LAR D. PEDRO V, PRAIA DA VITÓRIA

159 anos a apoiar os mais idosos e os mais desfavorecidos da Ilha Terceira

Entre chamar-se Asylo de Mendicidade D. Pedro V e Lar D. Pedro V vai mais de um século, mas os 159 anos de vida que a instituição social da Ilha Terceira, nos Açores, acaba de completar neste mês de agosto foram sempre pautados pelo apoio aos outros, em especial aos mais necessitados. Ainda hoje é assim, mas o hoje da instituição é radicalmente diferente do antes 1998. O crescimento em termos de respostas sociais obrigou a instituição a crescer em termos físicos, acolhendo e apoiando mais de 150 utentes. No entanto, uma nova UCCI e uma moderna unidade de demências são os próximos projetos a concretizar.
“Em 10 de Agosto de 1862 é fundado o ‘Asylo de Mendicidade D. Pedro V’, como homenagem ao ‘Rei bondoso’. Provisoriamente instalado nos granéis da Santa Casa da Misericórdia, debaixo das enfermarias do Hospital, mudou as suas instalações para o antigo Convento da Luz a 28 de Setembro de 1865, atual edifício”.
De forma resumida é assim que o site do, hoje denominado, Lar D. Pedro V recorda a fundação de uma instituição que acaba de completar 159 anos de vida em prol dos mais desfavorecidos e desvalidos da vida no concelho da Praia da Vitória, na Ilha Terceira, Açores.
Durante mais de um século a instituição foi cumprindo a sua missão, até que em 1981 se dá a alteração do nome para o atual Lar D. Pedro V, com a instituição a ganhar o estatuto de IPSS e a direcionar o seu foco e missão aos idosos, franja da população que mais apoio necessitava e necessita.
“A grande alteração dá-se mesmo com a mudança do nome e com a ideia de modernizar a instituição. A mudança de nome trazia também outra forma de olhar para a instituição, porque as pessoas vinham para o lar que passava a ser a sua casa e não para um asilo, por isso, os dirigentes da altura alteraram o nome”, começa por contar João Canedo Reis, presidente da instituição.
Foi logo aí que se começou a pensar em ter outras valências disponíveis na instituição. Nesse sentido, “criaram-se uns consultórios médicos e a fisioterapia, uma resposta aberta à comunidade, para além de servir os utentes do Lar”, explica.
Nesse tempo, “a instituição era apenas o edifício-mãe, onde surgiram depois as residências assistidas era terreno que os próprios idosos ajudavam a cultivar, porque esse era um tempo em que não havia apoios”, recorda João Canedo Reis, sublinhando que, “nessa altura, ia-se pelas freguesias recolher produtos alimentares que as pessoas doavam para alimentar os idosos na instituição”.
“Então, a partir de 1998, começámos a pensar a instituição a 20 anos e foi o momento em que se deu uma grande transformação”, afirma o presidente da instituição, com esta a crescer de forma evidente, alargando as respostas sociais disponíveis.
Foi aí que se construíram as 18 residências assistidas, mas como não havia dinheiro para tudo, a instituição foi à banca e contraiu um empréstimo para poder construí-las. É nesta altura também que se criaram as estruturas do Clube Saúde, onde acrescentámos aos consultórios médicos e à fisioterapia a valência de um ginásio, para apoio aos idosos, mas também à comunidade”.
Atualmente, a instituição terceirense acolhe 64 idosos em ERPI, sendo que duas das vagas são em regime privado, apoia 60 utentes em Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), cuida de mais 12 na Unidade de Cuidados Continuados Integrados e acolhe ainda 20 idosos nas 18 residências assistidas. A estas respostas sociais acresce a Cantina Social, que serve 20 refeições, e o apoio ao RSI, que contabiliza 160 processos. A isto junta-se ainda o Clube Saúde, com o ginásio a ser arrendado a uma empresa da especialidade, por questões de sustentabilidade. Tudo a funcionar com o empenho de uma equipa de 90 funcionários.
“Foi com a construção das residências assistidas que começámos a pensar a instituição não como uma empresa, mas com valências que pudessem dar algum retorno ao Lar. Essa é a nossa vertente empresarial para assegurarmos a sustentabilidade de toda a estrutura”, argumenta o presidente do Lar D. Pedro V.
O grande salto qualitativo e a modernização do Lar dá-se a partir de 1998 quando se reestrutura a instituição e esta é pensada a médio prazo. Uma altura em que “a gestão passou a ser mais rigorosa e cuidada, porque interessava ter mais alguma rentabilidade”, defende, explicando: “Nos Açores o custo dos idosos está estabelecido, os utentes pagam o correspondente a 80% dos seus rendimentos e, depois, o Governo Regional comparticipa a diferença. Só que o custo estabelecido é de mil euros, mas o real custo fica nos 1.300 euros, o que nos cria sempre uma diferença que temos que colmatar. Esta vertente empresarial das residências assistidas e do Clube Saúde serve para isso”.
Se há coisa pela qual os Açores são bem conhecidos, para além das belezas naturais, é pela terra fértil e ainda pela produção leiteira, em que as vacas assumem papel de protagonistas.
Por isso, não é de estranhar que até há bem pouco tempo, a instituição da Praia da Vitória possuísse terrenos agrícolas e vacas para produção leiteira e não só.
“Há coisa de quatro anos, a instituição tinha também uma lavoura, mas há três anos vendemo-la, porque quando fomos acreditados pela qualidade não podíamos abater o gado, nem tê-lo aqui na instituição. Por isso, concluímos que era mais fácil fazer um acordo com uma empresa na área da alimentação e, assim, decidimos vender a lavoura e ainda arrendar outros terrenos que tínhamos”, conta, revelando ainda que “alguns desses terrenos foram doados, mas antes de 1998, em vez de colocar dinheiro no banco, a instituição investiu em terrenos e, neste momento, devemos ter 200 alqueires de terra arrendados”.
