Meio século de serviço aos outros como provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros é razão mais do que suficiente para a homenagem de que foi alvo o comendador Alfredo Castanheira Pinto. Os agradecimentos, por tantos anos de dedicação à solidariedade, chegaram não apenas dos mais altos representantes do Sector Social Solidário e dos seus pares, mas também dos trabalhadores da «Misericórdia de Macedo» e de muitos amigos que se associaram à cerimónia. O presidente da CNIS resumiu numa frase o que levou tanta gente até ali: “Um obrigado muito grande em nome de muita gente”.
A cerimónia de homenagem contou, para além da família, com a presença de uma vasta panóplia de personalidades em representação das mais altas entidades de Macedo de Cavaleiros e ainda com os dirigentes e alguns trabalhadores da Misericórdia local, mas também com os presidentes da CNIS e da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), respetivamente, padre Lino Maia e Manuel Lemos, muitos provedores de outras santas casas e dezenas de amigos do provedor.
Nascido há 86 anos, a 13 de maio, numa pequena aldeia do concelho de Vinhais, Alfredo Castanheira Pinto tem uma vida preenchida pelo serviço aos mais desfavorecidos e desvalidos da vida, construindo uma instituição referência, não só no distrito de Bragança, mas em todo o país, não se limitando a desenvolver a «sua» Misericórdia, mas ajudando nos processos de organização do Sector Social Solidário.
Só um homem generoso, bondoso e com um sentimento de amor ao próximo muito grande dedica a sua vida aos outros, deixando para trás muitas vezes a família. Isto foi o que os diversos oradores da cerimónia de homenagem, em geral, disseram do provedor Castanheira Pinto.
A cerimónia, que decorreu no auditório da Associação Comercial, Industrial e Serviços de Macedo de Cavaleiros, contou ainda com as presenças virtuais de personalidades que não quiseram deixar de se associar à homenagem, como o ex-ministro do Trabalho e Segurança Social, Silva Peneda, o ex-secretário de Estado da Segurança Social, Marco António Costa, o ex-presidente da União das Misericórdias, padre Vítor Melícias, que referiu que “Castanheira Pinto merece mais do que ninguém a homenagem”.
Do Luxemburgo, dois dirigentes da Fundação Felix Chomé deixaram as suas palavras de apreço pelo trabalho desenvolvido pelo provedor, algo que conhecem de perto pelo intercâmbio existente entre as duas instituições.
Na sessão, o presidente da CNIS agradeceu a Castanheira Pinto, sublinhando ser “um obrigado muito grande em nome de muita gente” e lembrou: “À frente da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros conseguiu criar muitos serviços que a muitos beneficiam. Hoje haveria mais pobreza e mais infelicidade se não fosse Alfredo Castanheira Pinto. Com a sua liderança, quantas pessoas aqui ganharam o seu pão e não precisaram de sair daqui. E sempre se preocupou com a sustentabilidade da Santa Casa e com o desenvolvimento da economia local”.
Refira-se que a Misericórdia de Macedo de Cavaleiros desenvolveu uma vertente agropecuária bastante dinâmica e que contribui decisivamente para a sustentabilidade da instituição, proporcionando-lhe capacidade para prestar uma melhor missão social.
“Dedicação, serviço aos que mais precisam, postos de trabalho e desenvolvimento da economia local são contributos decisivos de Castanheira Pinto, que tanto tem feito pelo bom nome de uma terra como é Macedo de Cavaleiros”, resumiu o presidente da CNIS.
De seguida, o padre Lino Maia recordou o percurso do provedor na organização do Sector Social Solidário.
“Habituei-me a ver nele uma pessoa que cedo percebeu melhor que há outros serviços para além das Misericórdias e ele fez sempre a ponte entre estas e as IPSS”, destacou, acrescentando: “Esta relação entre as IPSS e as Misericórdias foi iluminada por Alfredo Castanheira Pinto”.
E recordou que, “apesar de ser provedor de uma Misericórdia, liderou o Secretariado Regional da União das IPSS e criou a União Distrital das IPSS do Distrito de Bragança”.
A terminar, o presidente da CNIS sublinhou “o espírito de comunhão e de solidariedade”, rematando com um elogio: “Ele será sempre um bom exemplo”.
Também Manuel Lemos elogiou a capacidade agregadora do homenageado.
“A ligação entre a União das Misericórdias Portuguesas e a CNIS foi um trabalho de todos e Alfredo Castanheira Pinto é um dos melhores exemplos disso mesmo”, enfatizou o presidente da UMP, lembrando também que “ele agregou à Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros outras atividades que ajudaram a desenvolver a economia local, como a produção de vinho e outros”.
Por fim, o líder das Misericórdias realçou o conforto que é para os demais dirigentes ter o decano dos provedores por perto.
“A presença dele, para nós, é fundamental, porque nos dá segurança e sempre aquele sentido de construirmos coisas melhores”, asseverou Manuel Lemos.
Por seu turno, Maria de Belém Roseira, presidente da Dignitude e ex-ministra da Saúde, começou logo por dizer: “Estamos aqui porque somos seus amigos”.
