Distúrbios mentais atingem 2,9 milhões de portugueses, revela Conselho Europeu de Doenças Cerebrais
A depressão leva muitas vezes ao suicídio, fenómeno que está a aumentar em Portugal – todos os anos põem termo à vida 1100 pessoas. Esta taxa resulta do elevado número de indivíduos com distúrbios mentais, que no nosso país é de um em cada três. Um problema de saúde pública que faz disparar, de ano para ano, o consumo de medicamentos.
Vítima de uma depressão, Erika Ortiz, irmã da princesa Letizia, morreu terça-feira possivelmente depois de ingerir uma dose excessiva de tranquilizantes. A morte da jovem de 31 anos, que deixou uma filha de seis anos, relança a questão do drama dos que sofrem de distúrbios mentais e para quem o suicídio surge como solução.
Este é um flagelo que cresce entre nós. São assustadores os últimos dados divulgados pelo Conselho Europeu das Doenças Cerebrais, que na observação de 28 países colocam Portugal em 12.º na lista da prevalência das doenças do foro psiquiátrico ou neurológico. São 2,9 milhões os portugueses com distúrbios mentais. As principais causas são: ansiedade, com 981 mil casos; enxaquecas, 894 mil; desordens afectivas, 528 mil; dependências, 196 mil.
Quanto aos custos das doenças, o estudo de 2005 indica que foram gastos 6,651 mil milhões de euros em cuidados hospitalares e ambulatórios, medicamentos, limitações na capacidade de trabalho, absentismo e reformas antecipadas, o que coloca o País em 13.º dos 28 países. A maior parte dos gastos resulta das baixas e das reformas antecipadas (2,523 mil milhões de euros) e cuidados com a saúde (2,230 mil milhões).
O aumento do número daqueles que precisam de apoio médico para combater os distúrbios mentais resulta num consumo excessivo de medicamentos, pelo que a Direcção-Geral de Saúde espera reduzir o consumo de antidepressivos em 20 por cento, até 2010.
O elevado número de pessoas vítimas de depressões e outras perturbações nervosas coincide com o agravar do número dos que cometem suicídio. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, em 2003 a taxa de suicídio por cem mil habitantes era de 11.1 no nosso País. Em 2000 a taxa era de 5.1.
Carlos Lopes Pires, professor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, explica que “a depressão fomenta no indivíduo a ideia de inútil”. “‘Não ando cá a fazer nada’ é muitas vezes a frase ouvida”, refere o psicólogo clínico, acrescentando que “o suicídio começa então a ser formulado como uma possibilidade”.
Entre as causas para a depressão, Carlos Lopes Pires sublinha “a existência de uma sociedade altamente competitiva que valoriza o sucesso a todo o custo e dá grande importância à aparência exterior”. A não satisfação do indivíduo consigo próprio abre caminho aos medicamentos. “São substâncias que criam a sensação de felicidade, que dão pica, mas criam dependências”, disse.
Fonte: Correio da Manhã
Leia a notícia na íntegra aqui
Data de introdução: 2007-02-11