Os portugueses têm de ser muito mais empreendedores

Em Fevereiro passado a Comissão Europeia elaborou uma comunicação em que apela à promoção do espírito empreendedor através do ensino e da aprendizagem em todos os Estados Membros.

Podemos definir empreendedorismo como a capacidade de uma pessoa transformar as ideias em acção. Conseguir um espírito empreendedor é um processo de aprendizagem ao longo da vida que deve ser iniciado numa idade precoce e deve servir de fio condutor ao longo de todo o sistema educativo.
Como sabemos, em Portugal, o sistema educativo é conservador e académico e prepara mal (pois é praticamente inexistente as parcerias entre escolas/universidades e empresas) as pessoas para serem empregadas, se possível no sector público, em que a exigência, a assiduidade e o desempenho não são em geral minimamente exigíveis.

Se compararmos Portugal e a Europa (25) com os Estados Unidos da América no que se refere ao espírito empreendedor dos jovens quando terminam os seus cursos e também o número de horas trabalhadas por pessoa empregada e o crescimento da produtividade do trabalho é de facto elucidativo da razão porquê dos europeus estarem cada vez mais longe dos americanos.

Ser empreendedor é possuir um espírito de projecto, atingir objectivos, criatividade e inovação. Ora bem, a diferença nos resultados entre europeus e americanos é evidente e resulta da diferença na sua atitude e mentalidade de empreendedores.

Esteve recentemente entre nós o ex-CEO da G.E., Jack Welch, considerado como o melhor gestor da última metade do século XX que foi convidado para um almoço com os CEO das maiores empresas portuguesas. Em certa altura, ao falar dos jovens, disse que na América os jovens licenciados estão em garagens a trabalhar nas novas tecnologias de produção de energia e assim quando houver mudança no mercado e com a ajuda da ‘ventura capital’ (capital de risco) eles reagirão rapidamente. Depois perguntou: em Portugal o que estão os jovens a fazer ? Claro que ficou sem resposta dado o embaraço da situação.
Também disse que os CEO portugueses e os governos deviam ter vergonha de há dez anos que Portugal está a definhar e ninguém faz nada para mudar a situação.

A Comissão Europeia adoptou em Março de 2005 a nova Parceria para o Crescimento e o Emprego põe em destaque a importância de promover uma cultura mais orientada para o empreendedorismo e de criar um ambiente favorável às PMEs.
Com efeito é necessário criar na sociedade um ambiente mais favorável ao empreendedorismo, com base numa política integrada que tenha como objectivo não só mudar as mentalidades, mas também melhorar as competências dos europeus e eliminar os obstáculos que dificultam a criação, a transmissão e o crescimento das empresas.

O empreendedorismo é uma competência essencial para o crescimento, o emprego e a realização pessoal. Embora reconhecendo que as competências de empreendedorismo devem ser adquiridas no contexto da aprendizagem ao longo da vida, a presente comunicação da Comissão está centrada na educação facultada desde o primeiro ciclo do ensino básico até à universidade, incluindo o ensino profissional de nível secundário (formação profissional inicial) e os institutos técnicos de nível superior.

As propostas da Comissão, baseadas em situações e boas práticas observadas, têm como objectivo contribuir para a definição de abordagens mais sistemáticas da educação para o empreendedorismo e potenciar o papel do ensino na criação de uma cultura mais empreendedora nas sociedade europeias. As acções devem, na sua maior parte, ser realizadas a nível nacional e local.

É pois necessário apoiar diferentes iniciativas nacionais e locais, bem como o intercâmbio de boas práticas. As organizações da sociedade civil (incluindo os parceiros sociais, organizações de protecção social, de família, etc..) devem ser consultadas. As organizações da área da deficiência que operam aos níveis europeu, nacional e local devem ser envolvidas neste processo.
Neste processo, é necessário dar todo o apoio aos professores, que tem de ser sensibilizados para os benefícios da educação empresarial e ser informados sobre a maneira de aplicar esses programas começando na escola primária. Neste contexto, é essencial que a escola tenha não apenas os recursos humanos e financeiros mas igualmente as margens de autonomia capazes de conseguir realizar esta como outras missões que lhe são cometidas. Ao nível dos professores é necessário que compreendam que a formação integral dos seus alunos deve conter os elementos de autonomia, curiosidade e de espírito crítico capazes de os estimular e de desenvolver uma capacidade empreendedora e que para tal os docentes devem ser apoiados, com a consciência de que essa formação pode ser também um enriquecimento pessoal.

As seguintes boas práticas introduzidas na Suécia seguindo um modelo designado de “Escada Empresarial” com vários passos desde a educação primária até aos níveis superiores de investigação, revelou-se um modo eficaz de ministrar aos alunos conhecimentos sobre educação empresarial desde tenra idade e prosseguir esse trabalho ao longo de todos os anos de ensino.

- Crianças de 7 anos: projectos do tipo “ideias geniais” donde resultam inovações
- Jovens de 15 anos: informação e participação activa nas escolas de empresas, organizações e autoridades
- Jovens de 18 anos: jovens empresários e mini-empresas
- Ensino Superior: aquisição de capacidades especiais e programas para o empreendedorismo.

É com muita preocupação que vemos o sindicato dos professores decretar greve para defender direitos adquiridos esquecendo-se das suas obrigações de contribuírem para o desenvolvimento dos nossos jovens. Com efeito, é preciso terem a consciência que Portugal não tem dinheiro para manter condições salariais e de carreiras privilegiadas conseguidas com governos fracos e que devem, ao contrário, colaborar com o Ministério da Educação na criação de condições para um melhor ensino e serem verdadeiramente os ‘agentes da mudança’ que o nosso sistema de educação e formação tanto carecem.

Os professores devem ter uma filosofia de serviço orientada para o cliente (os alunos) e elevar os padrões de qualidade do ensino em Portugal.

Vamos fazer dos jovens portugueses jovens com espírito de iniciativa, com ambição de fazer coisas novas, isto é, com espírito empreendedor.

 

Data de introdução: 2006-07-08



















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