Elogiando o espírito com que Castanheira Pinto se tem dedicado há mais de meio século aos outros, a ex-governante deixou-lhe um agradecimento: “Obrigada pelo que fez, pelo que ainda vai fazer e por ter feito que tanta gente fizesse o que é preciso fazer”.
Já o presidente da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, Benjamim Rodrigues, recordou a importância decisiva do provedor no seu regresso à terra Natal, numa altura em que, jovem médico, exercia na cidade do Porto. Eram tempos em que a Misericórdia apenas tinha um hospital e Castanheira Pinto o convenceu a regressar para ajudar os conterrâneos.
Refira-se que a Misericórdia de Macedo de Cavaleiros detinha apenas o hospital, tendo sido decisiva a ação de Castanheira Pinto em alargar a atividade da instituição à área social e assim evitar, como aconteceu a outras, o seu encerramento.
A partir deste momento decisivo… é a história de uma instituição que cresceu exponencialmente não apenas em serviços, mas no apoio aos que mais necessitam.
O primeiro elogio da cerimónia foi deixado por José Coutinho, presidente da Mesa da Assembleia Geral da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros.
“É um grande homem. Inteligente e perspicaz, antecipava-se sempre aos problemas e às soluções”, realçou, lembrando: “Foram 50 anos de trabalho intenso e em que se dedicou aos outros”.
Essa dedicação aos outros, como muitos dos oradores sublinharam, fez-se também muito à custa da família, que teve menos a sua presença, mas onde encontrou base de apoio essencial.
Isso mesmo lembrou também o filho Fernando Castanheira Pinto, recordando, com algum humor, como foi ter como pai Castanheira Pinto: “Um dia fui ter com ele e fui a conduzir o carro de casa. Então, ele muito admirado, perguntou-me: ‘Já tens a carta de condução?’”.
Visivelmente satisfeito e bem-disposto, Alfredo Castanheira Pinto, que se movimentava de cadeira de rodas em virtude de estar a recuperar de um problema físico, dirigiu-se aos presentes pela voz de uma das netas.
“A minha voz ainda não está como queria, pelo que a minha neta vai ler o meu discurso”, anunciou à plateia.
As primeiras palavras do comendador foram para expressar a satisfação que lhe deu estes mais de 50 anos ao serviço dos outros.
“Foram milhares de quilómetros percorridos e horas despendidas. Se foram úteis para diversas instituições, só elas as poderão avaliar pois ‘ninguém é bom juiz em causa própria’”, começou por dizer, acrescentando: “Para mim, foi uma rica oportunidade de crescimento como pessoa e cidadão. Permitiu-me conhecer este tão vasto e valioso mundo da sociedade civil organizada ao serviço do bem comum”.
Depois, nas pessoas de Maria de Belém Roseira, padre Lino Maia e Manuel Lemos, o homenageado dirigiu uma palavra a todfos os que acorreram à cerimónia.
“Permitam-me que, na pessoa de vossas excelências, saúde do fundo do coração todos os presentes. Começo por dirigir uma saudação muito especial aos trabalhadores da Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros e a todos os órgãos sociais da
Santa Casa que fizeram e fazem parte desta Irmandade, bem como à nossa população local. Saudação que traduz o reconhecimento público da vontade de afirmação de um projeto coletivo que esta comunidade viu consagrado”, sustentou, continuando: “Uma primeira homenagem presto-a a todos quantos ajudaram a Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros a manter e desenvolver a sua missão. Não posso, nem quero, deixar de dirigir uma saudação e um agradecimento a todos os presentes, desejar boas-vindas a esta Misericórdia e formular votos que este aniversário se realize sobre o signo da paz da tranquilidade e do amor. Da paz que é a tranquilidade na ordem dos homens e das coisas, do amor para que nas nossas instituições seja ele uma meta a atingir. Sejamos todos obreiros de um mundo a fazer nas nossas instituições: com reflexão, com solidariedade, com dedicação e qualidade”.
De seguida, Castanheira Pinto recordou quem com ele abraçou o projeto da Misericórdia no ido ano de 1972.
“Não queria deixar passar este momento sem prestar a minha mais sincera homenagem àquele que, juntamente comigo, conseguiu fazer de Macedo de Cavaleiros uma grande cidade. Foi ele o falecido António Joaquim Ferreira, mais conhecido por senhor Pescadinha. Recordo ainda o Dr. António Urze Pires e a religiosa Jacinta de Fátima Pires, que me acompanharam em grande parte deste percurso”, destacou o provedor, deixando para o fim, provavelmente, o agradecimento mais sentido, porque à família.
“O último agradecimento, vai para a minha família, pela ausência no lar familiar e pelas preocupações causadas, durante este tempo, para me ser possível dedicar aos outros. Nunca estiveram esquecidos, mas faltei na presença”, sustentou, terminando: “Obrigado por me entenderem e por me acompanharem neste longo percurso”.
O dia de homenagem ao provedor Castanheira Pinto iniciou-se com a inauguração de uma zona no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros, recentemente requalificada, com o apoio do Fundo Rainha Dª. Leonor.
As instalações foram benzidas pelo pároco local, terminando, posteriormente, a homenagem com um almoço convívio.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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