BRINQUEDOS ADAPTADOS

A oficina da Igualdade no direito à brincadeira

São brinquedos adaptados. São eles o Noddy, o peluche Winie the Pooth, o Homem-Aranha e outros tantos que, à primeira vista, parecem exactamente iguais aos homónimos que encontramos à venda em qualquer superfície comercial. Mas estes artefactos sofreram um processo de transformação, que os tornou acessíveis aos meninos que sofrem de deficiência. Carla Faria é pioneira na adaptação de brinquedos para crianças portadoras de deficiência, mantendo o conjunto de funcionalidades originais.

Carla nasceu há 41 anos em Luanda e veio para Portugal com onze. Vive em Vila Nova de Gaia, é casada e tem três filhos: Diogo, de quinze anos, Bruno, de dez, e Catarina, de sete. Actualmente desenvolve software educativo. O filho mais velho, Diogo, nasceu com paralisia cerebral e desde essa altura que ela e o marido, Pedro Faria, ambos analistas programadores de projectos informáticos, “têm necessidade de fazer as mais diversas adaptações”.

“É vulgar no Natal e nos aniversários oferecermos brinquedos às crianças, mas nestes casos, a grande maioria deles acaba por ficar na prateleira”, explica esta mãe. “Os brinquedos adaptados no fornecedor são, na generalidade, importados, são muito caros e desactualizados e só estão à venda nas lojas de especialidade”, explicita Carla Faria. O elevado custo que, em média, ultrapassa os 100 euros, dificulta muito a sua aquisição por parte das famílias com crianças com deficiência, sendo que esta iniciativa se torna fulcral para fazer sorrir esses meninos. Já no segundo ano consecutivo de existência, a “campanha” vive da boa vontade de todos, especialmente das superfícies comerciais que se lhe associam. Carla Faria confessa que “este ano tem sido mais difícil do que no ano passado, pois existe falta de patrocínio.

O Jumbo de Gaia é o principal apoiante desta causa e Carla faz questão de louvar o trabalho e o empenho do director da loja, como um exemplo a seguir. “O Rui Teixeira (director da loja do Jumbo/Gaia) tomou a seu cargo a responsabilidade de nos oferecer os brinquedos e disse-me para escolher os que quisesse. Quando comecei a olhar para os preços ia dizendo ‘esse não, porque é muito caro’, mas ele respondeu-me que se os vou abrir e adaptar têm que ser bons”, afirma Carla. A transformação do brinquedo é feita através de uma alteração do circuito eléctrico, que permite que este funcione através de um botão de pressão, mantendo as funcionalidades originais. Este pequeno mecanismo é constituído por uma caixa preta, vendida normalmente em lojas informáticas, um fio, uma tomada e uma peça "microswitch" portadora de uma pala que, quando pressionada, acciona as funções que o brinquedo normalmente executa. Esta adaptação é feita em brinquedos electrónicos que funcionam a pilhas, pelo que, à partida, qualquer brinquedo com estas características pode ser alterado. “O meu filho mostrou-me que, quando se pensa em soluções, estas têm de ser para todos e não só para alguns”, disse Carla Faria, mãe de Diogo. Depois de adaptados, passam a funcionar apenas com um simples toque (de mão, de pé e até mesmo de cabeça), tornando-se acessíveis a crianças com deficiência – sejam elas de ordem motora, cognitiva ou mental.

A sala da casa está transformada numa verdadeira oficina doméstica e o casal não tem mãos a medir para conseguir adaptar os brinquedos a tempo do Natal. Os brinquedos, depois de estarem prontos e devidamente embrulhados, são enviados para famílias de todo o país, incluindo as ilhas. “Nós damos os brinquedos, o material, o envio e o nosso tempo. Não sei se as pessoas têm noção do quanto é que isto move”, desabafa Carla. Este ano, puderam contar com a colaboração especial de uma turma de alunos da área de robótica e electrónica da Universidade do Minho, que começou a colaborar com o casal de uma forma voluntária e gratuita, para além de dois amigos que também abraçaram a causa. Em 2005, cerca de 100 crianças receberam um brinquedo adaptado e, este ano, Carla não só quer voltar a alcançar essa meta, como ir mais além. “Já conseguimos uma parceria com a TAP e vou a Luanda entregar brinquedos adaptados a meninos que precisam. Para Moçambique, também conseguimos, através de uma instituição, enviar para lá alguns brinquedos”, afirma satisfeita. O portal www.ajudas.com é a sala de visita de todo este trabalho do casal e tem uma estrutura informativa que dá aconselhamento e encaminhamento para soluções na área da reabilitação e quem precisa de um brinquedo adaptado pode fazer o seu pedido via online.

Carla acredita a boa vontade das pessoas, mesmo que individualmente, pode levar a concretizar um desejo “oferecer um brinquedo por semana em vez de ser só no Natal”, afirma confiante. Para já, esta mãe contenta-se com o sorriso do filho, quando consegue brincar com uma das mais recentes modas do divertimento infantil adaptado às suas necessidades e que espelha todos os sorrisos que ajuda a esboçar pelo segundo ano consecutivo.

 

Data de introdução: 2007-01-07



















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