MUSEU, CINEMA, BIBLIOTECAS

ADFP aposta forte na cultura

A Associação Para o Desenvolvimento e Formação Profissional de Miranda do Corvo (ADFP) inaugurou no passado dia 28 de Maio, um museu dedicado à tanoaria. Situado na Quinta da Paiva, o museu alberga mais de uma centena de peças, que vão das ferramentas e trajes aos documentos e brasões.
A colecção resulta da recolha realizada durante vários anos pelo médico Leitão Couto, antigo presidente da Câmara de Penacova, em cerca de trinta concelhos de Norte a Sul do país. O médico e ex-autarca decidiu doar o valioso espólio à IPSS de Miranda do Corvo.

A edificação do Museu da Tanoaria foi feita em parceria com a autarquia mirandense, estando previsto que aquele espaço cultural se venha a integrar na "Rota da Chanfana".
Esta IPSS do distrito de Coimbra, que conta com mais de 200 funcionários e é já a principal empregadora do concelho prossegue, assim, a sua aposta numa vertente nem sempre muito comum entre as instituições do terceiro sector: a cultura.

Fátima Ramos, Leitão Couto e Jaime Ramos na inauguração do Museu da TanoariaO Museu da Tanoaria é mais uma de várias infra-estruturas que a ADFP disponibiliza neste capítulo específico. Só para referir algumas, nota para a sala de cinema e para as duas bibliotecas da instituição, uma delas itinerante.

A sala de Cinema da ADFP, com 144 lugares (sendo quatro para deficientes em cadeiras de rodas), colmatou um vazio existente em infraestruturas culturais que desvalorizava a vila de Miranda e o concelho.
A sala tem uma dimensão adequada aos tempos actuais, equipada com moderna tecnologia de som e imagem, desfrutando os seus utentes de grande comodidade, através da climatização e da ergonomia das cadeiras.
Tem utilização polivalente, sendo já considerada pelos responsáveis da ADFP como um pólo cultural e recreativo importante, acessível a toda a comunidade.

O cinema ocupa o rés-do-chão e primeiro andar de um edifício que conta ainda com cinco apartamentos. Estes destinam-se a respostas residenciais devidamente apoiadas ou comunidade de integração para pessoas com necessidades especiais.
A ADFP mantém também em funcionamento, no seu edifício-sede, uma Biblioteca Fixa, servindo funcionários, formandos e utentes da instituição, bem como a população em geral.
Dispõe ainda de uma Biblioteca Móvel, que visita 62 localidades dos concelhos de Coimbra, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Penacova e Penela.

Há anos atrás, a Fundação Gulbenkian optou pelo fim das unidades móveis. A ADFP assumiu, em 2001, o desafio de manter a biblioteca itinerante em funcionamento, recebendo um fundo bibliográfico de cerca de 30 mil livros e uma viatura.
Edifício-sede da ADFPActualmente, através de protocolos estabelecidos com as Câmaras Municipais de Coimbra, Góis, Miranda do Corvo, Penacova e Penela, e ainda com as Juntas de Freguesia de Casal de Ermio e Serpins, a ADFP continua a permitir que as populações de 62 localidades possam ter acesso gratuito ao livro.

As duas unidades têm actualmente cerca de 1200 leitores inscritos e estão a implementar um programa designado "Ano Zero da Leitura". Pretende-se, com este programa, levar o livro a todos os Jardins de Infância do concelho de Miranda do Corvo, projecto que será brevemente alargado a mais autarquias.
O programa "Ano Zero da Leitura" está já a ser desenvolvido com êxito no Jardim de Infância da ADFP, que é visitado semanalmente pelo Bibliomóvel. As crianças começam aqui a gatinhar para o livro, reforçando esta liga-ção durante o ensino primário, não mais a perdendo, seja através das bi-bliotecas itinerante e fixa ou das bibliotecas municipais.

Jaime RamosO Solidariedade entrevistou Jaime Ramos, o médico que preside aos destinos da ADFP.

