CENTRO SOCIAL ROCHA BARROS, GÓIS

Se houvesse o triplo de vagas em ERPI a capacidade estaria totalmente preenchida

O Centro Social Rocha Barros, situado em Góis, nos terrenos aplanados da fértil bacia do rio Ceira, entre a Serra do Rabadão e a Serra do Carvalhal, bem perto da Serra da Lousã, tem as suas raízes no que foi a Sopa dos Pobres, criada em 1958.
“O presidente da Câmara Municipal na altura, o senhor Rocha Barros, como aconteceu em muitos outros lugares deste país, criou a Sopa dos Pobres, que funcionava através dos donativos das famílias influentes de Góis. A resposta funcionou numa casa de dois andares, mesmo no centro da vila, comprada pela Sopa dos Pobres com dinheiro dado pelo benemérito Francisco Nogueira Pereira”, conta Hélder Barata, vice-presidente da instituição.
Duas décadas depois, em 1978, a instituição passa a Centro Social Rocha Barros, em homenagem ao edil que criara a Sopa dos Pobres. É nesta altura que a instituição deixa a Sopa dos Pobres, nos termos em que funcionava até aí, e cria o primeiro Centro de Dia.
Para além disto, a instituição geria o Bairro Cristina Rodrigues, um aglomerado de 10 casas, doado pelo dono da firma Rodrigues & Rodrigues, de Lisboa, mas que era natural de Góis, recebendo o bairro o nome da esposa.
“Hoje em dia, há poucos beneméritos e os que há é só para descontar nos impostos”, afirma Hélder Barata, que recorda como Góis era nesses finais dos anos de 1970.
“Em 1978, Góis era uma realidade quase medieval, nada tinha mudado ao longo dos tempos. E foi o influxo de gente que regressou do Ultramar que subitamente criou um espírito de mudança. Nessa altura, é fundado o Centro Social Rocha Barros com o primeiro Centro de Dia, o primeiro local onde as pessoas de idade se podiam encontrar e conviver”, lembra, sublinhando: “Nesta altura, estamos numa mudança da realidade agrícola, de agricultura de subsistência, para uma outra mais moderna, porque aqui não havia nada”.
Nos anos 1980, começa a germinar a ideia de construir o edifício onde o Centro agora funciona e que “foi uma batalha terrível, pois foi naquela fase em que Portugal atravessou tempos difíceis”.
Apesar das dificuldades, o novo equipamento é inaugurado em 1993, com uma capacidade para 30 pessoas em ERPI.
“A construção é feita com a aprovação da Segurança Social, mas não foi construído o que se queria, mas o que a Segurança Social determinou. E, depois, temos o exemplo absurdo do hall de entrada, que tem uma dimensão enorme e que é um desperdício de espaço e de dinheiro para construir, num edifício de dois pisos em que não há elevador. A Direção, na altura, levantou a questão do elevador e foi negado pela Segurança Social. Só posteriormente se conseguiu instalar um elevador, externo ao edifício”, lamenta Hélder Barata, dando mais um exemplo das dificuldades para se construir um equipamento social naquele tempo: “Havia estas dificuldades naquele tempo para conseguir pôr de pé um projeto assim, já para não falar de que os elementos da Direção e cônjuges tiveram de dar o aval pessoal ao empréstimo bancário. Isto é para se ver o quão era difícil construir um equipamento social”.
Na primeira fase do Centro Social, ainda no velho edifício, a instituição para além do Centro de Dia, abriu posteriormente uma creche, também a primeira no concelho.
Já no novo edifício, a instituição conseguiu alargar a capacidade da ERPI, em 2017, com a construção de uma nova ala com 12 quartos, com uma capacidade para mais 20 idosos.
Nos dias que correm, o Centro Social Rocha Barros acolhe 24 crianças em creche, 14 em Pré-escolar e outras tantas em CATL. Já na área dos idosos, a ERPI acomoda 47 idosos, recebe nove utentes em Centro de Dia e apoia 16 em SAD. Para além disto, a instituição ainda gere o Bairro Cristina Rodrigues e serve 11 refeições diárias no âmbito da Cantina Social, contando com uma equipa de 50 funcionários.
“Se tivéssemos o triplo da capacidade em ERPI estaríamos cheios. A população está muito envelhecida e é muito grande o número de pessoas que têm necessidades, por isso, quase funcionamos em sistema de ‘cama quente’… Assim que morre um utente, a vaga é automaticamente preenchida”, sublinha o vice-presidente da instituição.
Relativamente à creche, a diretora-técnica Carla Barreto sustenta que a instituição tem dado resposta às necessidades, daí a capacidade ser de 34 crianças e a instituição acolher, de momento, apenas 24: “Temos conseguido dar resposta às solicitações e não temos tido grande questões, porque conseguimos fazer a transição para as outras salas. Temos em berçário 10, 12 na sala de um ano e 14 na sala de dois anos, pelo que estamos longe do limite da capacidade. Houve uma altura em que se pensou fechar a creche, numa altura em que tínhamos somente três bebés no berçário”.
No entanto, o cenário parece estar a mudar, como adianta Hélder Barata: “Neste último ano tivemos um boom, porque houve um número muito grande de nascimentos. Isto é bom porque este é um concelho ultra envelhecido, em que a população tem diminuído a olhos vistos. A pandemia e a gripe têm levado muita gente”.
