibilizar para a necessidade de existirem práticas de accountability e transparência, na medida em que, muitos artigos científicos já referem que existem melhorias de desempenho para as instituições que o fazem e que ainda pode ser a via para atrair, designadamente mecenas e doadores.

A adesão a este projeto e a submissão a uma ampla avaliação pode ajudar as IPSS a comunicar melhor o que fazem, como fazem e a importância do seu trabalho? Ou seja, a sociedade em geral poderá conhecer melhor o trabalho das instituições, contribuindo para aumentar a sua transparência?
Estamos convictos de que é precisamente assim. Como referimos anteriormente, ao darem-se a conhecer melhor em todas as suas dimensões e envolvimentos, só pelo facto de aumentarem a sua transparência, gera-se confiança e credibilidade que a sociedade exige cada vez mais. As instituições passam a comunicar melhor, de forma mais transparente, e a sociedade responde de forma mais positiva através do reconhecimento da notoriedade destas entidades.

Como é que as IPSS interessadas em fazer esta avaliação o poderão fazer? Como aceder a esta componente do projeto?
Como referido anteriormente, as IPSS interessadas deverão integrar o projeto, registando-se na plataforma «SomosIPSS» e terão de responder a um questionário online para que os indicadores (avaliação) possam ser calculados. Posteriormente, será possível ter acesso à funcionalidade que permitirá estabelecer a comparabilidade entre IPSS, através de processos de filtragem. Os resultados da avaliação de desempenho e de comparações efetuadas podem ainda ser comunicados pela instituição, melhorando a sua transparência e chegando com maior facilidade a todos os seus stakeholders, logo, melhorando a sua accountability e a sua transparência.

 

Data de introdução: 2020-10-08



















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