O cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, manifestou-se dia 1 de Janeiro, durante uma homilia em Lisboa, contra a investigação em embriões excedentários a propósito da legislação sobre procriação medicamente assistida que está em preparação.
Apesar de se praticar desde 1986, a procriação medicamente assistida nunca foi regulamentada em Portugal. Quatro projectos de lei foram aprovados em Outubro na Assembleia da República e encontram-se em discussão na especialidade.
Falando na Basílica dos Mártires, a propósito do Dia da Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e do Dia Mundial da Paz, D. José Policarpo considerou a lei que está em preparação como "um exemplo preocupante", afirmando "nem todas as descobertas da ciência, aplicadas sem o rigor ético de defesa da dignidade da pessoa humana, são factores de paz".
O cardeal-patriarca de Lisboa defendeu que "a dignidade da procriação humana, ligada à família e ao amor, os direitos inalienáveis do nascituro, entre os quais sobressai o direito de ter uma família, com um pai e uma mãe, sobrepõe-se, do ponto de vista moral, ao entusiasmo de aplicar, ao sabor dos critérios individuais, todas as possibilidades que a ciência abriu".
D. José Policarpo considerou ainda que o processo técnico-científico devia evitar a existência de embriões excedentários (resultantes de tratamentos contra a infertilidade e que não foram implantados no útero). Em nome da "dignidade do embrião humano", o cardeal manifestou-se contra "qualquer investigação, por mais promissora que seja".
Na homilia, o cardeal-patriarca de Lisboa sublinhou ainda a importância da verdade e da paz nas sociedades actuais, e sobre essas questões citou o Papa Bento XVI "A busca autêntica da paz deve partir da consciência de que o problema da verdade e da mentira diz respeito a cada homem e cada mulher, e aparece como decisivo para um futuro pacífico do nosso planeta." No caso concreto dos crentes, realçou "a responsabilidade particular dos cristãos para darem densidade histórica, na construção da paz, à verdade em que acreditam, porque a História mostra que dificilmente se chega à verdade para a paz longe de Deus". A busca da verdade, disse, "é em cada homem uma expressão maior da inteligência e da liberdade, porque a verdade consiste na descoberta da dignidade do homem".
Fonte: Diário de Notícias
Data de introdução: 2006-01-13