Tal como na sociedade portuguesa, também o regresso à normalidade nas IPSS está a ser feito gradualmente, com tranquilidade, mantendo cautelas e os cuidados necessários, reforçando novas rotinas que se ganharam com a pandemia, mas também a diferentes tempos. Este desfasamento nos graus de desconfinamento e consequente regresso à normalidade, seja lá o que ela for agora, observa-se mais nas estruturas residenciais, seja para idosos, seja para pessoas portadoras de deficiência. De resto, as instituições têm já um vasto programa de atividades, sendo que o espaço exterior é o mais desejado e o preferido para realizar novas iniciativas.
Apesar da vacinação estar bastante avançada, há ainda muitos idosos e trabalhadores de ERPI que, por terem estado infetados com o novo coronavírus, ainda não foram vacinados.
O presidente da CNIS, padre Lino Maia, tem vindo a alertar para a necessidade de obviar esta situação, sugerindo a redução do espaço temporal entre a infeção e a toma da vacina de seis para três meses, pois ainda há muita gente por vacinar e é uma situação que preocupa as instituições e retarda o seu desconfinamento e… regresso à normalidade.
O SOLIDARIEDADE visitou três instituições para tentar perceber como está a ser o regresso à normalidade, a esta nova normalidade que trouxe muito desconforto, mas também incutiu algumas novas rotinas que são positivas.
No Centro Social de Nossa Senhora do Extremo, em Tourencinho, concelho de Vila Pouca de Aguiar, é com orgulho e satisfação que a diretora-técnica Joana Monteiro sublinha o facto de a instituição não ter registado qualquer caso de Covid-19.
“Estivemos bastante tempo confinados e com medidas bastante restritivas, mas também tivemos os frutos, pois fomos dos poucos lares que não tiveram nenhum caso de Covid-19 positivo, seja entre os utentes, seja entre os colaboradores”, refere, o que tem levado os responsáveis da instituição a desconfiar com toda a precaução: “O desconfinamento tem sido feito com muita cautela e cuidado. Aliviámos algumas medidas, por exemplo, nas visitas permitimos mais contacto com os familiares, com uma maior aproximação e já sem o acrílico pelo meio”.
Nesta instituição transmontana as visitas, quando permitidas pelo Governo, foram sempre acontecendo, pois para além da adaptação de uma sala para as visitas, com todas as regras, como a entrada tem muito vidro, foi possível trazer grupos e celebrar alguns aniversários. Por outro lado, existe também a opção do jardim, o que permitiu a ida de grupos de familiares maiores, sem que houvesse perigo de contágio, pois os utentes ficavam no interior da instituição ou num patamar mais elevado.
Também na APPACDM do Porto o regresso à normalidade tem decorrido a tempos diferentes. Se os CACI – Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão já recebem mais utentes e vão realizando cada vez mais atividades, nos quatro lares residenciais a situação é diferente.
“Relativamente aos lares residenciais, temos vindo a desconfinar gradualmente. Há cerca de um mês desconfinou o lar do Cerco e começaram a vir em bolha para os CACI, há duas semanas desconfinou o lar das Antas e ainda se mantêm confinados a Pousada dos Rouxinóis e o lar Rui Abrunhosa, aqui em Aldoar”, revela Teresa Guimarães, presidente da instituição portuense, explicando as razões para estes dois lares ainda não terem desconfiando: “Isto ainda acontece porque temos a limitação de ocupação das viaturas e das salas. Não estando tudo vacinado preferimos ser cautelosos e, depois, como transferimos as atividades de CACI para os lares, eles estão com uma dinâmica muito interessante”.
Há que lembrar que, ao contrário do Centro Social de Nossa Senhora do Extremo, na APPACDM do Porto o vírus entrou. Felizmente, não fez vítimas, mas os lares foram muito castigados, com surtos a atingirem todos os residentes e muitos trabalhadores.
Entre as demais respostas, a grande preocupação é com os utentes que realizam atividades na comunidade.
“Temos conseguido alguma normalidade na instituição, mas uma das coisas que nos faz muita falta é que tínhamos diversos clientes em atividades na comunidade e que deixaram de estar, permanecendo aqui connosco. E eles sentem muita falta disso! Essa normalidade ainda não chegou”, lamenta Teresa Guimarães, que sobre os CACI revela o desconfinamento estar a acontecer com serenidade: “O regresso à normalidade tem sido feito com muita tranquilidade, com muito empenho das equipas técnicas e de toda a equipa de colaboradores. Os nossos clientes têm regressado gradualmente, alguns optaram por ficar em casa até setembro, por vontade dos pais. Neste momento, já todos os clientes de CACI receberam a segunda dose da vacina, o que nos dá mais alguma tranquilidade e nos permitirá alcançar a imunidade de grupo dentro da instituição. Já estamos praticamente com 2/3 de frequência no CACI, alguns mantém-se a vir em alternância, mais até pela questão do transporte do que propriamente pela ocupação das salas. Neste momento, quase triplicámos as voltas que damos com as viaturas! E para conseguirmos transportar todos, alguns têm que ficar em casa alternadamente”.
