CENTRO INFANTIL DE ANGRA DO HEROÍSMO - COLÉGIO O BALOIÇO

Melhorar a autossustentabilidade para melhorar mais o serviço às crianças

«A criança tem direito a ser feliz». Este é o lema do Colégio o Baloiço, instituição dedicada à infância na cidade de Angra do Heroísmo, que, de momento, acolhe e cuida de cerca 220 crianças, entre os quatro meses e os 11 anos. Com 89 anos de história, O Baloiço continua a apostar na qualidade do serviço e numa maior autossustentabilidade da instituição. A Covid-19, como para todas as outras instituições sociais, tem sido um enorme desafio, mas é com satisfação que Paulo Almeida, presidente do Colégio O Baloiço, revela que a pandemia passou, praticamente ao lado das paredes da instituição. Sem possibilidade de crescer fisicamente, a instituição aposta em projetos paralelos com o propósito de criar mais-valias para a instituição e assim melhorar ainda mais o serviço prestado às crianças e suas famílias.
Nasceu em 1932, pela ação de um conjunto de senhoras benfeitoras de «famílias de bem» de Angra do Heroísmo, sob a denominação de Lactário das Crianças Pobres de Angra do Heroísmo.
“Nessa altura, acolhia apenas meninas, entre os 6 e os 12 anos, com o intuito de as afastar da rua e da prostituição, de lhes dar duas refeições diárias e de lhes ensinar um ofício”, conta Paulo Almeida, presidente do Colégio O Baloiço, acrescentando: “Ao almoço era um caldo e a meio da tarde umas sopas de leite, pois era o que a instituição conseguia”.
E foi assim que funcionou durante vários anos.
“Em 1947 a instituição teve que encerrar portas, porque a sede era um edifício muito degradado e o teto ruiu. Teve de portas fechadas durante dois anos e, em 1949, fruto de alguns donativos privados e da ajuda dos americanos da Base das Lajes, foi possível fazer algumas obras e reabrir a instituição”, prossegue Paulo Almeida, avançando na história para um outro momento determinante na vida da instituição: “Em 1975, a instituição começou a funcionar em moldes diferentes, recebendo crianças de ambos os sexos e já com jardim-de-infância e creche, funcionando num novo edifício na Penha de França”.
Porém, n’O Baloiço, que ainda não o era, tal como em toda a Ilha Terceira a vida das pessoas e das instituições sofreu um forte abalo.
“Então, surge o sismo de 1980, que destruiu grande parte da Ilha Terceira e aqui a nossa sede também. Seis meses depois, a instituição passou a funcionar num edifício perto do qual está hoje sedeada, era a antiga Casa da Roda, onde esteve a partir de junho de 1980”, recorda Paulo Almeida, sublinhando o passo decisivo no crescimento da instituição e que foi protagonizado pela, então, presidente Ana Rocha Alves, “uma senhora muito dinâmica”.
“Ela conseguiu adquirir um conjunto de cinco casas aqui na Rua da Boa-Nova e, em 1982, iniciou-se a construção do edifício onde estamos hoje. Em 1983, comprou mais três casas e, durante essa obra, há uma readaptação do edifício e o colégio para a denominar-se Centro Infantil de Angra do Heroísmo e é inaugurado em 1985”, conta, revelando que, “nessa altura, atribuiu-se oficiosamente os nomes de A Cegonha à creche e O Baloiço ao jardim-de-infância”.
Mais tarde, o Colégio adquire, “por 10 mil contos”, a antiga fábrica dos pirolitos, o edifício fronteiro ao da sede e, em 2002, começou a construção de um novo equipamento destinado ao ATL.
“Entretanto, havendo muita falta de creches em Angra do Heroísmo, o novo edifício foi alvo de uma adaptação para que acolhesse algumas salas de jardim, libertando espaço no mais antigo para mais salas de creche, duplicando a capacidade”, refere Paulo Almeida.
E é em 2015 que se dá a mais recente revisão dos estatutos da instituição “e, a partir dessa altura, o nome O Baloiço começa a surgir nos documentos oficiais, o que nos causou alguns problemas em termos de notariado, pelo que na revisão dos estatutos a instituição passou a denominar-se Centro Infantil de Angra do Heroísmo - Colégio O Baloiço”, revela.
Desde o Lactário feminino ao Colégio universal, O Baloiço cresceu muito, recebendo, “neste momento, 220 crianças, o que significa as valências todas cheias, o que nos deixa muito satisfeitos”, sustenta, sublinhando: “Não só por termos uma percentagem de ocupação ótima, mas também por não termos praticamente desistências. As crianças entram aqui aos quatro meses na creche e saem aos 11 anos no ATL”.
E se Paulo Almeida garante haver estabilidade e equilíbrio nas Contas da instituição, as coisas nem sempre foram assim.
“Quando esta equipa chegou à Direção da instituição encontrámos uma situação complicada. Havia falta de recursos físicos para desenvolver a atividade, porque só tínhamos uma viatura de nove lugares, os dois edifícios estavam algo degradados e havia uma dívida que rondava os 80 mil euros”, recorda, acrescentando: “Felizmente, conseguimos salvar a parte financeira, que foi o primeiro eixo do nosso mandato, ou seja, arranjar alguma tranquilidade na tesouraria. O segundo eixo era a recuperação do edificado. E conseguimos recuperar o edifício mais recente que estava mais degradado e, depois, reconstruímos e readaptámos o edifício mais antigo às novas realidades e exigências legais. O edifício mais antigo foi demolido em cerca de 95%, uma obra de cerca de 1,2 milhões de euros. Entretanto, já adquirimos uma viatura de 16 lugares e, há dois anos, comprámos um minibus, com capacidade de 27 lugares”.
E é precisamente no edificado que Paulo Almeida encontra a maior dificuldade da instituição.
