A Volta a Portugal da Solidariedade desta edição voou até ao Arquipélago dos Açores. Aproveitando a realização do I Encontro de IPSS dos Açores, foi possível sentir o pulsar da solidariedade social nas nove ilhas da região, onde existem 223 IPSS, 85 das quais associadas da União Regional das IPSS dos Açores (URIPSSA). No presente, a União só não tem associadas nas ilhas do Pico e do Corvo.
A partilha e comunicação entre as instituições açorianas é dificultada pela dispersão por nove ilhas, mas a URIPSSA, segundo o presidente João Canedo, vem tentando atenuar essa lacuna e a realização do I Encontro de IPSS dos Açores é a mais recente iniciativa.
SOLIDARIEDADE - Que retrato se pode traçar das IPSS na Região dos Açores?
JOÃO CANEDO - Visto estarem implantadas nas nove Ilhas dos Açores temos uma diversidade de necessidades das instituições, desde formação, comunicação e partilha de conhecimentos.
Em termos de dimensão, qual é a realidade das instituições do distrito, sabendo-se que a sustentabilidade está muito ligada a esse aspeto?
Na Região Autónoma dos Açores temos IPSS que tem desde um trabalhador e outras que vão até 200 trabalhadores, não sei se existem com mais de 200 trabalhadores. Ao falar de sustentabilidade, gostaria de informar que a URIPSSA tem feito um trabalho, em parceria com o Governo Regional dos Açores, no sentido de melhorar a sustentabilidade das instituições e também de dotar os seus dirigentes e quadros de ferramentas para melhorar a gestão das mesmas. Tenho sempre dito que as IPSS não são empresas, mas têm que ser geridas como empresas, para podermos ser sustentáveis e melhorar o nosso apoio à comunidade.
Qual a grande lacuna em termos de respostas sociais na Região?
No meu modesto entender, temos de criar estruturas próprias para a demência, que não existem nos Açores, com pessoal qualificado para que possamos ajudar a melhorar a qualidade de vida destas pessoas. Existe a necessidade de pessoal qualificado e de estruturas com condições especiais para podermos acolher os utentes e as suas famílias, de cuidados paliativos e de os apoiarmos no seu tempo de vida.
Quais os principais obstáculos que as IPSS dos Açores enfrentam para melhor cumprirem a sua missão?
As IPSS dos Açores melhoraram muito a sua prestação de serviço ao integrarem nos seus quadros pessoas com melhores qualificações e ao investirem na formação dos seus trabalhadores.
Como é a relação com as associadas e quais as solicitações mais frequentes que estas fazem à URIPSSA?
Tentamos que seja uma relação de proximidade, por isso promovemos reuniões, formações e trabalhamos muito através do e-mail e do telefone. É claro que teríamos outro gosto se as IPSS associadas e não só participassem mais nas reuniões, formações, Assembleias Gerais e nos eventos que a URIPSSA promove, mas o território insular não ajuda.
E como é a relação com a CNIS?
A relação com a CNIS é de proximidade e de grande importância para a URIPSSA. Como disse antes, a comunicação e o conhecimento é importantíssimo para termos acesso a toda a informação e é esse trabalho que fazemos em parceria. Acho que deveríamos ter um tempo para cada União reunir com a Direção e expor os seus problemas e necessidades.
Como é que acha que a CNIS poderia estar mais próxima das Uniões e das respetivas associadas?
No meu entender, podíamos aproveitar as reuniões do Conselho Geral e da Comissão Permanente para reunirmos e discutirmos as preocupações e necessidades de cada União. Acredito que cada União tem o seu problema ou necessidade diferente das outras e precisamos de trocar ideias particulares de cada uma.
O PRR chegou às instituições dos Açores?
O PRR dos Açores tem que ser candidatado pelo Governo Regional, pelo que as IPSS não podem concorrer diretamente, o que para nós é um problema. Era da maior importância que as instituições dos Açores pudessem concorrer diretamente aos projetos da União Europeia, mas sendo nós uma Região Ultraperiférica não conseguimos. O que o Governo Regional tem apoiado as IPSS no âmbito do PRR é através do programa GER/MOV, que veio modernizar o parque automóvel das instituições.
Que balanço faz do I Encontro das IPSS dos Açores, que decorreu em setembro?
Este I Encontro de IPSS dos Açores surgiu de uma necessidade que assinalámos numa formação que fizemos em parceria com o Governo Regional dos Açores e a Universidade Católica do Porto, na qual 34 dirigentes e técnicos puderam melhorar os seus conhecimentos em várias áreas. É claro que estava bastante expectante quanto às pessoas que iriam aparecer no encontro e tivemos um grupo de oradores de excelência. Gostaríamos de contar com mais dirigentes e trabalhadores das IPSS nos eventos, mas as salas estiveram bem compostas nos três temas escolhidos: Idosos, na Praia da Vitória; Pessoas com Deficiência, em Angra do Heroísmo; e Crianças e Jovens, na Ribeira Grande. Foi uma semana em que se falou da Economia Social e em que se mostrou as boas práticas das instituições. Por outro lado, também foi importante na medida em que tivemos trabalhadores e representantes de IPSS de Coimbra, Braga, Lisboa, de diversas Ilhas e da própria CNIS, que vieram dar o seu testemunho do que se bem faz neste sector. O Encontro teve também o intuito de se falar das necessidades especiais da nossa comunidade, desde conseguir-se melhorar o acesso ao mercado de trabalho pelas pessoas com deficiência e dos jovens que estão nas casas e acolhimento. Termos uma semana em que as IPSS pudessem falar das suas preocupações e necessidades e ver como outras instituições conseguiram ultrapassar as suas dificuldades era muito importante. O mais importante de tudo é ver como trabalhadores, dirigentes e todos os envolvidos nas causas sociais se preocupam em melhorar a qualidade de vida dos seus utentes e a sua grande motivação em serem trabalhadores das IPSS. Como escreveu Fernando Pessoa: “O melhor tempo que gastamos é o que investimos nas Pessoas”.
O Encontro foi importante para reforçar a união com as IPSS associadas?
Foi da maior importância para reforçar os laços da União com as IPSS, com o Governos Regional, com os Municípios, com a CNIS e com quem está ligado à Economia Social.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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