SOLIDARIEDADE - Porquê esta aposta na dinamização cultural por parte da ADFP?
JAIME RAMOS - A qualidade de vida de uma cidade ou concelho mede-se também pelo nível de equipamentos e respostas culturais que dispõe.
Somos uma IPSS que adoptou o lema "Investimos em pessoas" e cujo nome é "Associação para o Desenvolvimento e Formação Profissional".
Desde a fundação que trabalhamos na preservação de artes e ofícios tradicionais: olaria, tapeçaria, cestaria, mobiliário em vime, carpintaria, sapataria artesanal.
Em parceria com a Câmara Municipal de Miranda do Corvo definimos um projecto de desenvolvimento integrando a cultura com o lazer e o desporto numa lógica de rentabilização turística.
Num parque urbano, graças a esta parceria, vai ser construída uma piscina ao ar livre, centro hípico com picadeiro coberto, circuito de manutenção, restaurante, museu da chanfana, hotel, quinta pedagógica e parque de vida selvagem, eco-museu e museu de artes e ofícios tradicionais. Este Pólo de Tanoaria é a primeira fase.

SOLIDARIEDADE - Que retorno é gerado por iniciativas como o cinema e o museu da tanoaria?
JAIME RAMOS - O objectivo é me-lhorar a qualidade de vida dos residentes com um projecto sustentável que aposte na criação de emprego e na coesão social.
Somos um grande empregador no concelho que aposta no combate à exclusão social através da criação de emprego vocacionado para desempregados de longa duração e pessoas com doença crónica ou deficiência.
Cerca de 20% dos trabalhadores da instituição são deficientes ocupando alguns deles lugares de topo e chefia na organização.
Neste momento pretendemos criar mais 14 postos de trabalho em emprego protegido e gerimos duas empresas de inserção para situações de exclusão e desempregados de longa duração.
Na área cultural gerimos ainda uma biblioteca fixa, com itinerância em 6 concelhos e uma Universidade Sénior.

SOLIDARIEDADE - Têm outros projectos desta índole em curso?
JAIME RAMOS - Os nossos grandes projectos estão na vertente de acção social.
Temos concluído um lar com capacidade para 45 pessoas com deficiência e cinco apartamentos do tipo T3 que aguardam que a Segurança Social assine protocolos de cooperação para lar residencial e lar de apoio, uma vez que possuímos uma longa lista de es-pera.
Esperamos que em 2006 a Segurança Social assine acordos para 41 pessoas nesta valência, permitindo o aproveitamento destes edifícios, dan-do respostas adequadas às inúmeras necessidades sentidas no alojamento condigno de pessoas com deficiência.
Ao PARES candidatámos um lar para idosos a construir no Senhor da Serra (junto a Coimbra) e em cooperação com a Câmara Municipal de Coimbra, candidatámos um Lar Residencial pa-ra 60 pessoas com deficiência a cons-truir na cidade de Coimbra.

SOLIDARIEDADE - A ADFP pode ser considerada uma instituição/modelo?
JAIME RAMOS - Não. De modo nenhum, embora tenhamos uma cultura organizacional assente em ideias que, como todas as ideias, podem ter seguidores ou adversários.
Procuramos investir em pessoas com bondade e não só com sabedoria técnica.
Apostamos na integração dos diversos grupos sociais e no convívio inter-gerações.
No nosso Centro Social Comunitário residem pessoas, desde crianças com 3 meses de idade até seniores em final de vida, que convivem com deficientes motores, neurológicos, mentais e com doentes da área da psiquiatria, e mu-lheres grávidas ou com filhos que usam a instituição como porto de abrigo para reconstruir projecto de vida.
Conscientes da indefinição das fronteiras entre o social e a saúde, gerimos respostas integradas de cuidados continuados de saúde e paliativos.
Compreendemos quem defende a calma de um lar só de idosos ou a segurança de estabelecimentos só com crianças de um único sexo.
Preferimos a agitação e a potencial conflituosidade do convívio entre grupos diferentes e inter-gerações tal como acontece na vida real, fora das instituições.
Reconhecendo os méritos das organizações que se especializaram num tipo de problemática, assumimos postura generalista de resposta global às diferentes necessidades sociais da região.
Tentamos evitar dizer a um "vizinho" que nos procura que o seu problema não nos diz respeito e que deve ir ao "guichet" de outra "repartição".
Porque não queremos ser "gheto" de questões sociais ou de saúde, apoiamos diversas iniciativas da comunidade a nível desportivo (hipismo, atletismo, futsal, hidroginástica, ginástica de manutenção, musculação, etc.), ou de intervenção cívica, como acontece com a AJA (Associação de Jovens Amigos da Instituição) e o Clube da Mulher, implementando projectos a nível da igualdade de género, para além das actividades culturais já referidas.





 

Data de introdução: 2006-06-10



















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