O Governo vai promover a realização de um estudo serológico a cinco mil funcionários e utentes de lares de idosos, para aumentar o conhecimento científico sobre a duração dos efeitos da vacina nesta população.
O estudo será conduzido ainda em agosto nas regiões do Alentejo e Algarve e terá "participação voluntária", indica comunicado do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
O objetivo é aumentar o conhecimento científico atual sobre a duração dos efeitos da vacina na população idosa, analisando a imunidade nos idosos mais vulneráveis que já foram vacinados, comparando-a com a dos funcionários vacinados na mesma altura.
O estudo, promovido no âmbito do programa integrado daquele ministério de apoio aos lares de idosos devido à pandemia por Covid-19, será conduzido pela Fundação Champalimaud e pelo Algarve Biomedical Center (ABC) que "vai contactar todas as instituições destas regiões, solicitando a participação dos utentes e dos profissionais, até se atingir a meta de 5 mil participantes".
Segundo a tutela, os testes não terão "quaisquer custos para as instituições" que participarem no estudo, cujos resultados serão apresentados publicamente em setembro."Os resultados do estudo serão partilhados com as autoridades de saúde e poderão contribuir para decisões futuras sobre esta matéria", assinala.
No início de agosto, havia mais de 50 surtos ativos de infeção pelo SARS-CoV-2 em lares de idosos.
A iniciativa do estudo serológico surge depois do presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), o padre Lino Maia, ter defendido a realização de teste de imunidade “em larga escala”, devido aos novos surtos em lares.
Lino Maia argumenta que esta medida deve avançar o quanto antes. “Penso que era de todo conveniente que fossem feitos testes a todos os utentes de lares novamente porque estamos a ver que a vacina, sendo muito importante, não é 100% eficaz e sobretudo não é 100% eterna, pelo menos parece”, explica.
Lino Maia acrescenta que depois dessa “bateria de testes” deve ser feita uma avaliação e ponderar a “possibilidade de uma terceira toma da vacina”.
Nestas declarações, reforça ainda a necessidade de tornar obrigatória a vacina contra a Covid para todos os que trabalham com os mais vulneráveis.
“Moralmente já são obrigados a vacinarem-se, mas legalmente não são”, diz Lino Maia, defendendo que a essa obrigatoriedade devia ser estabelecida.
O bastonário da Ordem dos Médicos alertou para a necessidade de uma atenção especial aos lares, insistindo na testagem regular para travar o avanço de surtos e apontando a subida da taxa de letalidade nos mais idosos. "É fundamental fazer testes rápidos de antigénio regulares a quem trabalha nos lares para perceber quem está infetado. Só assim se consegue travar o avanço de surtos, juntamente com as medidas de saúde pública", disse Miguel Guimarães.
O bastonário lembrou ainda que, de acordo com o indicar usado pela Ordem dos Médicos (OM), "a taxa de letalidade nos mais idosos tem vindo a aumentar nos últimos dois meses e já está nos 13%"
"O Inverno há de chegar e, quando chegar, vai haver mais infeções e sintomas de outras outas doenças, como a gripe sazonal, e, nessa altura, ou temos tudo bem controlado, ou podemos ter problemas mais complicados", afirmou. Os mais idosos "continuam a ser os mais frágeis, mesmo estando a imensa maioria vacinados", acrescentou.
O presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública defendeu que a situação dos surtos nos lares de idosos merece cautelas, mas não defende a massificação dos testes nem uma terceira dose da vacina, sem evidência científica.
A propósito dos surtos nos lares, Ricardo Mexia afirmou que esta questão deve ser olhada com "bastante cautela". "A questão dos lares é preocupante no sentido em que sabemos que são os contextos em que mais severidade e mais mortalidade tivemos no passado", mas, ressalvou, a situação "ainda está muito longe" do cenário vivido em janeiro e fevereiro, "muito mais complicado".
Nesse sentido, o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) reiterou que é preciso "manter as cautelas" em relação à população idosa, que "é bastante vulnerável", e defendeu que perante o surgimento de casos é necessário ser muito célere na testagem.
Já o coordenador da task force para a vacinação contra a covid-19 afastou a possibilidade da administração de uma terceira dose da vacina em idosos nos lares, enquanto "não houver evidência científica" da sua necessidade. "Não há evidência científica, neste momento, para dizer que a terceira dose é necessária e, enquanto não houver evidência científica, não devemos começar a criar uma imagem que vem aí qualquer coisa e temos que ir já para uma terceira dose", afirmou o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo.
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