No passado dia 5 de dezembro assinalou-se o Dia Internacional do Voluntariado e, tal como garante Carla Ventura, vice-presidente da CASES – Cooperativa António Sérgio para a Economia Social, “os portugueses são, de facto, dados a ajudar e quando há situações de emergência dizem presente, tal como a pandemia veio mostrar e bem”.
Carla Ventura defende mesmo que “nunca houve tantas pessoas a querer fazer voluntariado e a perceção do voluntariado também nunca foi tão boa, porque as pessoas hoje reconhecem”, considerando que “é um capital que tem que se aproveitar”.
Atualmente, há mais de oito mil voluntários à espera de ser chamados para organizações que necessitem, pelo que a CASES “apela a que as instituições se registem na plataforma Portugal Voluntário e olhem para o voluntariado como algo que tem um enorme potencial”, constituindo “uma mais-valia de facto para enriquecer as práticas das organizações”.
Foi em 2018 que a plataforma Portugal Voluntário foi criada, um ano depois de serem atribuídas as competências do voluntariado à CASES, após auscultar interlocutores privilegiado na área para perceber as lacunas existentes.
Uma das necessidades identificadas foi “a dificuldade de encontrar voluntários”, mas igualmente as questões ligadas ao seguro e à capacitação do voluntariado.
“Na tentativa de dar resposta a estas necessidades, a CASES criou a plataforma Portugal Voluntário, que basicamente é um ponto de encontro entre a oferta e a procura. As instituições que precisam de voluntários dizem qual o perfil que pretendem e quantos voluntários necessitam, estes inscrevem-se, dizendo a área que gostavam de fazer o voluntariado e a sua disponibilidade e a plataforma faz o encontro entre a oferta e a procura”, explica a vice-presidente da CASES, garantindo que a Portugal Voluntário “não veio substituir nada que já existisse, mas apenas que as instituições e voluntários que não estivessem em nenhuma pudessem recorrer a esta”.
A plataforma tem ainda uma parte específica para os mais de 180 Bancos Locais de Voluntariado, estruturas criadas em 2011, “mas muitos não tinham uma ferramenta para gerir a sua atividade e esta plataforma permite isso”, acrescenta.
Na plataforma Portugal Voluntário as instituições podem ainda encontrar uma série de informação essencial, como os seguros que existem, a legislação e é também uma porta aberta para fazer o próprio seguro, que é sempre uma preocupação e um custo para as instituições.
“Inicialmente foi-nos muito sinalizado que o seguro era um constrangimento à prática e, então, a CASES desenhou uma medida de apoio ao seguro para as organizações serem ressarcidas dos custos que têm com o seguro dos voluntários”, sublinha Carla Ventura, lembrando outra medida: “Além disso, também se desenhou uma medida de apoio à capacitação, através de apoios comunitários. Apesar da candidatura que permite ressarcir as organizações do custo com o seguro terminar em junho do próximo ano, a CASES entende que deve manter este apoio com um orçamento específico”.
Para além da plataforma Portugal Voluntário, foi criada uma outra, Cuida de Todos, específica para apoiar as instituições durante o combate à pandemia.
“Na altura em que a Covid se instalou, percebemos que havia muita informação cruzada, os voluntários queriam saber onde podiam fazer voluntariado, as organizações queriam saber onde é que havia voluntários e o que fizemos foi um mapa para que quem precisasse de ajuda soubesse onde é que havia voluntários e quem quisesse ajudar soubesse onde o podia fazer. A necessidade premente foi nos lares de idosos e foi, nessa altura, que criámos o Cuida de Todos”, revela, expressando uma inquietação, que justifica com alguma má perceção em relação ao voluntariado.
“Entre a plataforma Portugal Voluntário e a Cuida de Todos, temos cerca de oito mil voluntários. O que nos falta aqui são ações de voluntariado. Com a Covid, os voluntários tradicionais das organizações foram mandados para casa por causa do risco. Neste momento, porque a Covid ainda cá anda, não temos procura de voluntários, o que constitui uma preocupação para nós. Ou seja, são poucas as organizações que nos estão a pedir voluntários”, lamenta a «vice» da CASES, revelando que este “não é um fenómeno exclusivo de Portugal, estando a acontecer em muitos outros países, exceção feita ao Reino Unido”.
As razões por detrás desta lacuna na colocação de voluntários são várias e algumas históricas, mas algo difusas.
“O voluntariado é uma prática relativamente recente em Portugal e temos ainda uma presença muito forte do Estado na sociedade. Agora, o que conseguimos perceber é que muitas organizações olham para os voluntários, primeiro, como mais uma situação em vão ter trabalho e colocam em causa se têm disponibilidade para preparar e coordenar os voluntários”, refere Carla Ventura, acrescentando: “Há organizações que já percebem, mas muitas mais precisam de entender que têm muito a ganhar tendo voluntários na sua estrutura. Por exemplo, passear com utentes numa excursão, pintar uma parede, fazer uma apanha de lixo são tudo situações que podem ser feitas através do voluntariado, sem as organizações sobrecarregarem os funcionários”.
O voluntariado, mais do que um encargo, “é uma mais-valia para o quotidiano das instituições”, garante, lembrando que assim, “entram mais na comunidade, dão-se a conhecer a mais pessoas”.
E aceder a este “imenso potencial” que é o voluntariado é totalmente facilitado pela plataforma Portugal Voluntário.
“Basta registar-se na plataforma para que a instituição fique conhecida como sendo promotora de voluntariado e a qualquer momento têm a facilidade de arranjar voluntários dentre os mais de oito mil que estão inscritos. Com este registo, a instituição é reconhecida como promotora do voluntariado e não têm qualquer encargo com os voluntários, porque têm logo direito ao apoio financeiro para o seguro e, de alguma forma, têm também a questão da formação/capacitação assegurada”, explica Carla Ventura, que revela ainda que a bolsa de voluntários cobre o país inteiro, “apesar de as zonas urbanas haver um maior número de voluntários”.
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