D. Roberto Rosmaninho Mariz, tesoureiro da CNIS, foi nomeado pelo Papa Francisco como Bispo titular de Vita e Auxiliar da Diocese do Porto. O Papa nomeou dois novos bispos auxiliares para o Porto, Roberto Mariz e Joaquim Dionísio, aceitando a renúncia de Pio Alves de Sousa. Roberto Mariz vai ser ordenado no dia 23 de julho, em Braga.
Conforme diz nesta entrevista ao SOLIDARIEDADE, D. Roberto Mariz tencionava levar o mandato na direção da CNIS até ao fim. Esta escolha do Vaticano obriga-o a abandonar, ao cabo de um ano e meio de mandato, a cúpula da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade que vai ter de escolher um novo tesoureiro.
O novo Bispo nasceu em 13 de janeiro de 1974 em S. Pedro de Rates, Póvoa de Varzim. Fez o curso de Teologia na Universidade Católica Portuguesa e foi ordenado sacerdote em 19 de julho de 1998. Licenciou-se em Sociologia na Universidade do Minho e concluiu o doutoramento em Estudos de Religião na Universidade Católica de Braga com a tese: “O rosto social da Religião – As motivações religiosas das organizações socio-caritativas católicas”. Foi pároco em várias paróquias em Vila Verde e, até agora, na paróquia de São José de São Lázaro na cidade de Braga.
É o bispo mais novo de Portugal.
Foi convidado pelo padre Lino Maia para a CNIS e está com ele na direção desde 2019. Vai ter que sair agora...
De facto, foi o padre Lino quem me convidou. Durante estes quatro anos tivemos uma convivência muito cordial, muito amiga e muito franca. Percebe-se que a liderança dele é marcada pelo seu profundo conhecimento deste sector, sempre empenhado em conseguir o melhor para as IPSS, muito determinado, mas agindo sempre com a maior das discrições.
Esta sua mudança obriga a uma desvinculação das funções na CNIS?
Esta nova missão como Bispo Auxiliar da Diocese do Porto tem um enquadramento que traz algumas contingências naquilo que é a alteração da minha vida pessoal e na missão de trabalho. Obriga a uma reestruturação. Quanto à CNIS e às funções de tesoureiro que eu desempenhava desde janeiro, temos também que nos adequar a esta nova realidade. Quero, com muita clareza dizer que da minha parte, daquilo que é identitário no meu compromisso ao longo dos anos com a realidade das IPSS e do sector social, esta nova etapa não representará nem um desvio, nem uma fuga. E digo o mesmo em relação à ação na CNIS. No novo enquadramento episcopal também continuarei a valorização desta dimensão e ação da CNIS. Na questão da formalidade dos órgãos da Confederação é consensual a consideração desta nova realidade que obriga a que haja uma substituição. Eu estava com agrado, com entusiasmo e com empenho na direção na CNIS. Pensava que ia levar o mandato até ao fim, de resto é o que eu defendo em todas as circunstâncias a menos que haja alguma situação de força maior. No meu caso foi o convite da Santa Sé para ser Bispo Auxiliar do Porto.
Qual é o balanço que faz do tempo que passou na direção da CNIS?
Ao entrarmos na realidade diretiva da CNIS leva-nos a tomar um conhecimento mais profundo e mais intenso do próprio sector. Quer quanto à pluralidade da realidade que o envolve, das contingências e das dificuldades, passando muitas vezes por responder a todas as vicissitudes que o sector tem, quer o empenho, de bastidores, nem sempre reconhecido, todo o trabalho que é feito na ótica de se conseguir o melhor para quem mais precisa. O estar por dentro permitiu não só fazer parte desse trabalho, mas também tomar com clareza conhecimento da realidade e da dedicação. O que vi nos últimos anos das direções da CNIS foi um trabalho crescente com objetividade, pela parte da direção da CNIS e da CNIS no seu todo, para preparar, apresentar e discutir a documentação que assegurasse a articulação da parceria entre o sector e o Estado para que a sustentabilidade das IPSS seja uma realidade, que é a questão de fundo, transversal, não resolvido, antes pelo contrário. A revisão do Pacto de Cooperação assinada no fim da legislatura anterior, que estabelece a paridade no financiamento das respostas sociais, foi uma conquista e revela o trabalho feito durante muito tempo pela CNIS. Esperemos que o Estado cumpra o que assinou.
A questão da sustentabilidade deve ser-lhe sensível. Recordo que era o tesoureiro da CNIS. E no seu currículo são várias as situações em que aparece como tesoureiro nas instituições a que esteve ligado. Por alguma razão especial?
Não sei dizer. Em nenhuma destas situações ligadas à gestão mais económica, em nenhuma delas foi uma coisa por opção, no sentido de me oferecer para tal, como por exemplo aqui na Diocese de Braga nas várias atividades que exigem de mim essa dimensão, nomeadamente como ecónomo da Diocese e dos Seminários, e agora na CNIS. Quem me convidou deve ter considerado que poderia ser positivo o meu contributo. É verdade que de formação e sensibilidade sempre fui cauteloso com os números, gosto de ter as contas certas e que as coisas estejam equilibradas e balanceadas para o futuro. É uma atitude, uma entrega, uma atenção contínua. Em nenhuma das vezes fui eu que me ofereci para essa função de tesouraria.
