Foi em 2008 que a APPACDM Coimbra propôs ao executivo da autarquia local explorar uma casa de chá nas, então, instalações da antiga casa do guarda e sanitários públicos sitos no Jardim da Sereia.
O acolhimento da ideia por parte da Câmara Municipal foi total, mas depois do Departamento do Património Histórico da autarquia fazer uma avaliação do necessário para requalificar o edificado, “chegou-se à conclusão de que era muito caro para as possibilidades da instituição”, conta Helena Albuquerque, presidente da APPACDM Coimbra.
Perante o impasse, o Município responsabilizou-se pela recuperação do edifício, adaptando e dando-lhe funcionalidade para o novo fim, enquanto a APPACDM Coimbra equipou o espaço com o que uma cada de chá necessita.
Então em fevereiro de 2011, a Associação e a Câmara Municipal “assinaram um protocolo de gestão” e que “dá emprego a duas pessoas com deficiência intelectual”.
Helena Albuquerque sublinha que “já passaram dezenas de pessoas da instituição pela Casa de Chá nestes 12 anos”.
Como explica, “são utentes do Centro de Atividades Ocupacionais (CAO), que cumprem horário à tarde e recebem remuneração”, enquanto passam as manhãs no CAO ou nas terapias.
“Estes são trabalhos socialmente uteis”, frisa a presidente da APPACDM Coimbra, que recorda um jovem que esteve três anos na Casa de Chá e “agora está no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra a assessorar o bloco operatório na dobragem de compressas”.
No dia 21 de março, Dia Internacional da Síndrome de Down, o SOLIDARIEDADE visitou a Casa de Chá da APPACDM Coimbra, no lindíssimo e histórico Jardim da Sereia, por onde a calma e serenidade se misturam com o canto dos pássaros e as poucas vozes que por ali se ouvem por entre o farto arvoredo.
Mónica Sofia Velho é que nos recebe, muito simpaticamente, ela que já ali trabalha há três anos.
“Gosto muito de estar aqui e o que mais gosto de fazer é servir às mesas e falar com as pessoas”, afirma, de forma entusiástica, disparando, logo de seguida: “Sou a maior fã da Casa de Chá e gosto muito de cá trabalhar”.
A utente da APPACDM Coimbra, de 37 anos e portadora da Síndrome de Down, refere que “é um lugar calmo, divertido e que me faz sentir mulher”.
Muito conversadora, Mónica Velho faz questão de referir que tem o namorado no CAO e que pretende casar-se com ele, apesar de ainda não haver data prevista.
O seu entusiasmo com a Casa de Chá e as funções que ali desempenha é tanto que, por entre sorrisos, afirma: “Comigo cá, não faltam clientes”!
“É muito importante esta visibilidade para estas pessoas, porque para incluir é preciso conhecer e a deficiência intelectual tem mais dificuldade em ser visível”, sustenta Helena Albuquerque, sublinhando que, “se não as impomos, como aqui, estas pessoas não têm visibilidade”.
Segundo a dirigente, “as vantagens da integração destas pessoas na Casa de Chá é a inclusão verdadeira em ambiente que as sabe acolher e o ritmo é à medida delas e ainda o sentirem-se valorizadas e válidas para a sociedade”, frisando: “A Casa de Chá é um sítio especial, onde tudo é bonito e tem o ritmo adequado para estas pessoas”.
A fazer dupla com Mónica no atendimento aos clientes estava Mariana Silva, de 22 anos, portadora de défice cognitivo.
Também ela se mostrou bastante agradada com as funções que desempenha diariamente na Casa de Chá.
“Gosto muito de servir as pessoas e de conversar com elas. Isto aqui é muito divertido”, afirma Mariana Silva, enquanto disputa com Mónica o protagonismo nos braços da presidente da instituição.
Helena Albuquerque explica que a Casa de Chá do Jardim da Sereia faz parte do sector empresarial da APPACDM Coimbra e tem “dois objetivos principais”: “Dar emprego supervisionado, permitindo-lhes a entrada no mercado de trabalho, onde podem dar mostras de serem válidos para a sociedade; e gerar fundos excedentes para a instituições”.
Na Casa de Chá realizam-se festas, reuniões, convívios, almoços, jantares e conferências, sendo que todas as receitas revertem a favor da APPACDM Coimbra.
A síndrome de Down é causada pela presença de três cromossomas 21 em todas ou na maior parte das células de um indivíduo. Isso ocorre na hora da conceção de uma criança. As pessoas com síndrome de Down, ou Trissomia 21, têm 47 cromossomas nas suas células em vez de 46, como a maior parte da população.
As crianças, os jovens e os adultos com síndrome de Down podem ter algumas características semelhantes e estar sujeitos a uma maior incidência de doenças, mas apresentam personalidades e características diferentes e únicas.
As pessoas com síndrome de Down têm muito mais em comum com o resto da população do que diferenças. O mais importante é descobrir que uma criança com síndrome de Down pode alcançar um bom desenvolvimento das suas capacidades pessoais e poderá avançar em crescentes níveis de realização e autonomia. É uma pessoa que pode ocupar um lugar próprio e digno na sociedade.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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