Já na Santa Casa da Misericórdia de Bragança, o regresso à normalidade no Jardim-de-Infância da Coxa… não o foi.
“Não tivemos regresso à normalidade, porque estivemos sempre abertos, com mais ou menos crianças. O mínimo foi uma criança, mas também tivemos bastantes regularmente, em especial no segundo confinamento”, refere a diretora pedagógica Maria Teresa, acrescentando: “O regresso à normalidade tem sido feito com as mesmas restrições que tivemos no primeiro confinamento. Mantemos as regras e ainda não as flexibilizámos, sempre no cumprimento das orientações da DGS”.
Sobre os efeitos da pandemia no funcionamento das respostas de creche e pré-escolar, educadora de infância afirma que o contexto “obrigou a uma nova forma de pensar a pedagogia”, que não é a que defendem na instituição.
“Agora fazemos um trabalho muito mais individualizado, mais virado para as regras sociais, a higiene e o saber estar e muito menos virado para aprendizagens do foro pedagógico, embora elas aconteçam”, revela, sublinhando “um aspeto positivo”: “Houve uma espécie de revolução interna nas pessoas que passaram a ser mais comunidade. Isto revolucionou as equipas, com as pessoas a mostrarem-se mais solidárias, mais flexíveis e aderirem mais a nível tecnológico, por força do teletrabalho. Esta situação levou as pessoas a fazer uma maior pesquisa individual e, neste sentido, as minhas colegas têm feito um excelente trabalho”.
Recorde-se que a Santa Casa da Misericórdia de Bragança tem ainda mais dois infantários, ambos fechados durante o confinamento, até porque um deles funciona no edifício sede da instituição, onde há um lar que foi bastante afetado pela Covid-19, com o trágico saldo de 28 vítimas mortais.
E se há elemento que marca indelevelmente o novo normal e só aquando do fim da sua obrigatoriedade a normalidade será mais palpável é a máscara.
E se nos idosos o seu uso é pacífico, na área da deficiência, em determinadas situações, é mais complicado, mas nas respostas de infância, não sendo o uso obrigatório nas crianças, o facto de o pessoal ter que a usar perturba muito o trabalho a desenvolver.
“A máscara é uma barreira. No pré-escolar nota-se mais porque as crianças não têm ainda tantas ferramentas, mas penso que quando pudermos estar sem máscara vai ser um dia muito feliz”, afirma Maria Teresa, destacando: “As crianças têm uma grande capacidade de esquecer, que nós não temos. O que ontem os incomodou muito, hoje já não existe, principalmente se os adultos souberem fazer as coisas, não lhes transmitindo traumas. E isso é o que a escola tenta fazer todos os dias, ou seja, que o dia seja o mais normal possível”.
E para que o regresso à normalidade vá sendo progressivo, as instituições preparam já um novo conjunto de atividades, em especial no exterior, pois até aqui o tempo tem sido todo passado no espaço interior e nos jardins e noutros pequenos espaços exteriores dos equipamentos das instituições.
“Neste momento decidimos arrancar com todas as atividades desenvolvidas internamente. Neste período tivemos que ser criativos, substituindo atividades no exterior por outras cá dentro”, afirma Teresa Guimarães, da APPACDM do Porto, revelando um novo projeto a lançar nos próximos tempos: “É «O Cantinho», a nossa loja social. Adquirimos uma autocaravana e a nossa ideia é andar com ela pela cidade do Porto a vender os produtos da nossa loja social. Já temos todas as oficinas dos CACI a trabalhar para «O Cantinho», o seu novo objetivo é a produção de produtos para vender na loja social”.>
Para além disto, a instituição tem duas hortas, “onde os clientes passaram, neste tempo, a ser os cuidadores das hortas”, estando ainda “a construir um jardim sensorial para tentar que as atividades sejam, nesta fase, num ambiente mais protegido, refere, acrescentando: “E vamos ainda arrancar com um novo projeto, com uma candidatura ao INR, que são os Campos de Férias Inclusivos. Nos últimos anos as famílias vinham-nos dizendo que as férias escolares eram muito complicadas e que os ATL convencionais não dão resposta. Então, decidimos avançar com este projeto, que neste primeiro ano vai receber apenas 10 crianças durante o mês de julho”.
No lar de Tourencinho, foram sempre mantidas as diversas atividades e foi aproveitado ao máximo as condições da instituição, que tem “um espaço exterior muito agradável, onde os utentes dão sempre os seus passeios”, revela Joana Monteiro, avançando algumas iniciativas para o futuro próximo: “Temos alguns piqueniques previstos, queremos levá-los ao santuário da Nossa Senhora do Extremo e até a Vila Pouca de Aguiar, para lhes proporcionar alguns passeios diferentes dos do jardim da instituição”.
As instituições vão percorrendo o caminho cauteloso e tranquilo rumo à nova normalidade, que imprimiu novas rotinas no seu funcionamento, mas também lhes retirou muito.
Fazer como as crianças e esquecer rapidamente todo este quase ano e meio de pandemia era o ideal, mas até chegarem à maior normalidade possível, as instituições continuam a tomar conta dos seus, tentando proporcionar-lhes um quotidiano o menos disruptivo e o mais confortável possível.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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