“Temos o grande problema de estarmos no meio urbano em que o crescimento da instituição é complicado. Não temos espaço livre para crescer para lado nenhum! Neste momento, sentimos que existe muita procura, mas não temos capacidade para admitir mais crianças. O facto de estarmos no centro de Angra tem prós e contras, o que vai de encontro ao terceiro eixo desta Direção quando assumiu a instituição e que é torná-la menos subsídio-dependente. Neste momento, a prioridade é este terceiro eixo”, revela, adiantando algumas das intenções da Direção para avançar com um projeto de maior autossustentabilidade: “Estamos a estudar perspetivas de negócio que traga mais receita para a instituição. Não visamos a obtenção de lucro, será tudo para injetar na instituição, mas para termos uma melhor saúde financeira e sustentabilidade que nos permitam perseguir os nossos ideais. Andamos à procura de um espaço no centro urbano que nos possibilite abrir um espaço comercial, mas os edifícios são muito caros e temos algum receio, porque não nos queremos colocar a instituição numa situação financeira delicada. Por outro lado, em termos de prestação de serviços, estamos a estudar a possibilidade de avançar com um serviço de transportes. Isto ficou meio parado desde que surgiu a pandemia, porque não queremos fazer concorrência desleal a quem já está a sofrer imenso com os efeitos da estagnação de tudo o que tinha a ver com turismo e que muitos são os pais dos nossos meninos”.
E esta aposta num espaço comercial, não tem apenas um objetivo mercantil, pois as boas referências do Colégio permitem que se vá mais longe: “Temos algumas ideias, em termos de marketing social, da exploração comercial do nosso nome através de produtos feitos por nós. Temos ideia também da criação de uma casa de chá com venda de brinquedos e de roupa para crianças. Seria um espaço misto, ou seja, um espaço comercial, mas também um local para dar formação específica na área da infância”.
Tal como por todo o mundo, depois veio o novo coronavírus e tudo mudou.
“A Covid-19 começou por ser um monstro enorme, ainda é um monstro, mas já não é enorme… é só um monstro!”, começa por dizer Paulo Almeida, lembrando: “No início havia muito receio de tudo, porque havia muita falta de informação e isso assusta muito. Tivemos fechados durante dois meses as valências de jardim-de-infância e creche, a partir de março 2020, e um mês depois destas terem reaberto, abriu o ATL, mas ainda havia muitos receios”. A instituição implementou um plano de higienização completamente novo, com novos produtos e novos circuitos, “que era coisa que não havia”.
Tal como em todas as instituições dedicadas à infância, o regresso e o distanciamento físico impunham grandes dúvidas e receios.
“Havia muitas dúvidas em como seria possível viver sem a proximidade que, na altura, era tida como alarmante, como algo a evitar e que é essencial nestas valências”, lembra, frisando: “Passámos de uma instituição que presta afetos e carinho, para algo em que não pode haver contacto, nem partilha”.
Paulo Almeida agradece à comunidade, “que foi sempre muito aberta, próxima e compreensiva com as medidas adotadas”. No Colégio O Baloiço foi decidido “circunscrever cada sala a si própria, com novos circuitos, sem cruzamentos entre grupos e cada grupo iria funcionar o mais próximo possível do que seria ideal”, ou seja, “não se pode exigir a uma criança de dois anos que não dê um abraço a um amigo, é contranatura!”.
Por outro lado, através de alguns programas de emprego, a instituição conseguiu algumas funcionárias extra e implementou um plano em que as crianças não eram entregues à porta da instituição. “No horário de admissão, os corredores estão abertos, são as áreas consideradas sujas. Após os procedimentos de higienização, o pai ou a mãe pode levar a criança à porta da sala, onde a criança troca de calçado, porque a sala é uma área limpa. Às 9h30, as portas da instituição fecham e as áreas sujas são desinfetadas. A partir das 16h00, voltamos a ter áreas sujas, que são os corredores por onde os pais passam para recolher as crianças. Também pedimos sempre que as crianças que tivessem tido algum contacto com algum familiar vindo do exterior apenas regressassem à instituição após a obtenção de um teste negativo por parte dessa pessoa. Isto não é uma obrigação legal, mas um pedido que tem sempre sido bem acolhido”, explica o presidente d’O Baloiço.
E fruto do bom trabalho da instituição, o Colégio registou apenas um caso positivo, “foi o cozinheiro, que foi jantar fora num sábado”, mas que nunca esteve infetado na instituição. Ainda assim, a casa esteve encerrada durante 10 dias, “mas não houve nenhuma cadeia de transmissão, nem nenhum mal maior”.
E como seria Angra do Heroísmo sem o Colégio O Baloiço?
“Seria bastante mais triste”, atira, de pronto, Paulo Almeida, explicando: “Estamos a falar de um universo de 220 crianças acolhidas numa instituição que tem quase 90 anos. Não somos perfeitos, longe disso, mas somos uma instituição que preza a qualidade do serviço, a estabilidade e a dedicação no apoio que dá às crianças e suas famílias. É aqui que as crianças ficam durante a jornada de trabalho dos pais e estes sabem que está tudo bem, o que é muito complicado em contexto de Covid”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2021-09-20



















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