Não tanto com a frequência que deveria, mas de quando em vez, sobretudo sob a égide da Academia, são tratados assuntos como o diálogo entre as gerações, a valorização da cidadania dos jovens, os perigos decorrentes do “idadismo”, entre outros, decorrentes do compromisso juvenil, desde logo, na construção da sociedade. Estes temas são de grande complexidade, mas fixo-me no que é mais recorrente, como os encontros entre gerações, na sua maioria, se reduzirem à realização de atividades lúdicas. A convivência de pessoas de diferentes idades a colaborarem na gestão de instituições ou na dinamização de programas de interesse comum, são realidades tão escassas que nem se dá por elas. O crescimento da dimensão cívica dos jovens é um imperativo sempre justificado como sendo eles os artífices do futuro, mas não do presente, o que aponta para uma participação passiva sem atribuições, onde possam ser escutados nos processos de criação das iniciativas e tidos em conta nas decisões. Há outra ideia predominante que é a de não ser possível a convivência de jovens com os mais velhos, por serem antagónicos os seus interesses, o que, a ser assim, é a aceitação de uma atitude discriminatória a que se dá o nome de “idadismo”. Esta discriminação pode ser geradora de tensões e resultar numa perda irreparável de partilha de saberes e experiências. É importante que os mais novos visitem os idosos institucionalizados e os animem com tempos lúdicos ou os ensinem a trabalhar com novas tecnologias. São, sem dúvida, tarefas muito interessantes e necessárias, como expressão de um modelo de voluntariado, mas que é bem diferente daquele que se espera de jovens, devidamente mobilizados e apoiados, que passará por se disporem a exercer a cidadania de modo mais corresponsável perante os desafios que lhes forem propostos.
Estas questões são uma preocupação que me acompanha, ao sentir que se não se começar já a cuidar do rejuvenescimento de algumas instâncias da sociedade portuguesa, desde o nível mais local ao nacional, há o perigo, já sentido em muitas, de se ficar no “sempre se fez assim”, impedindo de ver as novas realidades e que a criatividade jorre em iniciativas mais realistas. No limite, se não entrar “sangue novo” em muitas organizações, elas morrerão por falta de quem queira responsabilizar-se por elas.
Na verdade, há muito que trago comigo este temor e, por isso, gostaria de ver maior empenho na mobilização dos jovens para a prática do voluntariado. Mas, confesso que as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) fizeram incendiar, em mim, estas preocupações da valorização dos jovens na transformação, não só da Igreja Católica, mas também de outras organizações, como muitas das nossas IPSS. A figura galvanizadora destas JMJ, foi o Papa Francisco, e para validar o meu pensamento socorro-me do que ele disse aos jovens que encontrou nas JMJ do Panamá: «…existe uma crença errada de que a missão deles, a sua vocação, a sua própria vida, é uma promessa, apenas para o futuro, não tendo nada que ver com o presente. Como se, ser jovem, fosse sinónimo de sala de espera. No entanto, devemos esforçar-nos por propiciar-lhes espaços para sonhar, para se envolverem e trabalharem no amanhã, juntos, a partir de hoje.»[1].
As IPSS podem ser esses espaços desde que os seus dirigentes o queiram, pois, sem acreditar que a integração ativa de jovens é um bem para a renovação e fortalecimento do presente, bem como garantia da sustentabilidade funcional das instituições, não acontecerá a abertura aos mais jovens.
Outra decisão a tomar é o recrutamento da juventude como associados ou voluntários, no sentido de os ir preparando, através de uma capacitação adequada e com o enquadramento de uma gestão específica, assegurada por um dirigente com funções atribuídas para este setor, para assumir responsabilidades na instituição até à integração nos órgãos sociais. Procurar que, sempre que forem constituídas comissões para a realização de iniciativas pontuais, as mesmas possam ser formadas por pessoas de diferentes idades, experimentando, assim, o relacionamento entre gerações que poderá já estar mais maturado quando o mesmo tiver de se concretizar em qualquer função dirigente.
É óbvio que estas transformações não se fazem por decreto. Nem acontecem a curto prazo. É um processo com avanços e recuos. Tem contingências que não se podem descurar. A resistência em se aceitar a ousadia dos mais novos, e destes a de acatar os conselhos resultantes do caminho já feito, tem que ser tida em conta e, quiçá, conservar a sua essência mesmo com a aplicação progressiva de metodologias mais atuais. A maior mobilidade dos jovens, por causa dos estudos ou de emprego, pode ser um obstáculo a ultrapassar, mas as novas tecnologias, hoje, permitem formas de participação diretiva à distância, sempre que não seja possível a presença física.
Esta integração juvenil nas IPSS não é tarefa fácil pelas razões que aduzi e, decerto, que outras se encontrarão. Mas não tenho a menor dúvida de que se não se iniciar, desde já este processo, muitas IPSS poderão começar a ter dificuldades, a médio prazo, em assegurar a gestão e a serem ultrapassadas no rasgar de novos horizontes no âmbito da solidariedade e promoção social. Algumas IPSS poderiam aceitar o desafio de serem Laboratórios Intergeracionais.
[1] Cf. AMBROGETTI Francesca, RUBIN Sergio, O Pastor, Paulinas Editora, Prior Velho 2023, 277.
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