SEMINÁRIO SOBRE DELINQUÊNCIA JUVENIL

As crianças devem ser parte integrante do processo educativo

Organizado pela Estrutura Técnica da CNIS, realizou-se no passado dia 23 de Setembro, um seminário sobre o tema "Delinquência Juvenil".
Encontro bastante participado, registando-se a presença, no Hotel Cinquentenário, em Fátima, de algumas centenas de assistentes, a exemplo do que tem acontecido em jornadas anteriores.

“A importância primordial da família na formação das crianças e jovens”, “Crescer no contexto da exclusão social: Parar o ciclo da exclusão social, será possível? O exemplo concreto da reestruturação dos Serviços Sociais Ingleses: Organização e instrumentos de trabalho ‘no terreno’ com crianças e jovens”, “Reflexão sobre violência e crianças: Qual a ‘semente’ da violência?”, foram alguns dos temas abordados no seminário por, respectivamente, Albertine Santos, Célia Sales e Mário Cordeiro.

Aberto pelo Padre Lino Maia, Presidente da CNIS e contando com uma apresentação a cargo de jovens da Casa do Gaiato, o encontro registou ainda a presença de Francisco Maia Neto, Procurador da República e Vice-Presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens; e de Ana Perdigão, advogada do Instituto de Apoio à Criança, especializada na área das crianças e jovens em perigo.
Ana Perdigão abordou o tema:”As vantagens da multidisciplinaridade e da Interdisciplinaridade das equipas técnicas que trabalham com crianças e jovens em perigo, nomeadamente nos processos de promoção e protecção”.

O pediatra Mário Cordeiro proporcionou uma autêntica “lição” a pais e educadores sobre a forma como devemos acompanhar o crescimento das crianças. Propugna caminho onde o carinho esteja sempre presente, mas sem facilitismos:
“Temos que saber dizer às crianças que o caminho da autonomia é o caminho das opções” – sinalizou o especialista, alertando para a necessidade de estarmos conscientes de que a criança está permanentemente a explorar os “limites do poder”.
“É necessário estabelecermos limites. Limites que sejam claros e simples, bem definidos; justos, que pressuponham as consequências para o cumprimento e não cumprimento; limites de aplicação crescente e consistente” – sublinhou, manifestando-se contra “os pais armados em colegas da brincadeira:
“Pais armados em colegas de infantário? Por favor! As crianças precisam é de PAIS, de pais com maiúsculas. Não cedamos ao facilitismo, ao ‘somos todos uns porreiraços. Cada um joga numa liga diferente”.
Para o fundador da APSI – Associação para a Promoção da Segurança Infantil, e do Espaço para a Saúde da Criança e do Adolescente, importa sabermos impor “a boa disciplina”, disciplina que, para ser “boa”, deve ser “imediata, lógica e coerente”:

“Os pais não devem ter medo de serem padrões, linhas orientadoras para os filhos. É preciso sermos modelos, não queiramos ser pais de plástico, robotizados e perfeitos. Os pais também erram” – lembrou Mário Cordeiro, apontando o dedo à ineficácia educativa que resulta da tendência de pretendermos educar os nossos filhos apenas pela vertente lúdica, esquecendo a imposição da necessária disciplina.
O Procurador Maia Neto, em intervenção de pendor bastante pedagógico, detalhou os pontos essenciais da Lei de Protecção (princípios, situações de perigo e comunicação destas, modalidades e ordem de intervenção, situações urgentes, acordo promoção e protecção), e da Lei Tutelar Educativa (finalidades, pressupostos, medidas tutelares educativas).

“Quando falha a prevenção, a promoção e a protecção dos direitos das crianças e dos jovens, a delinquência aumenta e a capacidade ou êxito da reinserção é menor” – alertou o magistrado, para quem “é preciso investir mais na prevenção”.
Para haver melhores crianças é necessário termos melhores pais. Desiderato que se poderia aplicar às intervenções do rico e variegado painel de oradores. Para não termos que ouvir mais – como ouviu e referiu Ana Perdigão – uma criança desabafar:”O meu pai gostava que eu fosse mais rápido no gatilho do que nos estudos”.
Manuel Domingos, da direcção da CNIS e um dos moderadores do seminário (tarefa em que foi acompanhado por Lúcia Mittermayer Saraiva), deixou, no final, um repto a todos os presentes:
“Oiçamos as crianças. Façamos com que elas sejam parte integrante do processo educativo”.

 

Data de introdução: 2006-10-07



















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