E esta situação de envelhecimento e desertificação da população acarreta outros problemas que a instituição tem dificuldade em ultrapassar.
“Outra consequência é a nossa incapacidade para arranjar gente para trabalhar. As pessoas mais novas são todas licenciadas e nenhuma quer trabalhar por turnos e muito menos em funções que passam por, desculpe a expressão, limpar velhos. Ainda há pouco tempo contratámos uma pessoa com 63 anos e é uma excelente trabalhadora”, diz o vice-presidente, alertando: “Na perspetiva de futuro, a maior dificuldade que enfrentamos é a angariação de mão-de-obra. E estes lugares, para além da proficiência na execução das funções, exigem um lado humano muito grande, porque as pessoas quando aqui chegam já têm muita idade, oitentas e noventas, e com graus de dependência muito grande e alguns casos já com demência”.
Segundo Carla Barreto, dos 47 utentes de ERPI, “apenas três são totalmente autónomos, seis estão acamados e todos os restantes têm algum grau de dependência”.
Sobre a situação financeira da instituição, Hélder Barata defende que está “muito bem controlada, mas sem perspetivas de se poder fazer o que quer que seja a mais”
“Não temos folgas e tudo é muito controlado, porque temos de estar sempre prontos para qualquer eventualidade. Por exemplo, a área da infância dá prejuízo. Se for uma instituição do Estado, a coisa vai-se gerindo, mas nós, as IPSS, temos que contar todos os tostões para conseguir cumprir com as regras todas e cada vez é mais difícil”, lamenta o «vice».
É nesse sentido que a instituição “não tem projetos em marcha, mas em mente sim”, refere Hélder Barata, acrescentando: “Há uns tempos começámos a pensar que, em termos concelhios e nos outros à volta, não resposta residencial para adultos com deficiência intelectual ou mesmo uma resposta tipo Centro de Dia para esta população. Atualmente temos três pessoas, já foram cinco, que não têm os 65 anos, mas que usufruíam dos serviços de Centro de Dia. Eles não têm lugar numa instituição como esta, porque têm necessidades especificas para as quais o nosso pessoal não está habilitado”.
Assim, a ideia era criar um CACI, mas as dificuldades são muitas.
“Se criarmos essa resposta de raiz, os requisitos são tais que é para que não aconteça. No entanto, havendo uma parceria com uma entidade, na nossa zona é a ARCIL, que já desenvolva atividade nessa área pode ser mais fácil”, adianta Hélder Barata, ao que Carla Barreto acrescenta: “Construir de raiz é muito complexo, porque as exigências são enormes. Surgiu, então, a possibilidade da parceria e cheguei a entrar em contacto com a ARCIL, que tem aqui um polo, frequentado por adultos. E ficou em aberto a hipótese de podermos, fruto de um protocolo, beneficiar da componente técnica da ARCIL. As burocracias são imensas. Temos necessidade no concelho, mas é necessário dar uma volta gigantesca, quando são situações que precisam de uma solução no imediato. Temos o caso de uma utente que veio com a mãe e, entretanto, esta faleceu e agora ficou cá filha”.
Um outro desejo antigo da instituição passa pela habitação colaborativa.
“Temos ainda um sonho, que já vem do tempo do meu pai, que foi dirigente da instituição mais de 30 anos, e que está prometido pela Câmara Municipal desde 2001, oficializado em ata em 2006, da cedência do espaço contíguo ao nosso edifício, que era a oficina das máquinas camarárias, para a instituição se expandir. A ideia sempre foi dar um outro aspeto ao viver numa ERPI. A ideia é construir cinco ou seis bungalows, para que as pessoas trouxessem os seus pertences e mobílias até, vivendo uma vida semiautónoma, com o apoio da instituição. Não seria certamente para as pessoas do concelho, mas abriria a hipótese de outras pessoas poderem vir para cá viver e usufruir deste bem-estar e viver bem que há em Góis. Não esqueçamos que 10% da população do concelho de Góis já são estrangeiros”, sustenta Hélder Barata.
E como seria Góis sem o Centro Social Rocha Barros?
“O Centro, ao longo destes anos, tem sido sempre uma mais-valia para este concelho. Mesmo em termos de crianças, apesar de haver resposta pública, os pais preferem colocar aqui os seus filhos. O Centro Social é uma marca que fica e uma mais-valia. No entanto, se não houvesse esta instituição, certamente, outra existiria, mas seria pior”, afirma Carla Barreto.
Por seu turno, o vice-presidente coloca o enfoque na área da infância para demonstrar a importância da instituição no concelho: “Na área da infância, o Centro sempre foi a referência, pela forma como as crianças são tratadas. Há pais que andaram aqui em crianças e agora colocam aqui os seus filhos, apesar de haver mais respostas em Pré-escolar. Isto quer dizer muito”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2024-02-14



















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