O crescimento da instituição em termos de respostas sociais obrigou a instituição a crescer, igualmente, em infraestruturas.
“Nós fizemos duas obras grandes, que foi a ampliação do Lar, que terminou em 2015, e outra de remodelação, que ficou pronta em 2012, e com isso a instituição foi praticamente toda renovada”, diz, acrescentando: “Quando lançámos o projeto, em 2008, planeámos as coisas para apenas 5% de pessoas em cadeira de rodas que era o que tínhamos. No entanto, neste momento, temos cerca de 50% das pessoas em cadeira de rodas. Ou seja, isto mudou por completo o nosso trabalho! Por exemplo, o refeitório dava para 88 pessoas e agora dá apenas para 50, pelo que tivemos que criar outro refeitório. Utentes acamados temos apenas três, mas também temos cerca de quatro pessoas totalmente autónomas”.
E apesar de as últimas intervenções no edificado serem recentes, João Canedo Reis revela um novo projeto que irá, novamente, alterar a instituição.
“No ano passado projetámos o Lar D. Pedro V a 10 anos e a nível de projetos temos um que está praticamente a arrancar e que é uma UCCI completamente nova. A UCCI antiga, com 12 camas, está integrada na ERPI, no meio dos quartos, pelo que criámos um projeto com 25 camas, 23 para cuidados continuados e estamos a ver se chegamos a acordo com o Governo Regional para termos duas para cuidados paliativos. Esta é uma lacuna que existe nos Açores e é preciso pensar nas pessoas para terem uma morte digna e acompanhada com pessoal qualificado à sua roda”, explica, pormenorizando: “Assim, vamos autonomizar a UCCI, criando um novo piso no edifício. Fizemos o projeto em 2019 e já conseguimos que o Governo Regional o aprovasse. Já está no plano do Estado o apoio a essa obra”.
Mas, para já, há uma outra intervenção que vai arrancar, pela premente necessidade: “Com a situação de termos cerca de 50% dos utentes em cadeira de rodas, vamos também remodelar as casas-de-banho, principalmente por causa dos banhos, porque como estão torna muito difícil a tarefa de dar banho aos idosos. Estamos a pensar arrancar com essa obra já em outubro”.
E porque neste universo do apoio social e da solidariedade as necessidades são muitas e o céu é o limite, a instituição terceirense deseja criar uma unidade exclusivamente dedicada a pessoas com demência.
“Temos ainda um outro projeto que estamos a dar início e que visa criar uma unidade de demências, com 18 camas. Esta é uma necessidade que existe no concelho e em toda a Ilha Terceira e é uma necessidade no seio da instituição. É importante não misturar quem sofre dessas patologias com os outros utentes. A nível do dia-a-dia é complicado gerir a coabitação dos utentes com demência com os demais. Por isso, queremos diferenciar os espaços para essas pessoas”, revela João Canedo Reis, rematando: “Com isto, pretendemos fechar este ciclo de crescimento e, assim, termos na instituição todas as respostas necessárias para o bem-estar da nossa comunidade e dos nossos idosos”.
Ao contrário do que sucedeu (e ainda sucede) no Continente, o SARS-CoV-2 “só entrou em uma instituição nos Açores, na ilha de S. Miguel, concretamente no Nordeste”, refere o presidente do Lar D. Pedro V e da União Regional das IPSS dos Açores (URIPSSA), que sublinha: “E isso também evidencia o bom trabalho que se fez nas instituições, no qual os seus trabalhadores foram fundamentais e extraordinários. Foi um trabalho de prevenção em que todos tentaram correr o menor risco possível. Aqui no Lar, tivemos várias suspeitas, mas nada se confirmou e só de março até junho de 2020 é que funcionámos com equipas em espelho”.
E quando já tudo parecia estar mais tranquilo e rumo à normalidade, houve um recuo face ao agravamento da situação Covid-19 no arquipélago dos Açores.
“Entretanto, voltámos a suspender as visitas aos idosos, devido ao aumento de casos na ilha neste final de julho e início de agosto. O Centro de Dia está a funcionar porque passámo-lo para uma das residências assistidas que estava vaga e prevemos que fique nesse local até ao dia 1 de setembro. Esperemos que até lá consigamos a imunidade da população e, então, fazer regressar o Centro de Dia ao interior do Lar”.
Ainda sobre este período de dificuldade e de enorme incerteza que tem sido marcado pela pandemia, João Canedo Reis reforça os encómios aos trabalhadores: “Não me canso de dizer que os funcionários das instituições, em especial das ERPI, tiveram e fizeram um trabalho extraordinário, demonstrando grande disponibilidade e humanismo. Foi um trabalho excelente e só temos que lhes agradecer. Por isso, é fundamental, e na URIPSSA estamos a trabalhar nesse sentido, que estes trabalhadores ganhem mais. Mas, para isso acontecer, o Governo Regional também tem que colaborar, pois só assim podemos fidelizar os nossos funcionários e fazer um trabalho de qualidade”.
E como seria a Praia da Vitória sem o Lar D. Pedro V?
“Era a Praia da Vitória na mesma, mas com menos serviços à população, porque o Lar D. Pedro V está bem inserido na nossa comunidade e presta um serviço essencial à população”, atira João Canedo Reis.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2021-08-12



















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