Não lhe vai acontecer o mesmo agora como Bispo Auxiliar do Porto?
Ao ser nomeado como Bispo Auxiliar do Porto vou entregar-me à missão que a Diocese, o Bispo Residencial, Dom Manuel Linda, determinar, na articulação com os Bispos Auxiliares e em comunhão com todos, de coração aberto para o que seja necessário.
Este convite apanhou-o de surpresa?
Sem dúvida. Quando surgiu a efetividade da situação, não estava de todo à espera. Ser confrontado com o convite concreto, para uma vida estabilizada, organizada e feliz, era mais fácil dizer não, já que obriga a reestruturar totalmente a vida de missão e de trabalho que a gente tem e a própria vida pessoal, se bem que neste caso não fico geograficamente muito distante daquilo que é a minha atual situação. Eu sou da Póvoa de Varzim, S. Pedro da Rates, e não fica longe, mas é uma completa transformação, mas, tendo dito que sim há que olhar em frente com alegria e com empenho.
Podia ter dito que não?
Há sempre opção na vida da gente dizer não. Só mesmo à morte é que não é possível... Vivemos no reino da liberdade dos filhos de Deus e no caminhar da Igreja também é possível dizer não. E muitas vezes é mais cómodo e mais fácil. Eu estava com a vida harmonizada e estruturada. O sim da disponibilidade que damos por ocasião da ordenação sacerdotal é referencial. Eu procurei ter sempre essa disponibilidade ao longo destes 25 anos de vida sacerdotal, que completo este ano, e, portanto, esta é mais uma missão.
Este é um tempo especial para a Igreja. A questão dos abusos sexuais é uma ferida aberta que vai demorar a sarar. Vai ser uma das suas preocupações na Diocese do Porto?
Há que pôr em prática, com toda a clareza e transparência a doutrina da igreja e a determinação do Santo Padre nessa matéria. O caminho está trilhado, temos de enfrentar as situações sem quaisquer rodeios, de forma sadia e serena. A questão tem uma dimensão simbólica, com um peso tal que, por não ter sido aflorada no seu enquadramento histórico da maneira que se impunha e exigia, agora, a correção da curvatura é mais dolorosa. Eu penso que a postura que a Igreja, os bispos portugueses, assumiu foi corajosa e hoje está tudo alinhado, sem hesitações.
Quando for ordenado vai ser o Bispo mais novo em Portugal...
É só uma curiosidade de calendário. A idade pouco conta. Tenho 49 anos, tem havido outros ainda mais novos, mas é verdade que agora serei o mais jovem. Só quero dar o meu contributo positivo nos desafios que surgirem e ser resposta para as dificuldades que possam aparecer.
O que é ser Bispo Auxiliar do Porto?
Não sei. Estou convencido que vai ser uma missão desafiante, na qual colocarei toda a minha vida, tendo presente a paixão por Cristo, ADN da minha vida, com esta dimensão espiritual que tanta falta faz ao ser humano. Levar Cristo a todos e todos a Cristo.
A sua experiência no sector social solidário vai ser-lhe útil?
Sim, é uma experiência importante. Estive muitos anos na União das IPSS de Braga, mais de uma década como vigário episcopal na pastoral social da Diocese de Braga e ultimamente na CNIS. Estou bastante por dentro do sector e, naquilo que me for possível, espero dar um contributo positivo. O sector social ganhou uma dimensão de peso e estrutura no seio da nossa sociedade que não pode ser ignorado nem pela sociedade nem pela Igreja. Até porque uma grande maioria das IPSS do nosso país têm uma inspiração cristã.
Considera que a Igreja conhece bem o trabalho que tem sido feito pela CNIS?
A Igreja conhece e reconhece o trabalho feito. E está também muito preocupada com a sustentabilidade das instituições, tanto das que têm ligação direta às estruturas clericais como todas as que desenvolvem atividade social solidária. Sendo a CNIS a maior das organizações do terceiro sector parece-me evidente que há uma comunhão de preocupações. De resto, penso que tem de haver também alguma coordenação e parceria para se atingirem os melhores objetivos.
Está a dizer que é desejável que haja alguma cooperação?
Claramente. Todos agregados, com a CNIS, a União das Misericórdias, as Mutualidades, as Cooperativas, como se tem demonstrado, temos muito mais força juntos nas negociações com os governos. Quando se fraciona, a defesa do sector fica mais debilitada.
Já pensou no que vai mudar na sua vida?
Vai mudar muita coisa. A começar pela habitação, por exemplo. Tenho a vida estabilizada aqui no centro da cidade de Braga e tenho de ir viver para a cidade do Porto. Na questão pessoal há pouca coisa que fica na mesma. Não é por isso que deixo de ser quem sou. Vão sobrar saudades de todas as pessoas com quem trabalhei ao longo deste tempo. A questão familiar também se obriga a ajustar.
Sei que é assumidamente um motard... Isso também vai mudar?
A viatura existe, não estou a pensar vendê-la. É verdade que gosto de andar de moto e sempre que posso é o meio de transporte que uso. Agora, não é incompatível com as novas funções, mas a disponibilidade de tempo vai ser menor. Acredito que, pelo menos nas deslocações para visitar a família poderei “tirar o pó” da máquina.
V.M Pinto Texto e fotos
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