O inquérito da Diocese do Porto, originado pelo homicídio de uma transexual em que estiveram envolvidos 11 rapazes da Oficina de S. José, reafirma a confiança na instituição, concluindo que "não houve violação das normas e regulamentos internos relativamente à permanência e comportamento dos jovens no exterior". No entanto, no comunicado ontem enviado às redacções, a diocese diz "lamentar e reprovar com veemência a acção grave" atribuída aos jovens envolvidos no crime.
O inquérito da Diocese do Porto, originado pelo homicídio de uma transexual em que estiveram envolvidos 11 rapazes da Oficina de S. José, reafirma a confiança na instituição, concluindo que "não houve violação das normas e regulamentos internos relativamente à permanência e comportamento dos jovens no exterior". No entanto, no comunicado ontem enviado às redacções, a diocese diz "lamentar e reprovar com veemência a acção grave" atribuída aos jovens envolvidos no crime.
A Diocese do Porto pede ainda meios para que aquela instituição, tutelada pela Igreja Católica, possa cumprir as competências correcionais que actualmente lhe são exigidas, apesar de ter nascido com um carácter meramente assistencial: "A Oficina de S. José não deve comprometer a sua finalidade e generosidade se não for dotada dos meios adequados para corresponder às exigências de uma sociedade onde se vão multiplicando as formas de violência frequentemente denunciadas", pode ler-se no comunicado.
Num balanço da actividade da instituição, fundada em 1882, a Diocese do Porto afirma ter "dados suficientes para testemunhar a qualidade e dedicação de quantos se têm dedicado à formação de sucessivas gerações de utentes" que, diz ainda, "reconhecem geralmente que os preparou para a vida familiar, social e profissional".
O mesmo declarou o porta-voz da Oficina. Segundo o padre Américo, a instituição "não tem meios para garantir uma função correcional". "Se os problemas dos jovens que são reencaminhados - seja para a Oficina de S. José, seja para onde for - precisam de uma instituição de carácter correcional, as entidades competentes têm de encontrar os meios para que estas instituições assistenciais possam cumprir esse papel", concluiu.
Também o Padre Lino Maia, presidente da Confederação das Instituições de Solidariedade, afirmou ontem a necessidade de se apostar num modelo diferente.
Para os casos de rapazes ou raparigas que "necessitem de alguma correcção, é evidente que devem ser integrados em organizações pequenas, com muita gente, em que se tente diminuir aquela carga do castigo, da repressão, e se fomente o acompanhamento individual, personalizado, com uma abertura para a vida activa, a vida social, para a integração comunitária", disse.
O homicídio ocorreu em finais de Fevereiro, tendo nele estado envolvidos 11 jovens internos da Oficina de S. José. O corpo de Gisberta, de 46 anos de idade - uma sem-abrigo e transexual de nacionalidade brasileira, que morava em Portugal há 25 anos -, foi encontrado num poço de um edifício inacabado no centro do Porto.
O crime contra Gisberta ocorreu no fim-de-semana de 18 e 19 de Fevereiro, mas o corpo, que evidenciava sinais de agressões e sevícias, só foi encontrado alguns dias depois.
O relatório da autópsia, entretanto efectuada no Instituto de Medicina Legal do Porto, apontou o afogamento como causa da morte. O primeiro sinal foi o facto de o corpo não se encontrar a boiar, mas submerso, o que indica que não estaria morto. Exames complementares encontraram nos órgãos de Gisberta organismos aquáticos idênticos aos que existem na água do poço.
O crime provocou uma onda de revolta contra a homofobia, nomeadamente em bares, discotecas e associações gay.
Fonte:
Diário de Notícias
Data de introdução: 2006-04-12